quinta-feira, 4 de novembro de 2010

De olho no ENEM...Fique ligado! Redação para você!


O resgate dos mineiros no Chile : solidariedade e superação.


1-
coragem
(francês courage) s. f.
1. Firmeza de ânimo ante o perigo, os reveses, os sofrimentos.
2. Fig. Constância, perseverança (com que se prossegue no que é difícil de conseguir).

superar -
(latim supero, -are, estar acima, sobressair, dominar)v. tr.
1. Ser superior a; galgar.
2. Exceder.
3. Vencer; ultrapassar; subjugar.

superação
(superar + -ção) s. f.
Ato ou efeito de superar ou de se superar.

solidariedade s. f.
1. Qualidade do que é solidário.
2. Dependência mútua.
3. Reciprocidade de obrigações e interesses.
4. Direito de reclamar só para si o que se deve a todos.

2-
O sucesso do resgate de 33 mineiros no Chile, que ficaram presos na mina San José durante 69 dias – quando o último foi retirado, emocionou o mundo e deixou várias lições. Uma delas é a importância do trabalho de um líder, a fim de que o objetivo possa ser alcançado.
Há uma teoria de liderança situacional, que demonstra ser o líder ideal uma função do indivíduo, do grupo e da situação. No caso do líder Luis Urzúa (54 anos), que foi o último mineiro a ser resgatado, suas revelações para superar todos os obstáculos merecem reflexão: calma – autocontrole (uso da inteligência emocional), persistência, fé em Deus, meditação, trabalho em equipe... A decisão de Urzúa de ser o último a deixar a mina foi uma demonstração de grandeza e é digna de um líder.Há os que apenas comandam equipes, pessoas ou nações. Mas, há ainda, os que comandam e lideram baseados em princípios. Isto faz uma enorme diferença.

Os mineiros do Chile :transformaram um problema onde poderiam apontar muitos culpados, em um acontecimento que culminou em união nacional. Deixaram as diferenças de lado e colocaram o Ser Humano em primeiro lugar. Dedicaram tempo e dinheiro (estima-se US$ 22 milhões) em uma operação arriscada e inédita no mundo para salvar 33 vidas de operários desconhecidos, mas que tem importância fundamental no desenvolvimento e construção do país. É o que esta classe simboliza.

Não podemos esquecer que pouquíssimo tempo atrás o Chile passou também por um grande terremoto e ainda se recupera do mesmo. Este novo acontecimento, claro, foi explorado pelo Governo para motivar seu povo, mostrar que o país é capaz de vencer grandes obstáculos quando permanece unido, quando juntos seguem em prol de um objetivo.

Esta operação tem muito a nos ensinar. Traz lições que devemos estudar, refletir e aplicar, se julgarmos coerente, em diversas fases de nossas vidas pessoais e profissionais. As principais são: Juntos, trabalhando com a filosofia do “agregar” todos podemos mais; Paciência e planejamento são fundamentais para o sucesso. Não se pode correr ou afobar em momentos de crise, precisamos ir com calma, mas sempre; Lideranças (naturais ou definidas) são fundamentais; Pessoas tem o poder de motivar pessoas, e motivação é algo que faz todo mundo ir mais longe.

O grito de guerra que não era apenas uma comemoração de mais uma etapa concluída, é um grito de união, solidariedade, força, incentivo para os que chegam à superfície, para os que partem para a mina para auxiliar no resgate, e para os que aguardam, ansiosamente, o resgate dos demais. O Presidente Sebastián Piñera (líder definido) e o mineiro Luis Urzúa Iribarren (líder nato) tiveram papeis fundamentais para o sucesso do resgate. Cada qual manteve suas equipes unidas e concentradas, trabalhando para atingir o objetivo comum.

Esse caso nos ajuda a refletir sobre duas coisas: a superação humana e o o avanço tecnológico. Ninguém esperava que o ser humano fosse capaz de sobreviver 17 dias apenas com uma lata de atum para 33 pessoas. Ninguém esperava também, nem mesmo a própria equipe de resgate, que a perfuração do túnel que irá içar os mineiros duraria tão pouco tempo. As previsões iniciais mais otimistas eram novembro. Mas mais impressionante do que isso, é saber que a solidariedade é algo presente no instinto humano nos momentos mais complicados.

Os mineiros deixam para nós e para o mundo, uma imensa prova de superação, solidariedade e amor ao próximo.
Fontes : Veja, Istoé, Época

3-Quanto mais transversal for a leitura que uma pessoa fizer da realidade que a cerca, mais próxima estará de uma compreensão mais ampla desta realidade complexa . Mais eficiente serão suas decisões, porque terá contado com análise baseada na teia das forças dinâmicas da vida para analisá-la, em múltiplas direções a redor da sua própria existência.
Atitudes dependem da disposição de assumir que uma mudança começa sempre internamente, refletindo-se no ambiente ao redor e que tudo, enfim, é fruto da qualidade dos relacionamentos estabelecidos.
É urgente que um novo modelo mental, portanto, seja inaugurado caso queiramos atingir os objetivos traçados – seja em empresas,seja na sociedade, seja em nossa vida comum.É de Gandhi a célebre frase “seja a mudança que você quer ver no mundo”.
Portanto, é essencial que se faça uma leitura critica, sob um prisma diferenciado, do que foi o resgate no Chile. É importante salientar os valores humanos que estiveram em cena durante esse triste episódio que, felizmente, transformou-se em motivo de comemoração e orgulho.



Proposta :
crie um texto dissertativo sobre : O PODER QUE O HOMEM TEM DE VENCER AS ADVERSIDADES.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Redação:O aborto é uma questão de saúde pública.


O ABORTO : um problema de saúde pública, uma questão religiosa ou um direito individual da mulher?



Uma pesquisa à página da Câmara dos Deputados informa que há 17 Projetos de Lei que tramitam há vários anos na casa, com propostas de relaxamento ou endurecimento quanto à lei que trata do aborto.


13/10/ 2010 Datafolha


O apoio à proibição do aborto é o mais alto no Brasil desde 1993, quando o Datafolha começou a série histórica de perguntas sobre o tema. Segundo pesquisa realizada na última sexta-feira (08) em todo o país, 71% dos entrevistados afirmam que a legislação sobre o aborto deve ficar como está, contra 11% que defendem a ampliação das hipóteses em que a prática é permitida e 7% que apoiam a descriminalização.


Atualmente, o Código Penal brasileiro classifica o aborto entre os crimes contra a vida. A pena prevista para a mulher que o provocar ou permitir a prática em si mesma vai de um a três anos de detenção (artigo 124). O código prevê duas situações em que o aborto não é crime (artigo 128): se não há outro meio de salvar a vida da gestante e se a gravidez é resultado de estupro.


Segundo Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, a rejeição recorde ao aborto pode ser resultado da ampla exposição que o tema teve nas últimas semanas.


Viajando na história...


Fragmentos de documentos antigos nos revelam que a prática do aborto é tão antiga quanto a capacidade humana de decisão. Técnicas anticoncepcionais podem ser identificadas em papiros egípcios de 1850 a 155 a.C, em que se prescrevem combinações de ervas, mel, água e outros elementos, com o fim de se evitar a concepção. Algumas afirmações deixam entrever que ocorria o aborto quando os métodos falhavam.


Um dos antigos documentos escritos a que temos acesso é o códigode Hamurabi de 1700 a.C, que menciona o aborto como uma realidade e o tipifica como um crime contra os interesses do pai e marido e também como lesão contra a mulher (PRADO, 1985).


Na Grécia antiga as posições são variáveis. Platão (427-347 a.C), na sua obra“República”, recomendava o aborto a mulheres acima de 40 anos e também como meio de contenção populacional (PLATÃO, 2002).


Seguindo seu mestre Platão, Aristóteles (383-322 a.C) no escritos denominados “Ética a Nicômaco”, também admitia o aborto para fins de controle demográfico, desde que se respeitasse o período de animação. Para ele, há uma diferenciação entre “feto formado e não-formado”. Está relacionado com a recepção da alma, que acontecia entre os 40 dias após a concepção para o sexo masculino e 80 dias para o feminino(ARISTÓTELES). Depois da recepção da alma não se poderia mais abortar.


Em Esparta, por causa dos interesses bélicos, o aborto era proibido. Contudo, o Estado poderia eliminar os malformados (PRADO, 1985).


Na Roma antiga, com a conversão ao cristianismo do Imperador Constantino, no século IV, há uma incorporação dos valores cristãos em defesa da vida. Neste viés, o aborto passa a ser considerado crime grave.


A história do ocidente é fortemente marcada pelos valores cristãos que vão dar a tônica subsequente à recusa ao aborto em todas as nações cristãs


No Brasil, o Código Penal através do Artigo 128:


Contempla os dois casos em que não se pune o aborto praticado pelo médico:


I - Se não há outro meio de salvar a vida da gestante.


II - Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal .




A legislação específica do aborto não inclui como permissivas as interrupções de gravidezes de anencéfalos e anomalias fetais graves que não estejam colocando em risco a vida da mãe. Contudo, observa-se que tem aumentado o número de autorizações judiciais para que tais abortos aconteçam, não obstante a indefinição do Supremo Tribunal Federal quanto à questão.


As tentativas de descriminalização do aborto no Brasil nunca cessaram, desde os casos previstos no Código Penal de 1940. Quando recorremos à lista de Projetos de Lei e outras proposições quanto ao tema, encontramos mais de uma centena.


Apesar de o aborto ser legalmente aceito apenas em casos restritos no Brasil, cerca de 1 a 1,2 milhões de mulheres se submetem a este procedimento a cada ano, e 250.000 mulheres são atendidas em hospitais públicos em decorrência de complicações de aborto.


O que é aborto?
O “Dicionário de Termos Técnicos de Saúde” define aborto como a “Expulsão espontânea ou provocada do embrião ou feto de menos de 500 g de peso ou de até 20 semanas de idade gestacional, quando tem pouca ou nenhuma chance de sobrevivência fora do organismo materno. A expulsão do feto após essa idade gestacional é considerada internacionalmente como parto prematuro”. As notas definitórias aqui elencadas permitem balizar mais precisamente o que se considera aborto, fornecendo os seguintes elementos: inclui o embrião, fixa o tempo, restringindo a 20 semanas e ressalta que não tem condições de sobrevivência fora do útero materno.


Há no imaginário popular uma série de práticas e métodos, com o fim de se provocar a perda do embrião ou do feto. Destacam-se: introdução de sondas através do colo do útero, objetivando produzir contrações; injeção uterina de substâncias químicas como água sanitária e sabão; introdução de objetos em formato de bastão fino, como o talo da mamona e agulhas de tricô; instrumentos não apropriados com o intuito de se conseguir o efeito da curetagem; choques elétricos premeditados; bolsas de água quente; quedas e levantamento de pesos propositais (CESCA, 1996).


