quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Violência Doméstica é crime!

 


Casos de violência doméstica estão subnotificados na pandemia

O levantamento é de pesquisadoras da Universidade Federal do ABC

Publicado em 04/06/2021 - 09:02

Por Camila Maciel - Repórter da Agência Brasil São Paulo


Violência doméstica violência contra a mulher

O aumento do feminicídio e das concessões das medidas protetivas são fortes indicadores de subnotificação dos casos de violência contra as mulheres, além do próprio fenômeno da violência doméstica. Pesquisadoras da Universidade Federal do ABC (UFABC) e integrantes da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC) explicam que esses dados mostram a importância dos serviços de proteção à mulher, que foram descontinuados com a pandemia e poderiam interromper o ciclo da violência.

“Se a mulher não consegue relatar e obter respostas no primeiro ciclo da violência, nos primeiros níveis desse ciclo, a gente sabe que os quadros obviamente se agravam para feminicídio, que é o ponto final desse círculo”, disse a professora Alessandra Teixeira. De acordo com as pesquisadoras, em artigo divulgado pela Agência Bori, houve aumento de 1,9% dos feminicídios e de medidas protetivas em muitas delegacias e a diminuição de 9,9% de registros policiais de casos de violência contra a mulher, em relação a 2019.

Em São Paulo, de janeiro a abril de 2019, foram registrados 55 casos de feminicídio no estado. No mesmo período de 2020, foram 71 registros. Em 2021, foram 53 assassinatos de mulheres em razão do gênero, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP). Em relação às medidas protetivas, foram mais quase 47 mil em 2019 e mais de 52 mil registros em 2020. Nos primeiros quatro meses de 2021, o total já ultrapassa 21 mil, a tendência, portanto, é de crescimento para este ano.

O aumento do desemprego com a crise econômica, o maior peso para as mulheres na divisão sexual do trabalho, o fechamento das escolas e o acesso a outras vivências são algumas das questões que impactam a dinâmica de vida das mulheres na pandemia e acabam por afastá-las das redes de proteção. “Já era deficitário e a pandemia provoca uma crise, um déficit ainda maior, aliado ao problema econômico. Com isso a gente vai ter, sem dúvida, um exacerbamento desse quadro [de violência]”, aponta Alessandra.

Desarticulação da rede de proteção

Carolina Gabas, também professora da UFABC, ressalta que a medida protetiva é fundamental, mas não garante que se está dando às mulheres a assistência integral necessária. “A medida [protetiva] não é a única oferta que tem que está ali. A mulher tem que ter os cuidados de saúde para a sua integridade física, às vezes precisa ver a situação das crianças, às vezes precisa do acolhimento sigiloso, às vezes precisa monitorar, por exemplo, uma medida que retire do agressor algum tipo de arma que ele porte”, exemplifica.

Ela destaca a necessidade de que as instituições atuem em rede para promover esse atendimento. “A gente diz que é o trabalho em rede, que envolve o sistema de Justiça, vários setores, uma política intersetorial também, no Poder Executivo e é muito importante que isso esteja articulado com os movimentos sociais”, propõe. A pesquisadora destaca que as ações nos territórios devem contar com o apoio do movimento de mulheres e outras organizações que conseguem alcançar essas questões de forma mais efetiva.

Carolina destaca ainda a necessidade de investimentos e a especialização do atendimento. Ela explica que não se trata necessariamente de um equipamento específico, mas de capacitações para que estruturas como os centros de referência em assistência social e mesmo delegacias possam atender essas mulheres sem que se criem novas vitimizações.

“É o investimento para as redes de serviços que já existem e estar muito atenta a esse aumento da violência, especialmente no contexto de pandemia. E, obviamente, o tipo de financiamento também. O financiamento não é só de campanhas, é um financiamento de atendimento, de você prestar esse serviço a essas mulheres”.

Empresa Brasil de Comunicação S/A - EBC

Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil exceto quando especificado em contrário e nos conteúdos replicados de outras fontes.
Política de privacidade | Termos de Uso

Mostrar texto das mensagens anteriores

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Segredinhos para criar um texto qualificado.

Qual é o segredo de uma boa redação?