Os efeitos dessas práticas são os mais funestos, a saber: hemorragias, perfurações no útero, intoxicações, mutilações do colo e do útero, infecções graves e septicemia, entre tantos outros.


Aspectos éticos do aborto


Quando se discute o aspecto ético, moral e legal do aborto, quase sempre nos deparamos com argumentos repetitivos. Os favoráveis apelam para a autonomia da mulher que decide ou não levar a termo uma gravidez. Os contrários apelam para a dignidade da vida humana embrionária e fetal desde o início da vida.


Thomson (Apud PALMER, 2002) lança mão de três argumentos para fundamentar o direito ao aborto: no primeiro, afirma que a mulher tem direito à autodefesa, enquadrando o embrião e o feto indesejado, como um parasita que deve ser eliminado a todo custo. No segundo, ressalta o direito de posse do próprio corpo, permitindo à mulher o direito de usá-lo como quiser, o que inclui a possibilidade de não cedê-lo a alguém não desejado como o embrião e o feto. No terceiro, coloca o embrião e o feto como parte do corpo da mulher e não como unidade autônoma. Mantê-lo ou eliminá-lo, diz respeito somente à sua vontade. Justifica que ninguém está moralmente obrigado a fazer grandes sacrifícios.


Para Purdy e Tooley (Apud PALMER, 2002) os adversários do aborto são responsáveis por um prazer sexual menor ao criar a idéia de proibição do mesmo, além da culpa por falta de saúde física e mental da mulher, ao insistir que gravidezes indesejadas devem ser levadas a termo. Impõe, ainda, o ônus por mortes de mulheres que procuram o aborto clandestino, pelos maus-tratos de crianças, por crimes cometidos por indivíduos frustrados que deveriam ter sido abortados, pela perda da liberdade da população ao se sentir coibida por elementos rejeitados e não abortados.


Na fundamentação contrária, encontramos a reflexão da Igreja Católica que percorre duas vertentes: uma ética, gravitando em torno do valor da pessoa humana, cognominada Personalismo. Esta, funda-se na constatação de que o ser humano é pessoa, porque é o único ser no qual a vida torna-se capaz de uma reflexão sobre si mesma. É o único vivente que tem a capacidade de captar e descobrir o sentido das coisas e dar significado às suas expressões e à sua linguagem. É no corpo que se tem a consciência, que se encarna no tempo e no espaço, que se comunica, que manifesta sua individualidade.


Neste contexto de valorização da pessoa, no seu todo, a vida física ganha valor notável, porque valores como a liberdade e a consciência, entre outros,pressupõem a existência física da pessoa. Portanto, “o ser humano deve ser respeitado como pessoa, desde o primeiro instante da sua existência”

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Como será a prova de redação UNICAMP / 2011?

A prova de Redação, composta de três tarefas obrigatórias, leva em conta muito mais que o conhecimento da modalidade culta da língua. É um instrumento de avaliação da forma de escrever sobre um determinado assunto, e escrever implica processos de leitura e de elaboração de argumentos a partir de uma determinada situação. Cada proposta é acompanhada por instruções específicas que delineiam o propósito e o gênero do texto a ser elaborado com indicações dos interlocutores em jogo. Essas instruções devem ser rigorosamente seguidas. Cada proposta é acompanhada também de texto(s) para leitura que serve(m) de subsídio para sua elaboração.


Para que um texto se configure como bom, é preciso que o autor tenha uma experiência de leitura, que delineie um projeto de texto em função de um objetivo específico e o formule através da escrita. Nesse sentido, os parâmetros de avaliação de uma redação são as próprias condições de produção que lhe são fornecidas: o gênero e a interlocução que lhe é própria, o propósito (o tema, a motivação da escrita, as instruções que recortam esse tema de modo específico), a leitura, e a articulação escrita (modalidade/coesão).

Assim, o candidato, em relação:

1) à leitura: deve elaborar pontos de contato com a leitura do(s) texto(s) fornecido(s). Deve mostrar a relevância desses pontos para o seu projeto de texto e não simplesmente reproduzir o(s) texto(s) ou partes do(s) mesmo(s) em forma de colagem, sem elaboração dos elementos selecionados.

2) ao propósito: deve elaborar um texto que atenda ao propósito solicitado.

3) ao gênero e interlocução: deve elaborar seu projeto de texto de acordo com as características do gênero solicitado e dos interlocutores nele implicados.

4) à articulação escrita: deve elaborar um texto cuja leitura seja fluida e envolvente, resultante de uma estruturação sintático-semântica bem articulada pelos recursos coesivos. Deve, ainda, demonstrar o domínio de um conjunto lexical amplo e do padrão normativo das regras de acentuação, ortografia, concordância verbo-nominal, entre outras.



Os grifos são nossos.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Questões discursivas...um bom treino.



01.
Leia o seguinte texto:

Verão excessivo
Eu sei que uma andorinha não faz verão, filosofou a andorinha-de-barriga-branca.
Está certo, mas agora nós somos tantas, no beiral, que faz um calor terrível, e eu não agüento mais! (Carlos Drummond de Andrade – Contos plausíveis)

a) Com base na queixa da andorinha-de-barriga-branca, reformule o provérbio “Uma andorinha não faz verão”.

b) Está adequado o emprego do verbo “filosofou”, tendo em vista que ele se refere ao provérbio citado no texto? Justifique sucintamente sua resposta.

02
Leia o seguinte texto:
Os irmãos Villas Bôas não conseguiram criar, como queriam, outros parques indígenas em outras áreas. Mas o que criaram dura até hoje, neste país juncado de ruínas novas.

a) Identifique o recurso expressivo de natureza semântica presente na expressão “ruínas novas”.

b) Que prática brasileira é criticada no trecho “país juncado (=coberto) de ruínas novas”?

03
Costuma-se exaltar a cabeça como fonte da razão e denunciar o coração como sede da insensatez, como músculo incapaz de ter autocrítica e de ser original. Que seja assim. E daí? Nada pior do que uma idéia feita, mas nada melhor do que um sentimento usado. A cabeça pode gostar de novidade, mas o coração adora repetir o já provado. Se as idéias vivem da originalidade, os sentimentos gostam da redundância. Não é por acaso que o prazer procura repetição.
(Zuenir Ventura. Crônicas de fim de século)

.a) Substitua a expressão “Que seja assim” por outra de sentido equivalente, tendo em vista o contexto.

b) Explique por que o autor considera que tanto a novidade quanto a redundância podem ser desejáveis.


O gabarito?...virá daqui a alguns dias.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

De olho no ENEM : Proposta de redação


A mulher brasileira no século XXI

O Dia Internacional da Mulher, 8 de março, em 2010, completa 100 anos. Para marcar a data, no continente americano, o centenário foi dedicado a três líderes feministas haitianas que morreram no terremoto ocorrido recentemente no Haiti. No Brasil, a defesa integral do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH3) também mobiliza o movimento de mulheres para garantir os seis eixos considerados polêmicos, que inclui a questão da descriminalização do aborto.


Autonomia, liberdade e direitos iguais para as mulheres.

Educação - Ao longo da vida, as mulheres vivem várias situações de opressão e exploração. Na infância, a educação em casa e na escola é diferente para meninos e meninas. Para as meninas, ainda se exige "bom comportamento", obediência e a responsabilidade pelas tarefas domésticas.As mulheres com nível superior ganham, em média, 40% a menos que os homens com a mesma escolaridade (IBGE).

Trabalho - Apesar de as mulheres serem hoje a maioria nas universidades, elas ainda são também maioria entre as pessoas desempregadas e no trabalho informal, sem carteira assinada e sem direitos. Aquelas que conseguem emprego trabalham nas piores funções e com menores salários. As mulheres são minoria em todos os cargos de poder, nas chefias das empresas e no Congresso Nacional, apesar de constituírem mais da metade da população.

Lesbofobia - A orientação sexual afeta de forma decisiva a trajetória de vida das mulheres lésbicas. Dificuldades de relacionamento na escola, por chacotas de colegas e professores/as, muitas vezes resultam em abandono ou fracasso nos estudos. Também dificultam relações de vizinhança, além dos conflitos familiares. Nos processos de profissionalização e no ambiente de trabalho, os conflitos se tornam obstáculos para a construção de carreiras e para inserção no mundo do trabalho.

Violência - Onde há desigualdade e violência, não há democracia. Apesar de termos várias conquistas por meio de convenções e tratados internacionais, e na legislação de diversos países, em todo o mundo a violência contra as mulheres persiste. No Brasil, a cada 15 segundos uma mulher é vítima de violência. A maioria das mulheres assassinadas é morta pelo marido ou namorado, atual ou ex (OMS - Organização Mundial da Saúde).No Brasil, há pelo menos duas décadas o movimento de mulheres tem denunciado a violência doméstica como uma das mais graves expressões das desigualdades e da opressão vividas pelas mulheres na sociedade brasileira. No âmbito das relações afetivas, o ciúme ainda é usado para justificar intimidações (ora mais sutis, ora mais explícitas), além de agressões físicas e a violência sexual contra as mulheres

Racismo - Em nosso país, as relações sociais - histórica e culturalmente construídas - carregam uma forte marca patriarcal e racista, que se revela na violência sexual e na violência simbólica que atinge sobretudo as mulheres negras.Entre as categorias profissionais do país, a de trabalhador/a doméstico/a é exercida majoritariamente por mulheres negras. Mesmo após a Constituição de 1988, que ampliou direitos para as/os trabalhadoras/es no Brasil, ainda são negadas a essas trabalhadoras 27 direitos, garantidos a todas as outras categorias. A renda média das mulheres negras, em 2007, era de R$ 436,00; dos homens negros era de R$ 649,00; das mulheres brancas de R$ 797,00 e dos homens brancos de R$ 1.278,00 (IPEA-20070

ADITAL, Agência de Informação Frei Tito para América Latina,

No Brasil, mais mulheres são chefes de família

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) mostram que, nos últimos 10 anos, a participação feminina no mercado de trabalho no País subiu de 42% para 47,2%. E, entre elas, o número de mulheres chefes de família saltou de 25,9% para 34,9%.
Mas isso não significa que elas tenham se livrado das tarefas domésticas. Entre as que têm emprego, 87,9% cuidam dos afazeres do lar. O número médio de horas semanais dedicado a essas tarefas pelas mulheres é de 20 horas, enquanto para os homens, apenas nove horas.
.Dieese

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Apesar de ocuparem cada vez mais espaço nas fábricas, as mulheres ganham em média 27% menos do que os homens metalúrgicos, informa relatório produzido pela Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que, na média geral, as mulheres ganham 70% dos salários dos homens.
14/2/2010 / Jornal de Jundiaí.

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Entre os trabalhadores com nível superior no mercado de trabalho, 54% são mulheres. Há 65 anos, a mão-de-obra feminina correspondia a somente 19% da força de trabalho brasileira. Hoje, as mulheres ocupam cerca de 42% do mercado. No âmbito corporativo, cerca de 16% das empresas no Brasil são presididas por mulheres, o dobro do percentual registrado há dez anos. Elas já chefiam 25% das famílias, expandindo de maneira crescente sua participação no mercado de trabalho.

Esses são alguns dos números a comprovar que a mulher ocupa hoje um papel central na vida brasileira a dar um claro sinal de mudanças no mercado, nos valores culturais, nos padrões comportamentais, na comprovação definitiva de que a mulher passou a acreditar em seus potenciais criativos e intelectuais para galgar degraus em campos historicamente dominados por homens.

Urge, contudo, reconhecer que o preconceito resiste, muitas vezes velado, refletindo-se, por exemplo, na remuneração. Em geral, as mulheres ainda ganham menos que os homens mesmo que ocupam as mesmas funções. Cerca de 19% dos homens economicamente ativos e com mais de 15 anos de estudos ganham mais de 20 salários mínimos. Entre as mulheres em situação semelhante, esse número é de apenas 5%.

Os casos de violência doméstica - tendo a mulher como seu alvo principal - vêm de todas as partes , são extremamente corriqueiros e os números alarmantes. 11% das mulheres com mais de 15 anos admitiram ter sido vítimas de espancamento, ou seja, cerca de sete milhões de brasileiras foram agredidas pelo menos uma vez. Pior: os companheiros, familiares, parentes e pessoas próximas são os maiores agressores.

Relatório da Anistia Internacional revela que uma em cada três mulheres do planeta é espancada, abusada, estuprada, mutilada, escravizada ou morta por conta da violência doméstica. Vale dizer, mais de um bilhão de mulheres sofrem algum tipo de agressão física ou psicológica.

Continuam, também, sendo uma dura realidade os assédios sexual e moral , razão pela qual temos orientado as nossas ações e mobilizado as nossas energias para alterar essas realidades. Novas e importantes frentes de atuação se apresentam impondo novos sacrifícios, energias renovadas, coragem, determinação.

E, nessa trilha, a Ordem dos Advogados do Brasil, por suas diversas Seccionais, por suas Comissões de Mulheres Advogadas, têm liderado ações e iniciativas visando à promoção da condição feminina, promovendo cursos e discussões, onde as mulheres se preparam para atuar politicamente e mostrar seu talento no espaço do mercado. Neste Conselho Federal da OAB, a Comissão da Promoção da Igualdade tem contribuído sobremaneira para abrir os novos horizontes de lutas. A Comissão surgiu para atuar como bastião na defesa dos legítimos interesses de grupos alijados de seus plenos direitos constitucionais por preconceito e ignorância, estendendo, desta forma, os limites de sua ação institucional.

OAB_SP em 8 de março de 2010 / Excerto da homenagem à mulher prestada por Márcia Mellaré-Diretora da OAB

Proposta:
Enquanto a mídia exalta caras , bocas e corpos de 5% do contingente feminino, fazendo crer que mulheres são hedonistas,exibicionistas,fúteis e vazias, a verdade é que em pleno século XXI, mais de 70% delas são discriminadas e vítimas de preconceito.Muitas batalham , cotidianamente, para se imporem como profissionais competentes e seres humanos perseverantes e lutadores.
Como se pode considerar evoluído um país que se comporta assim? Campanhas tentam salvar a Mata Atlântica, o mico-leão dourado e reificam as mulheres?

Redija um texto de , aproximadamente, 25 linhas sobre o tema proposto .Prime pela língua culta. Dê título ao seu texto.

OBS IMPORTANTE :esse texto oferece dados preciosos para o desenvolvimento de uma outra proposta cujo tema é ‘ A nova constituição da família”.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Gabarito : Fuvest 2007-primeira fase


Desejo que você tenha realizado os exercícios e fique feliz com o resultado:



62-Em “Senti que ela fruía nisso um prazer silencioso e longo“, o contexto determina que o anafórico destacadorecupera o efeito das luzes do anúncio no braço da personagem feminina.

Resposta: c

63- Há evidente contraste entre a cor vermelha intensa do luminoso e a palidez e suavidade da pele da
personagem. Os trechos reproduzidos na alternativa e mantêm o confronto entre as cores vermelha e branca
e o valor subjetivo que o contexto lhes confere: “banhos intermitentes de sangue” e “havia luz”. Em outro
nível de análise, é possível avaliar também que a oposição entre “banho vermelho” e os trechos “luar”/”ela
era toda pálida e suave” remete, respectivamente, aos universos da cultura e da natureza.

Resposta: e

64- No discurso direto, a pergunta assumiria a seguinte forma: Você gostou do quadro? Isso porque, na citaçãoliteral, os tempos verbais são balizados em função do momento da fala da personagem citada. O que
aconteceu anteriormente a essa fala, portanto, apareceria no pretérito perfeito. Já o discurso indireto tem
balizado o momento da fala do narrador. Logo, o que aconteceu num passado mais próximo a essa fala
aparece no pretérito perfeito; uma ocorrência anterior, no pretérito mais-que-perfeito.

Resposta: c

65- Sem dúvida, o autor do texto mostra-se atento aos variados usos da língua em contextos diferentes.
Percebe-se claramente isso quando ele argumenta que os “mineiros da roça” fariam “troça” se, seguindo o
padrão formal, o enunciador deixasse de usar a forma popular “varreção” para adotar “varrição”, obedecendo ao dicionário. Já no trecho “Fi-lo sofrer”, Rubem Alves observa com rigor as normas da língua culta escrita,pois agora seu interlocutor é outro — um amigo oculto, letrado, identificado como “paladino da língua portuguesa”.

Resposta: d

66- O termo “paladino” remete ao indivíduo destemido, que sempre está pronto a defender os oprimidos e
a luta por causas justas. No texto de Rubem Alves, a palavra “paladino” é associada a um defensor da variante culta da língua portuguesa, que acredita dever defendê-la dos “erros” cometidos pelo autor.

Resposta: a

67 Rubem Alves emprega as metáforas “sopa” e “prato”, respectivamente, para fazer referência ao conteúdo e à forma daquilo que escreve ou diz. No contexto, menciona o fato de o “amigo oculto” ler o que ele escreve (conteúdo) e, sem comentar se o texto é “bonito ou feio”, fixar-se na questão gramatical (forma): sempre lhe indica que o “prato está rachado”, ou seja, aponta o “descuido com o vernáculo”, tendo como parâmetro de qualidade o que é “certo” ou “errado” de acordo com o dicionário.

Resposta: b

68- O primeiro período do texto constitui claramente a formulação de uma tese, apresentando um comentário com elementos abstratos (“sutilezas”, “fúteis”, “vãs”, “atenção”) e genéricos: os “homens” não são particularizados, representam a totalidade dos seres humanos — o que atesta tratar-se de um período dissertativo.De “Aprovo” até a palavra “arte”, temos uma narrativa, caracterizada tanto por elementos concretos (personagens,“grão de alpiste”, “agulha”) quanto pela progressão temporal entre os enunciados. O trecho tem,assim, clara função de ilustrar a tese.No último período do texto a tese é ratificada e expandida, deixando explícito o posicionamento do enunciador.

Resposta: a

69- A expressão “muito embora” tem claro valor concessivo. Esse valor só é veiculado pela expressão “se bem que”, da alternativa e. Com efeito, “desde que”, “contanto que” e “a não ser que” têm valor condicional, e a expressão “uma vez que” tem valor explicativo.

Resposta: e

70- O romance A cidade e as serras traz algumas propostas de modernização da vida social portuguesa.Com a costumeira ironia, Eça de Queirós ataca tanto o atraso luso quanto a tendência a seguir um modelo de desenvolvimento que traria mais frustração do que felicidade. No entanto, tais propostas não tocam nas questões relativas à propriedade, sugerindo, ao contrário, uma defesa da aristocracia da terra. Nesse sentido, a proposição é mais conservadora e reformista do que transformadora e revolucionária.

Resposta: c

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

"Crônica é tudo que o autor chama de crônica".

A palavra crônica deriva do Latim chronica, que significava, no início da era cristã, o relato de acontecimentos em ordem cronológica (a narração de histórias segundo a ordem em que se sucedem no tempo). Era, portanto, um breve registro de eventos.


A crônica é, primordialmente, um texto escrito para ser publicado no jornal. Este, como se sabe, é um veículo de informação diário e, portanto, veicula textos efêmeros. Um texto publicado no jornal de ontem dificilmente receberá atenção por parte dos leitores hoje.

O mesmo tende a acontecer com a crônica. O fato de ser publicada no jornal já lhe determina vida curta, pois à crônica de hoje seguem-se muitas outras nas próximas edições.

Há semelhanças entre a crônica e o texto exclusivamente informativo. Assim como o repórter, o cronista se alimenta dos acontecimentos diários, que constituem a base da crônica.

Entretanto, há elementos que distinguem um texto do outro. Após cercar-se desses acontecimentos diários, o cronista dá-lhes um toque próprio, incluindo em seu texto elementos como ficção, fantasia e criticismo, elementos que o texto essencialmente informativo não contém.

Com base nisso, pode-se dizer que a crônica situa-se entre o Jornalismo e a Literatura, e o cronista pode ser considerado o poeta dos acontecimentos do dia-a-dia.

A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista.

Ao desenvolver seu estilo e ao selecionar as palavras que utiliza em seu texto, o cronista está transmitindo ao leitor a sua visão de mundo. Ele está, na verdade, expondo a sua forma pessoal de compreender os acontecimentos que o cercam.

Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.

Sobre a crônica
por Ivan Angelo
Texto publicado na VEJA SP, de 25/04/2007.

Uma leitora se refere aos textos aqui publicados como "reportagens". Um leitor os chama de "artigos". Um estudante fala deles como "contos". Há os que dizem: "seus comentários".
Outros os chamam de "críticas". Para alguns, é "sua coluna".
Estão errados? Tecnicamente, sim – são crônicas –, mas... Fernando Sabino, vacilando diante do campo aberto, escreveu que "crônica é tudo que o autor chama de crônica".


A dificuldade é que a crônica não é um formato, como o soneto, e muitos duvidam que seja um gênero literário, como o conto, a poesia lírica ou as meditações à maneira de Pascal. Leitores, indiferentes ao nome da rosa, dão à crônica prestígio, permanência e força. Mas vem cá: é literatura ou é jornalismo? Se o objetivo do autor é fazer literatura e ele sabe fazer...