"Sempre que você considerar um texto definitivo,corte dois terços dele e ainda vai achar coisas para tirar." (Ernest Hemingway) 

 O primeiro problema, capaz de gerar sensações incríveis, desde o pânico até a perplexidade, é a "PÁGINA EM BRANCO". Como começar? Onde buscar idéias e vocabulário para preencher aquele espaço todo? 

 Não temos um "segredo" capaz de responder-lhe, mas apenas uma sequência simples de dados que poderá ajudá-lo bastante: 


 Pense. Concentre-se alguns minutos no tema proposto e o que lhe parecia estranho , logo lhe parecerá familiar.Lembre-se de que quanto pior o tema, maior é sua chance de criar algo original, único. Contextualize.Pergunte-se por que um tema como aquele foi escolhido.

 Leia a coletânea com um lápis na mão: sublinhe o que for compatível com seu ponto de vista. Em provas oficiais não temos tempo de reler textos. Acostume-se com isso desde agora.

 Coloque no papel tudo que lhe vier à mente, mesmo parecendo absurdo. Não se preocupe com ordem ou sequência. Coloque tudo de maneira caótica na proporção em que as idéias forem surgindo.A seleção e organização virão depois.. 

 Selecione as idéias aproveitáveis , lembrando-se de que é preciso criar uma tese que possa ser discutida , seja pelo lado positivo ou negativo.

 Não escreva difícil. A simplicidade vocabular prevalece sobre qualquer linguagem requintada e exuberante. Escreva simples e claro. Não empregue palavras que você ouviu por aí, gostou, aprendeu, mas cujo significado correto você nem conhece.

 Correção gramatical (grafia, pontuação, concordância, etc.) é indispensável para tornar um texto inteligível . Você não precisa (nem deve) ser um "Compêndio Gramatical" completo e brilhante, apenas deve ser correto e claro.

 Escreva períodos curtos para facilitar o entendimento do leitor. A clareza, quase sempre, está ligada ao tamanho do período que se costuma construir. Períodos longos, na maioria das vezes, são sinônimos de obscuridade. 

 Não escreva abstrações - porém faça-o se o tema exigir. Prefira o concreto ao abstrato e o particular ao geral, pois a linguagem acaba sendo mais precisa e é muito mais fácil.

 Parágrafo não é um espaço à margem do papel e sim a maior unidade do texto. Via de regra constitui-se de um ou mais períodos onde, em torno de uma idéia central-o tópico frasal- agregam –se as secundárias, todas entrelaçadas pela continuidade do sentido. 

 Por melhor que seja o conteúdo da redação, ele será pobre se os "clichês", "pormenores óbvios" e "explicações supérfluas "estiverem presentes numa tentativa de ampliar o texto.

 A inversão deve ser utilizada como recurso enfático: às vezes, uma frase aparentemente comum pode ter seu sentido ampliado e enriquecido com uma simples inversão na ordem dos termos que a compõem.Mostre que você sabe manejar o idioma. 

 A letra: não se pretende que o aluno tenha uma caligrafia bonita e perfeita, mas que seja, pelo menos, legível. Imagine que os examinadores terão milhares de provas para serem corrigidas e uma redação com uma letra “impossível”, "suja" (com rabiscos, rasuras, cortes...) será prejudicada quando diante de outra "limpa" (legível, ordenada, clara...). Todo conteúdo, por melhor que seja, pode ser altamente desvalorizado pela falta de capricho e ordem.

 Releia tudo calmamente: troque vocábulos inadequados,substitua vocabulário, corte excessos, inclua novas idéias apropriadas, enfim: enxugue o texto . 

 Sua redação pode não estar perfeita, mas, sem dúvida, terá se tornado um texto agradável e bem escrito. E agora...

MÃOS À OBRA! 

 Postado por GizeldaNog 
às 07:57 Campinas /S.Paulo.

domingo, 12 de setembro de 2021

Produção de texto:FUGA DE CÉREBROS




  1. Opinião / Estadão

Jovens qualificados estão deixando o Brasil no momento em que são mais necessários


FUGA DE CÉREBROS
Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

09 de junho de 2021 | 03h00

O que os membros da comunidade científica brasileira mais temiam, quando a pandemia de covid-19 eclodiu no ano passado, infelizmente vem ocorrendo em ritmo acelerado. Trata-se do chamado fenômeno “brain drain”, também conhecido como “fuga de cérebros”.