Há crônicas que são dissertações, como em Machado de Assis; outras são poemas em prosa, como em Paulo Mendes Campos; outras são pequenos contos, como em Nelson Rodrigues; ou casos, como os de Fernando Sabino; outras são evocações, como em Drummond e Rubem Braga; ou memórias e reflexões, como em tantos. A crônica tem a mobilidade de aparências e de discursos que a poesia tem – e facilidades que a melhor poesia não se permite.


Está em toda a imprensa brasileira, de 150 anos para cá. O professor Antonio Candido observa: "Até se poderia dizer que sob vários aspectos é um gênero brasileiro, pela naturalidade com que se aclimatou aqui e pela originalidade com que aqui se desenvolveu".
Alexandre Eulálio, um sábio, explicou essa origem estrangeira: "É nosso familiar essay, possui tradição de primeira ordem, cultivada desde o amanhecer do periodismo nacional pelos maiores poetas e prosistas da época". Veio, pois, de um tipo de texto comum na imprensa inglesa do século XIX, afável, pessoal, sem cerimônia e no entanto pertinente.


Por que deu certo no Brasil? Mistérios do leitor. Talvez por ser a obra curta e o clima, quente.

A crônica é frágil e íntima, uma relação pessoal. Como se fosse escrita para um leitor, como se só com ele o narrador pudesse se expor tanto. Conversam sobre o momento, cúmplices: nós vimos isto, não é leitor?, vivemos isto, não é?, sentimos isto, não é? O narrador da crônica procura sensibilidades irmãs.


Se é tão antiga e íntima, por que muitos leitores não aprenderam a chamá-la pelo nome? É que ela tem muitas máscaras. Recorro a Eça de Queirós, mestre do estilo antigo. Ela "não tem a voz grossa da política, nem a voz indolente do poeta, nem a voz doutoral do crítico; tem uma pequena voz serena, leve e clara, com que conta aos seus amigos tudo o que andou ouvindo, perguntando, esmiuçando".

A crônica mudou, tudo muda. Como a própria sociedade que ela observa com olhos atentos. Não é preciso comparar grandezas, botar Rubem Braga diante de Machado de Assis. É mais exato apreciá-la desdobrando-se no tempo, como fez Antonio Candido em "A vida ao rés-do-chão": "Creio que a fórmula moderna, na qual entram um fato miúdo e um toque humorístico, com o seu quantum satis de poesia, representa o amadurecimento e o encontro mais puro da crônica consigo mesma". Ainda ele: "Em lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas".
Elementos que não funcionam na crônica: grandiloqüência, sectarismo, enrolação, arrogância, prolixidade. Elementos que funcionam: humor, intimidade, lirismo, surpresa, estilo, elegância, solidariedade.


Cronista mesmo não "se acha". As crônicas de Rubem Braga foram vistas pelo sagaz professor Davi Arrigucci como "forma complexa e única de uma relação do Eu com o mundo". Muito bem. Mas Rubem Braga não se achava o tal. Respondeu assim a um jornalista que lhe havia perguntado o que é crônica:


– Se não é aguda, é crônica.

COMO COMECEI A ESCREVER
Carlos Drummond de Andrade.

Aí por volta de 1910 não havia rádio nem televisão, e o cinema chegava ao interior do Brasil uma vez por semana aos domingos. As notícias do mundo vinham pelo jornal, três dias depois de publicadas no Rio de Janeiro. Se chovia a potes, a mala do correio aparecia ensopada, uns sete dias mais tarde. Não dava para ler o papel transformado em mingau.


Papai era assinante da Gazeta de Notícias, e antes de aprender a ler eu me sentia fascinado pelas gravuras coloridas do suplemento de Domingo. Tentava decifrar o mistério das letras em redor das figuras, e mamãe me ajudava nisso. Quando fui para a escola pública, já tinha a noção vaga de um universo de palavras que era preciso conquistar.


Durante o curso, minhas professoras costumavam passar exercícios de redação. Cada um de nós tinha de escrever uma carta, narra um passeio, coisas assim. Criei gosto por esse dever, que me permitia aplicar para determinado fim o conhecimento que ia adquirindo do poder de expressão contido nos sinais reunidos em palavras.

Daí por diante as experiências foram se acumulando, sem que eu percebesse que estava descobrindo a leitura. Alguns elogios da professora me animavam a continuar. Ninguém falava em conto ou poesia, mas a semente dessas coisas estavam germinando. Meu irmão, estudante na Capital, mandava-me revistas e livros, e me habituei a viver entre eles. Depois, já rapaz, tive sorte de conhecer outros rapazes que também gostavam de ler e escrever.

Então começou uma fase muito boa de troca de experiências e impressões. Na mesa do café-sentado ( pois tomava-se café sentado nos bares, e podia-se conversar horas e horas sem incomodar nem ser incomodado ) eu tirava do bolso o que escrevera durante o dia, e meus colegas criticavam. Eles também sacavam seus escritos, e eu tomava parte nos comentários. Tudo com naturalidade e franqueza. Aprendi muito com os amigos, e tenho pena dos jovens de hoje que não desfrutam desse tipo de amizade crítica.

domingo, 3 de outubro de 2010

A FUVEST está chegando...Exercícios para você!


FUVEST 2007 –PRIMEIRA FASE


Texto para as questões de 62 a 64

O anúncio luminoso de um edifício em frente, acendendo e apagando, dava banhos intermitentes de sangue na pele de seu braço repousado, e de sua face. Ela estava sentada junto à janela e havia luar; e nos intervalos desse banho vermelho ela era toda pálida e suave.


Na roda havia um homem muito inteligente que falava muito; havia seu marido, todo bovino; um pintor louro e nervoso; uma senhora recentemente desquitada, e eu. Para que recensear a roda que falava de política e de pintura? Ela não dava atenção a ninguém. Quieta, às vezes sorrindo quando alguém lhe dirigia a palavra, ela apenas mirava o próprio braço, atenta à mudança da cor. Senti que ela fruía nisso um prazer silencioso e longo. “Muito!”, disse quando alguém lhe perguntou se gostara de um certo quadro — e disse mais algumas palavras; mas mudou um pouco a posição do braço e continuou a se mirar, interessada em si mesma, com um ar sonhador. (Rubem Braga, “A mulher que ia navegar”.)



62-O termo sublinhado no trecho “Senti que ela fruía nisso um prazer silencioso e longo” refere-se, no texto,

a) ao sorriso que ela dava quando lhe dirigiam a palavra.
b) ao prazer silencioso e longo que ela fruía ao sorrir.
c) à percepção do efeito das luzes do anúncio em seu braço.
d) à falta de atenção aos que se encontravam ali reunidos.
e) à alegria da roda de amigos que falavam de política e de pintura.

63-Entre os dois segmentos “nos intervalos desse banho vermelho” e “ela era toda pálida e suave”, expressa-se um contraste que também ocorre entre

a) “O anúncio luminoso de um edifício” e “banhos intermitentes de sangue”.
b) “acendendo e apagando” e “banhos intermitentes de sangue”.
c) “acendendo e apagando” e “um edifício em frente”.
d) “Ela estava sentada junto à janela” e “havia luar”.
e) “banhos intermitentes de sangue” e “havia luar”.

64- “‘Muito!’, disse quando alguém lhe perguntou se gostara de um certo quadro.”
Se a pergunta a que se refere o trecho fosse apresentada em discurso direto, a forma verbal correspondente a “gostara” seria

a) gostasse.                                                    d) gostará.
b) gostava.                                                     e) gostaria.
c) gostou.

Texto para as questões de 65 a 67

Sou feliz pelos amigos que tenho. Um deles muito sofre pelo meu descuido com o vernáculo. Por alguns anos ele sistematicamente me enviava missivas eruditas com precisas informações sobre as regras da gramática, que eu não respeitava, e sobre a grafia correta dos vocábulos, que eu ignorava. Fi-lo sofrer pelo uso errado que fiz de uma palavra no último “Quarto de Badulaques”. Acontece que eu, acostumado a conversar com a gente das Minas Gerais, falei em “varreção” — do verbo “varrer”. De fato, tratava-se de um equívoco que, num vestibular, poderia me valer uma reprovação. Pois o meu amigo, paladino da língua portuguesa, se deu ao trabalho de fazer um xerox da página 827 do dicionário (...). O certo é “varrição”, e não “varreção”. Mas estou com medo de que os mineiros da roça façam troça de mim, porque nunca os ouvi falar de “varrição”. E se eles rirem de mim não vai me adiantar mostrar-lhes o xerox da página do dicionário (...). Porque para eles não é o dicionário que faz a língua. É o povo. E o povo, lá nas montanhas de Minas Gerais, fala “varreção”, quando não “barreção”. O que me deixa triste sobre esse amigo oculto é que nunca tenha dito nada sobre o que eu escrevo, se é bonito ou se é feio. Toma a minha sopa, não diz nada sobre ela, mas reclama sempre que o prato está rachado.
 (Rubem Alves http://rubemalves.uol.com.br/quartodebadulaques)

65-Ao manifestar-se quanto ao que seja “correto” ou “incorreto” no uso da língua portuguesa, o autor revela sua preocupação em

a) atender ao padrão culto, em “fi-lo”, e ao registro informal, em “varrição”.
b) corrigir formas condenáveis, como no caso de “barreção”, em vez de “varreção”.
c) valer-se o tempo todo de um registro informal, de que é exemplo a expressão “missivas eruditas”.
d) ponderar sobre a validade de diferentes usos da língua, em diferentes contextos.
e) negar que costume cometer deslizes quanto à grafia dos vocábulos.

66-O amigo é chamado de “paladino da língua portuguesa” porque

a) costuma escrever cartas em que aponta incorreções gramaticais do autor.
b) sofre com os constantes descuidos dos leitores de “Quarto de Badulaques”.
c) julga igualmente válidas todas as variedades da língua portuguesa.
d) comenta criteriosamente os conteúdos dos textos que o autor publica.
e) é tolerante com os equívocos que poderiam causar reprovação no vestibular.

67- “Toma a minha sopa, não diz nada sobre ela, mas reclama sempre que o prato está rachado.”
Considerada no contexto, essa frase indica, em sentido figurado, que, para o autor,

a) a forma e o conteúdo são indissociáveis em qualquer mensagem.
b) a forma é um acessório do conteúdo, que é o essencial.
c) o conteúdo prescinde de qualquer forma para se apresentar.
d) a forma perfeita é condição indispensável para o sentido exato do conteúdo.
e) o conteúdo é impreciso, se a forma apresenta alguma imperfeição.

Texto para as questões 68 e 69 -
Das vãs sutilezas

Os homens recorrem por vezes a sutilezas fúteis e vãs para atrair nossa atenção. (...) Aprovo a atitude daquele personagem a quem apresentaram um homem que com tamanha habilidade atirava um grão de alpiste que o fazia passar pelo buraco de uma agulha sem jamais errar o golpe. Tendo pedido ao outro que lhe desse uma recompensa por essa habilidade excepcional, atendeu o solicitado, de maneira prazenteira e justa a meu ver, mandando entregar-lhe três medidas de alpiste a fim de que pudesse continuar a exercer tão nobre arte. É prova irrefutável da fraqueza de nosso julgamento apaixonarmo-nos pelas coisas só porque são raras e inéditas, ou ainda porque apresentam alguma dificuldade, muito embora não sejam nem boas nem úteis em si. (


68-O texto revela, em seu desenvolvimento, a seguinte estrutura:

a) formulação de uma tese; ilustração dessa tese por meio de uma narrativa; reiteração e expansão da tese inicial.
b) formulação de uma tese; refutação dessa tese por meio de uma narrativa; formulação de uma nova tese, inspirada pela narrativa.
c) desenvolvimento de uma narrativa; formulação de tese inspirada nos fatos dessa narrativa; demonstração dessa tese.
d) segmento narrativo introdutório; desenvolvimento da narrativa; formulação de uma hipótese inspirada nos fatos narrados.
e) segmento dissertativo introdutório; desenvolvimento de uma descrição; rejeição da tese introdutória.

69-A expressão sublinhada no trecho “...ou ainda porque apresentam alguma dificuldade, muito embora não sejam nem boas nem úteis em si” pode ser substituída, sem prejuízo para o sentido, por

a) desde que.                                                d) a não ser que.
b) contanto que.                                            e) se bem que.
c) uma vez que.

Texto para as questões 70 e 71

Já a tarde caía quando recolhemos muito lentamente. E toda essa adorável paz do céu, realmente celestial, e dos campos, onde cada folhinha conservava uma quietação contemplativa, na luz docemente desmaiada, pousando sobre as coisas com um liso e leve afago, penetrava tão profundamente Jacinto, que eu o senti, no silêncio em que caíramos, suspirar de puro alívio.Depois, muito gravemente:


— Tu dizes que na Natureza não há pensamento...


— Outra vez! Olha que maçada! Eu...


— Mas é por estar nela suprimido o pensamento que lhe está poupado o sofrimento! Nós, desgraçados, não podemos suprimir o pensamento, mas certamente o podemos disciplinar e impedir que ele se estonteie e se esfalfe, como na fornalha das cidades, ideando gozos que nunca se realizam, aspirando a certezas que nunca se atingem!... E é o que aconselham estas colinas e estas árvores à nossa alma, que vela e se agita — que viva na paz de um sonho vago e nada apeteça, nada tema, contra nada se insurja, e deixe o mundo rolar, não esperando dele senão um rumor de harmonia, que a embale e lhe favoreça o dormir dentro da mão de Deus. Hem, não te parece, Zé Fernandes?


— Talvez. Mas é necessário então viver num mosteiro, com o temperamento de S. Bruno, ou ter cento e quarenta contos de renda e o desplante de certos Jacintos… (Eça de Queirós, A cidade e as serras.)

70-Considerado no contexto de A cidade e as serras, o diálogo presente no excerto revela que, nesse romance de Eça de Queirós, o elogio da natureza e da vida rural

a) indica que o escritor, em sua última fase, abandonara o Realismo em favor do Naturalismo, privilegiando, de certo modo, a observação da natureza em detrimento da crítica social.
b) demonstra que a consciência ecológica do escritor já era desenvolvida o bastante para fazê-lo rejeitar, ao longo de toda a narrativa, as intervenções humanas no meio natural.
c) guarda aspectos conservadores, predominantemente voltados para a estabilidade social, embora o escritor mantenha, em certa medida, a prática da ironia que o caracteriza.
d) serve de pretexto para que o escritor critique, sob certos aspectos, os efeitos da revolução industrial e da urbanização acelerada que se haviam processado em Portugal nos primeiros anos do Século XIX.
e) veicula uma sátira radical da religião, embora o escritor simule conservar, até certo ponto, a veneração pela Igreja Católica que manifestara em seus primeiros romances.



GABARITO??... VAI DEMORAR UM POUQUINHO!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Vamos criar um artigo de opinião?



O artigo de opinião é um gênero jornalístico argumentativo escrito, publicado em jornais,revistas e internet, e sempre assinado. A assinatura identifica o autor, o responsável pela opinião.


A produção de um artigo de opinião pressupõe a existência de uma situação social de comunicação na qual estão envolvidos pelo menos um jornal ou uma revista, seu editor, um articulista por este convidado e leitores interessados em conhecer a opinião do referido articulista sobre determinados assuntos.

Os articulistas são em geral pessoas que não fazem parte do quadro de funcionários do jornal, mas especialistas no assunto que está sendo discutido, ou homens públicos que são convidados para escrever a sua opinião, não necessariamente a mesma do jornal. Eles representam áreas de atuação,como, por exemplo, a médica, a jurídica, a política, a sindical e outras, das quais são porta-vozes.

São homens reconhecidos por sua competência social ou profissional e, por isso mesmo, grandes formadores de opinião. São exemplos de articulistas Antônio Ermírio de Moraes, que representa parte do empresariado; José Sarney, uma certa posição política; e Ives Gandra da Silva Martins,advogado tributarista, porta-voz de parte do meio jurídico.

Esse reconhecimento é confirmado pelo jornal, que vê os articulistas como formadores de opinião e abre um espaço para que mostrem sua posição sobre um assunto, e pelo leitor, que os identifica como autoridades no tema tratado.

Como o artigo de opinião não é a divulgação de um fato, mas uma resposta ao que já se disse sobre ele, os articulistas tomam aquilo que já foi dito como objeto de crítica, de questionamento ou de concordância. Eles emitem seu ponto de vista e incorporam ao seu discurso a fala das outras pessoas que já se pronunciaram a respeito do tema, valorizando-a ou desqualificando-a. Dessa maneira, é como se eles se movimentassem em seus textos, ora se aproximando do que alguém já disse sobre o assunto e acolhendo-o, ora se afastando da opinião dos outros e contestando-a. No artigo, portanto, estão presentes diferentes vozes.

Todo esse movimento é feito tendo em vista o leitor, porque é para convencê-lo ou persuadi-lo que os articulistas escrevem. Para tanto, procuram engajá-lo na posição de aliado, antecipar suas possíveis objeções e levá-las em conta, incluindo-as em seu texto. Buscam também, na posição de articulistas que representam setores sociais, colocar seu ponto de vista como sendo “a verdade”.

O tom é o da persuasão.

O artigo de opinião é marcado por essa situação de produção, revelada, entre outras coisas, por marcas linguísticas que anunciam a posição dos articulistas (por exemplo, “penso que”, “do nosso ponto de vista”), introduzem os argumentos (“porque”, “pois”), trazem para o texto diferentes vozes (“alguns dizem que”, “as pesquisas apontam”, “os economistas argumentam que”), introduzem a conclusão (“portanto”, “logo”).

Resumindo:

Artigo de Opinião

Quem escreve: Um articulista que é autoridade em um assunto e é convidado por um jornal para dar sua opinião sobre algo polêmico que foi noticiado pelo jornal.

Para quem escreve: Para leitores interessados em saber sua opinião sobre a questão que causou polêmica.

Por que escreve: Para convencer seus leitores de que sua posição é a mais correta, argumentando sobre ela.

Onde circula o texto, habitualmente: Em jornais impressos ou virtuais e em revistas.

O que não pode faltar: A questão polêmica, as vozes que debatem a questão, a posição que o autor toma diante da polêmica, os argumentos que utiliza, a conclusão que fecha seu artigo.



Modelo de artigo de opinião.

FERNANDA TORRES

Eleições: o dom de iludir

O candidato é um ator em eterno teste; uma condição vexatória e desconfortável.

O que leva alguém a se candidatar à Presidência? A ser tão bisbilhotado, ofendido, pesquisado e aviltado? Que papel grandioso é esse cujo ensaio, estreia e temporada custam o fígado do próprio intérprete?

A política é um palco letal, o Coliseu romano da atualidade. Um lugar de ódios milenares, mágoas irreparáveis, conciliações imperdoáveis e, também, do temível ridículo. Eu seria incapaz de atuar sob tamanha pressão.

Não se trata apenas de dar conta de Rei Lear: tem que voar no jatinho, fazer a carreata, comer dobradinha, andar de mula e enfrentar a tempestade do Crato ao Pampa gritando “Uiva vento!” pelos palanques.

Tem que ter sangue de barata, paciência de Jó, cara de pau e vontade de elefante.

Outro dia me mandaram um link na internet onde a Dilma Rousseff se embananava toda para responder a uma simples questão: “Que livro a senhora está lendo?”

Qualquer um que cultive o prazer de ler sabe que um ser humano que está em plena campanha presidencial não tem cabeça nem tempo para se dedicar à leitura.

Talvez a “Arte da Guerra”, de Sun Tzu, entre um programa do Ratinho e outro, seja o único exemplar que resista ao tranco, por seu conteúdo bélico de autoajuda milenar.

Mas admitir que não está lendo porcaria nenhuma é encarar as manchetes do dia seguinte afirmando que fulano, ou fulana de tal, é um energúmeno, um(a) ignorante não afeito às letras.

Por isso Dilma se contorce, tentando se lembrar do último livro que leu, o que só consegue com a ajuda dos assessores. A duras penas acerta o título e a mais duras ainda arrisca um resumo dele. A pergunta corriqueira, quem diria, a colocou em um mato sem cachorro.

Se a tivessem arguído a respeito da política de juros, da dívida pública ou até mesmo de um espinhoso tema como o aborto, ela estaria apta a responder. Bastou uma perguntinha pessoal para que Dilma se afastasse brechtianamente da ciranda da candidata e caísse em si mesma, perdendo o fio do personagem.

O candidato é um ator em eterno teste. Uma condição vexatória e terrivelmente desconfortável.

José Serra escolheu o perfil do conciliador boa-praça, se manteve bem no personagem até que perdeu a paciência na rádio CBN diante da prensa de Míriam Leitão. Míriam, aliás, tem sido dos ossos mais duros de roer para os que estão na corrida presidencial.

Serra soltou um desabafo irritado a respeito do que pensava da relação entre a Presidência e o Banco Central. Depois, teve que remar forte para recuperar a imagem que passou semanas construindo, justificando de forma sincera que o horário matutino lhe havia puxado o tapete.

Qualquer razão idiota, como pular da cama cedo, pode colocar tudo a perder; da mesma forma que um celular que toca no meio de um espetáculo pode fazer Macbeth desencarnar de vez da alma de um ator.

A verdade e a franqueza são armas de destruição em massa na política, é necessário saber ocultá-las com desenvoltura e, muitíssimas vezes, mentir com convicção.

Marina Silva não titubeia, ela é a terceira via, pode dizer o que pensa. Apesar de ter sido ministra, ela não passa pelo comprometimento político dos dois outros adversários, pertencentes a partidos que já ocuparam o Planalto e fizeram alianças muitas vezes incompreensíveis para poder governar.

Marina está dentro e fora do jogo, uma posição importante e confortável.

Glorinha Beautmüller, fonoaudióloga e preparadora vocal de inúmeros atores e políticos, é uma figura lendária, dona de intuição aguçada, métodos nada ortodoxos e técnica que visa ancorar a palavra ao corpo e aos sentidos do palestrante.

Profissional ímpar, ela já botou de quatro modelos com ambições a atriz, para que perdessem a pose enquanto recitavam um texto, e aconselhou com veemência que Cláudia Jimenez falasse pela vagina na sua estreia no teatro profissional como uma das prostitutas de “A Ópera do Malandro”. Ao que Claudia, com seu talento e humor de sempre, respondeu, aplicada: “Eu estou tentando, Glorinha, estou tentando!”

Uma vez, a maga foi chamada às pressas a Brasília para atender um político repentinamente afônico e necessitado de discursar. Segura, não pestanejou no diagnóstico: “Meu filho, você está rouco desse jeito porque você mente demais!”

Hoje, o político ideal deve reunir o carisma de Sílvio Santos, a classe de Paulo Autran, a astúcia de Alexandre, o Grande, a retórica de Ruy Barbosa, o empreendedorismo de Antônio Ermírio, a responsabilidade do doutor Paulo Niemeyer, o desapego de Buda, a razão de Confúcio, a bondade de Cristo e ainda sair vivo da arena quando soltarem os leões famintos atrás da sua carne. Essa pessoa não existe. O político, portanto, tem que ter o dom de iludir.

Folha de S.Paulo / 29/05/2010
Proposta :

Selecione em um jornal – atualizado- um assunto/ fato em pauta nos editoriais e escreva um artigo de opinião sobre o tema escolhido.


OBS IMPORTANTE : Lembre-se de que o corretor não adivinha o que você quer dizer, assim como você não terá espaço ilimitado : seja claro e sucinto.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A CARTA ARGUMENTATIVA

Antes de iniciar uma carta, é preciso colocar local de origem e data, observando a margem esquerda do papel. Exemplo:

S. Paulo, 29 de setembro de 2010.


Início: identifica o interlocutor. A forma de tratá-lo vai depender do grau de intimidade existente. A língua portuguesa dispõe dos pronomes de tratamento para estabelecer esse tipo de relação entre interlocutores.

O essencial é mostrar respeito pelo interlocutor, seja ele quem for. Na falta de um pronome ou expressão específica para dirigir-se a ele, recorra ao tradicional "senhor" "senhora" ou Vossa Senhoria. O texto dissertativo é dirigido a um interlocutor genérico, universal. A proposta de carta argumentativa pressupõe um interlocutor específico para quem a argumentação deverá estar orientada. Essa diferença de interlocutores deve necessariamente levar a uma organização argumentativa diferente, nos dois casos. Até porque, na carta argumentativa, a intenção é freqüentemente a de persuadir um interlocutor específico (convencê-lo do ponto de vista defendido por quem escreve a carta ou demovê-lo do ponto de vista por ele defendido e que o autor da carta considera equivocado).

O primeiro parágrafo deve expor o assunto sobre o qual se vai discutir.Nos demais desenvolve-se a proposta.

Mas que fique bem claro: no cumprimento da proposta em que é exigida uma carta argumentativa, não basta dar ao texto a organização de uma carta, mesmo que a interlocução seja natural e coerentemente mantida; é necessário argumentar.

Deve-se ainda manter a interlocução no decorrer do texto, o uso do vocativo identifica a correspondência, seja ela formal ou informal.

As pessoas do discurso selecionadas devem ser mantidas em toda a carta, se utilizarmos você não poderemos usar tua, te, vossa, etc.


PRONOMES DE TRATAMENTO



1. AUTORIDADES DE ESTADO

Civis

Pronome de tratamento /Abreviatura   /Usado para

Vossa Excelência  /  V. Exª . / Presidente da República, Senadores da República, Ministro de Estado, Governadores, Deputados Federais e Estaduais, Prefeitos, Embaixadores, Vereadores, Cônsules, Chefes das Casas Civis e Casas Militares

Vossa Magnificência / V. M.  / Reitores de Universidade

Vossa Senhoria / V. S.ª  / Diretores de Autarquias Federais, Estaduais e Municipais


Judiciárias

Pronome de tratamento  / Abreviatura  /Usado para

Vossa Excelência  / V. Exª. /  Desembargador da Justiça, curador, promotor

Meritíssimo Juiz  /M. Juiz  / Juízes de Direito



Militares

Vossa Excelência  / V. Exª. /  Oficiais generais (até coronéis)

Vossa Senhoria  /V.Sª. / Outras patentes militares


2. AUTORIDADES ECLESIÁSTICAS

Pronome de tratamento /  Abreviatura  / Usado para

Vossa Santidade  / V. S.  /  Papa

Vossa Eminência Reverendíssima  /V. Emª Revmª / Cardeais, arcebispos e bispos

Vossa Reverendíssima  / V. Revmª  /superiores de conventos, outras autoridades eclesiásticas e sacerdotes em geral


3. AUTORIDADES MONÁRQUICAS

Pronome de tratamento  / Abreviatura  /Usado para

Vossa Majestade  / V. M. /  Reis e Imperadores

Vossa Alteza  / V. A. / Príncipes


4. OUTROS TÍTULOS

Pronome de tratamento  / Abreviatura  / Usado para

Vossa Senhoria  / V. S.ª  /Dom

Doutor  / Dr./  médicos e advogados.

Comendador  / Com. /  Comendador

Professor  / Prof. /  Professores.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A RESENHA.

A resenha é um texto que- em forma de síntese - expressa a opinião do autor sobre um determinado fato cultural, que pode ser um livro, um filme, peças teatrais, exposições, shows etc.

Como síntese, a resenha deve ir direto ao ponto, criando momentos de descrição com os de crítica direta. O resenhista que conseguir equilibrar perfeitamente esses dois pontos terá escrito a resenha ideal.

No entanto, é um gênero necessariamente breve, passível ao erro de ser superficial. O texto precisa mostrar ao leitor as principais características do fato cultural, sejam elas boas ou ruins, utilizando argumentos sólidos e nunca usar expressões como “Eu gostei” ou “Eu não gostei”.

Resenha acadêmica: apresenta moldes bastante rígidos, responsáveis pela padronização dos textos científicos.
Na resenha acadêmica crítica, os oito passos a seguir formam um guia ideal para uma produção completa:

1.Identifique a obra: coloque os dados bibliográficos essenciais do livro ou artigo que você vai resenhar;
2.Apresente a obra: situe o leitor descrevendo em poucas linhas todo o conteúdo do texto a ser resenhado;
3.Descreva a estrutura: fale sobre a divisão em capítulos, em seções, sobre o foco narrativo ou até, de forma sutil, o número de páginas do texto completo;
4.Descreva o conteúdo: Aqui sim, utilize 3 parágrafos para resumir claramente o texto resenhado;
5.Analise de forma crítica: Aqui entra sua opinião. Argumente, baseando-se em teorias de outros autores, fazendo comparações e sendo crítico.
6.Recomende a obra
: Fale sobre a utilidade da obra para um determinado público-alvo.. Utilize elementos sociais ou pedagógicos, baseie-se na idade, na escolaridade, na renda etc.
7.Identifique o autor: Fale brevemente da vida e de algumas outras obras do escritor ou pesquisador.
8.Assine e identifique-se: No último parágrafo você escreve seu nome e fala algo como “Acadêmico do Curso de Letras da Universidade de Caxias do Sul (UCS)”

( OBS IMPORTANTE : o nome- item 8 - deverá ser fictício, visto que você não poderá identificar seu texto sob pena de ter a prova anulada)

Resenha de obra é o tipo de resenha mais solicitado nas escolas e universidades. Sua estrutura é basicamente um resumo sobre o conteúdo a ser resenhado, seguido da opinião do autor da resenha.

Sobre o conto A Causa Secreta, de Machado de Assis.
Modelo de resenha de obra

ASSIS, Machado de. A causa secreta. In: Machado de Assis - obra completa v.II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.

Este é um conto que aborda um tema oculto da alma de todo ser humano: a crueldade. Machado de Assis cria um cenário onde o recém formado médico Garcia conhece o espirituoso Fortunato, dono de uma misteriosa compaixão pelos doentes e feridos, apesar de ser muito frio, até mesmo com sua própria esposa.

Através de uma linguagem bastante acessível, que não encontramos em muitas obras de Assis, o texto mescla momentos de narração - que é feita em terceira pessoa – com momentos de diálogos diretos, que dão maior realidade à história.
Uma característica marcante é a tensão permanente que ambienta cada episódio.

Desde as primeiras vezes em que Garcia vê Fortunato - na Santa Casa, no teatro e quando o segue na volta para casa, no mesmo dia - percebemos o ar de mistério que o envolve.Da mesma forma, quando ambos se conhecem devido ao caso do ferido que Fortunato ajuda, a simpatia que Garcia adquire é exatamente por causa de seu estranho comportamento, velando por dias um pobre coitado que sequer conhece.
A história transcorre com Garcia e Fortunato tornando-se amigos, a apresentação de Maria Luiza, esposa de Fortunato e ainda com a abertura de uma casa de saúde em sociedade. O clímax então acontece quando Maria Luiza e Garcia flagram Fortunato torturando um pequeno rato, cortando-lhe pata por pata com uma tesoura e levando-lhe ao fogo, sem deixar que morresse.

É assim que percebe-se a causa secreta dos atos daquele homem: o
sofrimento alheio lhe é prazeiroso. Isso ocorre ainda quando sua esposa morre por uma doença aguda e quando vê Garcia beijando o cadáver daquela que amava secretamente.Fortunato aprecia até mesmo seu próprio sofrimento.

É possível afirmar que este conto é um expoente máximo da técnica de Machado de Assis, deixando o leitor impressionado com um desfecho inesperado, mas que demonstra – de forma exponencial, é verdade - a natureza cruel do ser humano. É uma obra excelente para os que gostam dos textos de Assis, mas acham cansativa a linguagem rebuscada usada em alguns deles.

Joaquim Maria Machado de Assis é considerado um dos maiores escritores brasileiros
Retirado do endereço

http://www.lendo.org/a-causa-secreta/Modelo de resenha de obra


Modelo de resenha de filme :

Avatar. Direção: James Cameron. EUA/Inglaterra. Fox Filmes do Brasil, 2009, 166 min. Elenco: Sam Worthington, Zoë Saldaña, Sigourney Weaver.

James Cameron, diretor do ‘blockbuster’ Titanic, tece nas telas uma história arrebatadora, vibrante e muito atual. Quando em todo o Planeta a maior preocupação do Homem é a destruição crescente do meio ambiente, somada à distância cada vez maior da humanidade em relação às forças da Natureza, Avatar conquista um espaço fundamental no imaginário humano e também uma invejável coleção de indicações ao Oscar 2010.
Nesta requintada produção, que em termos de bilheteria já ultrapassou o ex-campeão Titanic, o diretor retrata a tentativa desesperada de dominar Pandora, um dos satélites do Planeta Polifemo – curioso perceber a escolha dos nomes destas esferas cósmicas, não por acaso originários da ancestral mitologia grega -, com o objetivo de extrair de seu solo os recursos naturais esgotados na Terra.

Próspera companhia multinacional, a RDA financia a permanência de equipes militares e de cientistas nesta esfera alienígena, de olho justamente nestas riquezas minerais, as quais detêm o potencial de gerar lucros colossais. Sob o comando do Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang, vivendo um vilão perfeito), fuzileiros navais se convertem em mercenários, lutando contra os humanóides que aí habitam, as tribos Na’vi.
Enquanto os humanos ambicionam o tesouro escondido nas florestas, os nativos se esforçam para manter a integridade de seu território, principalmente dos recantos sagrados, e a própria existência. Neste jogo estratégico, o ex-fuzileiro naval Jake Sully, representado por Sam Worthington, é uma peça fundamental.

A tecnologia 3D, utilizada por James Cameron na elaboração deste filme, que também foi produzido em 2D, permite que não só o protagonista tenha a oportunidade de, gradualmente, descobrir os encantos e o verdadeiro significado do território na’vi, mas também o público, que é levado para dentro do cenário desta película, e tem assim a chance de aprender a ver o interior da floresta, e compreender, desta forma, o sentido real que os nativos atribuem a este local sagrado.
Cameron preocupou-se com os mínimos detalhes da produção, construindo uma outra dimensão, um outro olhar, com o auxílio de câmeras confeccionadas especialmente para a realização desta obra, o que garante o verdadeiro espetáculo visual que compõe Avatar. Mas ele não se empenha apenas nestes aspectos tecnológicos. O diretor vai mais longe, e cria uma linguagem e uma cultura próprias dos humanóides.

Não é difícil, portanto, se deixar envolver pela magia deste filme, por seus encantos visíveis e invisíveis. Não é por acaso que ele ganhou o Globo de Ouro como melhor filme dramático e melhor diretor, e que está concorrendo em nove categorias no Oscar 2010. E não é só pela novidade da versão em 3D, pois os méritos do roteiro são incontáveis, e sua mensagem é certamente inquestionável e, mais que nunca, imprescindível.
De Ana Lúcia Santana para InfoEscola.


Propostas :
1- Escreva uma resenha sobre a obra “ D. Casmurro”.
2- Escreva uma resenha sobre um filme ao qual você assistiu e sente-se apto a criticar.
3- Escreva uma resenha sobre um livro didático ( disciplina á sua escolha).

IMPORTANTE : lembre-se de que você não tem espaço ilimitado .Exercite seu poder de síntese sem perder o foco, a clareza,a objetividade,a coerência e a coesão.

domingo, 19 de setembro de 2010

De olho no ENEM...Fique ligado!

                       

 

REDAÇÃO : 

PROPOSTA  “Onde termina a palmada educativa e começa a agressão? 
 As famosas 'palmadas educativas' em crianças e adolescentes poderão ser proibidas no Brasil Um projeto de lei do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviado ao Congresso Nacional prevê que seja incluso no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) que os filhos tenham o direito de serem cuidados e educados pelos pais ou responsáveis sem o uso de castigo corporal ou de tratamento cruel ou degradante -- qualquer tipo de conduta que humilhe, ameace gravemente ou ridicularize.
O presidente diz que o diálogo é a melhor forma de educar. "O modo de corrigir por meio de agressão física não produz nada além de medo na criança, não educa", afirmou Gilson Aparecido dos Santos, diretor do Cedeca( Centro de Defesa da Criança e do Adolescente).Para ele, a palmada é pode chegar a agressões mais graves e, por isso, é necessário que esse tipo de vio


lência seja coibida pelo Estado. 
 "O grande risco é que passe do limite. Passou da palmadinha, caracteriza-se agressão", ressaltou e disse que o conselho ainda não analisou oficialmente o projeto de lei e que isso deverá ser feito em reunião pré-agendada.

  Textos de apoio 1- Mariana Mourão/Advogada Apesar de parecer um claro avanço no campo dos direitos da criança e do adolescente, o projeto de lei tem dividido opiniões. Segundo o ministro da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Paulo Vannuchi, “o projeto foi discutido com a participação da sociedade civil, e a ideia não é priorizar a punição dos pais, mas prevenir castigos corporais”. Além disso, segundo o ministro, a criança agredida passa a entender que bater é normal e reproduz o ato na escola e, posteriormente, na vida adulta. 
No entanto, uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha revela que mais da metade dos brasileiros (54%) é contra a proibição contida na proposta. A polêmica gira em torno da intervenção do Estado na educação das crianças. 
O projeto conceitua castigo corporal como ação disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente, portanto, ficam proibidas as palmadas e os beliscões. Mas muitos alegam que os filhos precisam ser repreendidos em alguns momentos, afinal, é esse o modo de induzir à criação de juízos de valor, da diferenciação de bem e mal. 
Sobre esse assunto, o ministro Vannuchi explica que “não vai levar para a cadeia qualquer pai que bate”. Mas aí vem a pergunta: se a lei diz que todo castigo corporal é proibido, onde termina a palmada educativa e começa a agressão? 
Há ainda quem entenda que a criação do artigo 17-A seja apenas mais um dispositivo inaplicável do nosso ordenamento jurídico. Agredir, torturar e penalizar já são crimes previstos em lei, assim como os maus-tratos de forma genérica, portanto, o projeto não teria propósito, sendo apenas “para inglês ver”. 
Além disso, atualmente não há programas sociais no Brasil que garantam as penalidades. Caso seja aprovado pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados, só mesmo o tempo para deliberar sobre a aplicabilidade do artigo 17-A. É uma boa inclusão no nosso ordenamento jurídico? Sim, mas precisa ser mensurado. Ninguém é a favor da violência, mas algumas palmadinhas podem ajudar a impor limites. Na melhor das hipóteses, o dispositivo atingirá seus objetivos, coibindo a prática dos castigos físicos extremos.
 Por outro lado, pode levar a punições deliberadas ou simplesmente ficar esquecido nos textos legais. 

 2- Palmada: educação ou trauma? A palmada em crianças como medida disciplinar volta a ser discutida na Câmara. Nesta quarta-feira, o presidente Lula encaminhou ao Congresso projeto de lei que acrescenta ao Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, a punição de pais, professores e cuidadores de menores em geral que se utilizarem de castigos corporais ou tratamentos cruéis como forma de correção. Atualmente, o texto do estatuto condena maus-tratos contra a criança e o adolescente, mas não especifica o tipo.
 O projeto de lei encaminhado pelo presidente define castigo corporal como qualquer ação punitiva que utilize força física e cause dor. Já o tratamento cruel é especificado como conduta que humilhe ou ridicularize a criança. 
 O deputado Paulo Lustosa, do PMDB cearense, apoia o projeto e afirma que a violência entre pai e filho equivale ao sequestro do direito da criança. De acordo com Lustosa, a legislação deve ter parâmetros que limitem atitudes violentas nas famílias. "O desafio da legislação, já que você não pode colocar na lei ´você pode dar tantas palmadas por dia´, é tentar estabelecer alguns parâmetros gerais para que a relação de pai e filho não seja marcada pela violência. 

Ou seja: a nossa crença é que a educação, o diálogo, a conversa franca provocam e produzem crianças educadas, crianças respeitosas e crianças não-violentas." Desde 2003, projeto (PL 2654/03) similar ao do presidente Lula tramita na Câmara. Apesar de ter sido aprovado na Comissão de Constituição e Justiça em caráter conclusivo, o projeto não foi enviado ao Senado porque foram apresentados recursos que exigiam a votação da matéria no Plenário. 
A deputada do PT gaúcho Maria do Rosário, autora da proposta de 2003, também apoia o novo projeto. De acordo com Maria do Rosário, o texto do presidente Lula vai corrigir uma falha da Câmara que inviabilizou a votação do texto dela no Plenário. Caso o projeto do Executivo seja aprovado pelo Congresso, os pais que desobedecerem as novas normas sofrerão advertência e poderão ser encaminhados a tratamento psicológico e a programas de orientação e de proteção à família. 
As crianças deverão ter tratamento especializado. 

 E para vocês, é lícito os pais usarem palmadas ou outros castigos corporais moderados na educação de crianças e adolescentes? Disponível em: http://www.camara.gov.br/internet/radiocamara/default.asp?selecao=MAT&Materia=108588 

  DICA : 
Não tenha preguiça de ler textos, livros, jornais e outros.A sua leitura de mundo associada ao seu conhecimento lhe dará o respaldo para um bom texto.Obviamente sem se esquecer da técnica e da linguagem.


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Almas malogradas ... esmagadas pela fatalidade do ‘meio’ : O Cortiço


JOÃO ROMÃO –– esperto, miserável, enganador e invejoso.

“... deixando de pagar todas as vezes que podia e nunca deixando de receber, enganando os fregueses, roubando nos pesos e nas medidas...” (p.15)

Dono da pedreira e do cortiço. Representa o capitalista explorador,o português ganancioso, cuja preocupação em fazer fortuna é tão grande que leva ao relaxamento com a própria aparência, a sujeição ao desconforto e a auto-imposição de um regime de trabalho que ultrapassa muitas vezes o limite físico.
A trajetória da personagem constitui a metonímia do embate da raça com o meio, pois o seu pragmatismo está permanentemente em confronto com a indolência e a sensualidade do temperamento dos habitantes do país que o acolhe.
A sua posterior "aristocratização", atingida após uma profunda mudança em seu comportamento e em sua aparência física, embora revele a ação do meio sobre o comportamento humano e se apresente como uma conseqüência do evolucionismo, não deixa de se apoiar no pragmatismo da personagem, que, após enriquecer, passa a alimentar o sonho de ganhar títulos de nobreza.

BERTOLEZA : quitandeira, escrava cafuza que mora com João Romão, para quem ela trabalha como uma máquina. Esta personagem, negra e mulher, na condição total de inferioridade, ao lado, ou melhor, aos pés de João Romão, no romance aparece sempre como submissa.Trabalhadora, sonhava com a liberdade por meio de uma carta de alforria.
“E, no entanto, adorava o amigo, tinha por ele o fanatismo irracional das caboclas do Amazonas pelo branco a que se escravizam, (...) são capazes de matar-se para poupar do seu ídolo a vergonha do seu amor.”
“... às quatro da madrugada estava já na faina de todos os dias...” (p.14)

PIEDADE – submissa, honesta e trabalhadora. A única personagem diferente em meio a tantas outras iguais. Essa diferença diz respeito sentido aos princípios morais sólidos e bom caráter que possuía. Corretíssima, fiel, sem qualquer vaidade, vive para o marido e em função dele. Ela era tranqüila, nostálgica, conservava os hábitos e a rotina de sua terra natal, não deixava se envolver pelo meio mantinha suas tradições e a esperança de crescer junto com o seu marido em uma terra nova. Ela mantinha essas particularidades enraizadas e, dificilmente, absorveria os costumes e a cultura brasileira.
Mas, ao contrário do que podia parecer, Piedade era uma mulher perspicaz e esperta, percebia dia-a-dia as mudanças do marido e tinha consciência de que iria perdê-lo.
Piedade uma mulher ambígua, ou seja: forte e fraca.

“Piedade merecia bem o seu homem, muito diligente, sadia, honesta, forte, bem acomodada com tudo e com todos, trabalhando de sol a sol e dando sempre tão boas contas da obrigação, que os seus fregueses de roupa, apesar daquela mudança para Botafogo, não a deixaram quase todos.” (p.42)

JERÔNIMO– forte, trabalhador, dedicado e honesto. Português “cavouqueiro”, trabalhador da pedreira de João Romão, representa a disciplina do trabalho.
Jerônimo, por sua vez, percorre o caminho inverso. É, a princípio, delineado
como homem honesto, fisicamente forte, de caráter sério e bons costumes, admirado
pela sua simplicidade e disposição para o trabalho. Assim que chega ao cortiço, mantém o comportamento saudosista do imigrante, a busca de fidelidade às origens, que se revela, por exemplo, por meio do hábito de sentar-se à porta, dedilhando os fados de sua terra natal:

“... a força de touro que o tornava respeitado e temido por todo pessoal...”
“... grande seriedade do seu caráter e a pureza austera dos seus costumes...” (p.42)
“... um pulso de Hércules...” (p.43)

Após conhecer Rita Baiana, uma mulata sensual, Jerônimo se torna um homem diferente. Abandona a esposa e a filha, trama o assassinato do amante de Rita,endivida-se, aproximando-se da imagem do malandro carioca.
Os primeiros sinais da transformação dão-se justamente na esfera onde naturalmente se opera a resistência, pois logo Jerônimo passa a rejeitar a culinária de sua terra, perguntando à mulher porque não experimenta fazer "uns pitéus à moda de cá", e deixa a guitarra de lado, exceto para tentar tocar as modinhas que Rita Baiana cantava. O abrasileiramento de Jerônimo traduz a perspectiva naturalista de sujeição aos imperativos do ambiente.


D. ESTELA – adultera e presunçosa.
“...senhora pretensiosa e com fumaças de nobreza...” (p.16)

Sua hipocrisia e sadismo,mostram uma mulher que infringiu as regras da sociedade sob a proteção do marido.Estela recebeu vida na obra de Aluísio como uma crítica ao casamento e, sobretudo ao casamento de conveniência existente na época.
Ela desperta curiosidade, pois, a princípio, parece-nos uma vítima de uma sociedade que obrigava uma moça a casar-se “comercialmente”. Se ela tinha coragem para trair o marido, por que não tinha coragem para romper barreiras e ir atrás de sua própria liberdade? Estela, dentre todos os outros personagens, era a mais manipuladora, sádica, sarcástica e de uma crueldade sem tamanho.

“... Ah! Ela contava como certo que o esposo, desde que não teve coragem de separar-se de casa, havia, mais cedo ou mais tarde, de procurá-la de novo. Conhecia-lhe o temperamento, forte para desejar e fraco para resistir ao desejo.” (p.20)

Era uma mulher leviana, dominadora e tinha plena consciência de que o marido era um homem fraco para quem as aparências valiam muito mais que o amor e o respeito próprio.Não possui princípios morais, é uma prostituta escondida sob o manto de “dama”. Ela conhece o ódio do marido por ela, mas sabe que mesmo a odiando e mantendo com ela um casamento de aparências, ele não resiste aos seus impulsos sexuais e a procura, causando–lhe uma estranha sensação de poder e dominação.

MIRANDA – Barão de Freixal. Esperto, oportunista, não era feliz no casamento.

“... o Miranda pilhou-a em flagrante delito de adultério; ficou furioso e o seu primeiro impulso foi de mandá-la para o diabo junto com o cúmplice; mas a sua casa comercial garantia-se com o dote que ela trouxera...” (p.16)

Comerciante português. Principal opositor de João Romão. Mora num sobrado, ao lado do cortiço. Ambicioso , no entanto, prefere enriquecer por meios mais brandos, como pelo casamento com uma brasileira cujo dote era o que garantia a sua loja de fazendas por atacado. A manutenção da situação econômica atingida era mais importante do que seu orgulho de homem, posto que, apesar de saber- se traído, não ousava separar-se dela:

“Prezava, acima de tudo, a sua posição social e tremia só com a idéia de ver- se novamente pobre, sem recursos e sem coragem para recomeçar a vida, depois de se haver habituado a umas tantas regalias e afeito à hombridade de português rico que já não tem pátria na Europa.”


RITA BAIANA :personagem estereotipada da mulata sensual, alegre e assanhada. Rita é a mulher independente e rebelde, que diferente de Bertoleza, oprime e seduz os homens, desmoronando a idéia de modelo patriarcal da sociedade em que a mulher era apenas objeto, Rita Baiana criticando até mesmo a instituição casamento vai contra toda uma ordem estabelecida.

“E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas. Irrequieta, saracoteando o atrevido e rijo quadril baiano, respondia para a direita e para a esquerda, pondo à mostra um fio de dentes claros e brilhantes que enriqueciam a sua fisionomia com um realce fascinador.” (p.45)

A sensualidade, como uma característica ligada à identidade, é uma propriedade e uma marca da mulata de O cortiço, pois a sexualização costuma ser uma figura de controle ou dominação, pois a caracterizando como mulata ela se distancia um pouco da condição de negra, escrava e inferior

“Também cantou. E cada verso que vinha da sua boca de mulata era um arrulhar choroso de pomba no cio. E o Firmo, bêbedo de volúpia, enroscava-se todo ao violão; e o violão e ele gemiam com o mesmo gosto, grunhindo, ganindo, miando, com todas as vozes de bichos sensuais, num desespero de luxúria que penetrava até ao tutano com línguas finíssimas de cobra."( Zoomorfismo)

FIRM0– gastador, galanteador, charlatão e presunçoso.
“... era um mulato pachola, delgado de corpo e ágil como um cabrito; capadócio de marca, pernóstico, só de maçadas, e todo ele se quebrando nos seus movimentos de capoeira.”
“...Era oficial de torneiro, oficial perito e vadio: ganhava uma semana para gastar num dia...” (p.49

POMBINHA ;” a flor do cortiço” .Fraca, nervosa, doente, loira, muito pálida, sua sensualidade está associada a doses de inocência, pureza, boa família, asseada. A relação homossexual entre Pombinha e sua madrinha Léonie se dão em conseqüência de um estupro.Pombinha rompe drasticamente com os padrões impostos por ima sociedade preconceituosa, desigual,desumana. A ruptura acontece quando Pombinha se separa do seu marido, após adultério. Atirou-se as coisas mundanas e foi morar com Léonie, mais sustentava a mãe com o dinheiro da prostituição, a qual se tornou perita e com sua sagacidade, conquistava todos os homens.

“A filha era a flor do cortiço (...) Bonita, posto que enfermiça e nervosa ao último ponto: loura muito pálida, com uns modos de menina de boa família.”
“...era muito querida por toda aquela gente.” (p.31)
“O que mais a desgostava, e o que ela não podia tolerar sem apertos de coração, era ver a pequena endemoninhar-se com champanha depois do jantar e pôr-se a dizer tolices e a estender-se ali mesmo no colo dos homens. Chorava sempre que a via entrar ébria, fora de horas, depois de uma orgia; e, de desgosto em desgosto, foi-se sentindo enfraquecer e enfermar , até cair de cama e mudar-se para uma casa de saúde, onde afinal morreu.” (p. 200, 201) “Era quem escrevia cartas (...) quem tirava as contas; quem lia os jornais...” (p.32)


LÉONIE: independente, pervertida, impura.Mulher de procedência francesa que possuía um sobrado na cidade, o que demonstrava status. Buscava relação sexual para satisfazer-se. Subjuga e seduz a afilhada (Pombinha) “... “...com as suas roupas exageradas e barulhentas de cocote à francesa, levantava rumor quando lá ia e punha expressões de assombro em todas as caras.” (p.74)
Léonie saltava para junto dela e pôs-se a beijar-lhe, á força, os ouvidos e o pescoço, fazendo-se muito humilde, adulando-a, comprometendo-se a ser sua escrava e obedecer-lhe como um cachorrinho. (p.137).”
“(...) Leonie fingia prestar-lhe atenção e nada mais fazia do que afagar-lhe a cintura, as coxas e o colo. Depois, como que distraidamente, começou a desabotoar-lhe o corpinho do vestido.” (p. 119)”

ZULMIRA – fruto de um casamento malogrado, é rejeitada pelos pais.Representa um “ investimento” vantajoso quando torna-se pretendente de João Romão.
“...pálida, magrinha, com pequeninas manchas roxas nas mucosas do nariz, das pálpebras e dos lábios (...) olhos grandes, negros, vivos e maliciosos.” (p.23)
Henrique – estimado de Dona Estela.
“Dona Estela, no cabo de pouco tempo, mostrou por ele estima quase maternal...” (p.24)

Botelho – antipático e parasita.
“... muito macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre...” (p.24)
“...via-se totalmente sem recursos e vegetava à sombra do Miranda...” (p.25)

ARRAIA-MIÚDA – representada por lavadeiras, caixeiros, trabalhadores da pedreira e pelo policial Alexandre.