Esse êxodo envolve jovens altamente qualificados que buscam no exterior, especialmente em países que mantêm programas de atração de talentos, postos de trabalho que não conseguem ter no Brasil. Um desses países é o Canadá. Para enfrentar problemas de envelhecimento e baixas taxas de fertilidade da população, o governo canadense estabeleceu há dois anos a meta de receber mais de 1 milhão de imigrantes qualificados até 2021. Chegou, inclusive, a promover, em várias cidades brasileiras, palestras sobre oportunidades profissionais. 

Os jovens brasileiros atraídos por programas como esse são altamente qualificados. Em sua maioria, tiveram a formação acadêmica financiada por recursos públicos. Isso significa que, apesar de ter investido nesses jovens, o Brasil não criou condições para que eles possam restituir o que receberam, trabalhando em atividades produtivas na iniciativa privada ou, então, em centros de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico. No caso do pessoal formado em ciências exatas, biotecnologia e medicina, por exemplo, enquanto países como Japão, Coreia do Sul, Israel e Estados Unidos têm mais de 60% do total de seus pesquisadores nessas áreas trabalhando em empresas, no Brasil esse porcentual é de somente 18%. 

O êxodo de profissionais jovens e qualificados já vinha sendo notado no Brasil desde a metade da década de 2010, quando a economia brasileira já vinha patinando, e piorou significativamente com a pandemia. Segundo dados da Receita Federal, o número de brasileiros que apresentaram declaração de saída definitiva do País passou de 8.170, em 2011, para 23.271, em 2018 – um aumento de 184%. E, segundo o relatório fiscal dos Estados Unidos, em 2020 aquele país registrou uma elevação de 36% nos vistos de permanência concedidos a brasileiros numa categoria específica – a dos chamados “profissionais excepcionais”. Ao todo, foram concedidos 1.899 vistos – o maior número em uma década. Já com relação à emissão dos demais vistos a concessão feita pelo governo americano teve uma queda de 48% no período. 

O mais grave é que essa fuga se dá, justamente, num momento em que o Brasil mais precisa de pessoal qualificado nas áreas de ciências exatas e biomédicas, por causa da pandemia. Ela se dá, igualmente, num período em que, quanto mais o País necessita de um ambiente favorável à ciência, mais o governo se torna negacionista. Sem levar em conta as consequências perversas dessa postura irracional, em abril o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foi obrigado a cortar 87% das bolsas de doutorado e pós-doutorado já aprovadas em 2021. 

Com isso, o Brasil, que hoje tem 7,6 doutores por 100 mil habitantes, vai se distanciando de Portugal, com 39,7; Alemanha, com 34,4; e Reino Unido, com 41. Para um país que precisa urgentemente agregar valor tecnológico aos seus produtos, em vez de apenas exportar matérias-primas, esses números deixam claro o risco de apagão científico a que o Brasil está exposto. “Por tudo que estamos passando, o País convida os bons profissionais a se retirarem”, diz o médico Diego Lima, especializado em infecção pela covid-19 e que está se mudando para os Estados Unidos. “Estamos falando de profissionais da mais alta qualidade e extremamente valiosos. Neste momento terrível, ainda assim estamos perdendo esses profissionais para o exterior. A pandemia escancarou as péssimas condições de trabalho no Brasil”, afirma o presidente da Associação Médica Brasileira, César Eduardo Fernandes. 

Ambos estão certos. Como crescimento e saúde dependem cada vez mais de conhecimento, a “fuga de cérebros” dá a medida do preço que o Brasil pagará pela gestão desastrosa do governo Bolsonaro também no campo da ciência .


PROPOSTA:
Redija um texto dissertativo-argumentativo sobre 
A FUGA DE CÉREBROS .
Maximo: 30 linhas.
Linguagem formal.





segunda-feira, 6 de setembro de 2021

TERRA SONÂMBULA -(3°)final


 Parte 3 - o final.

Quanto às características que perpassam toda a obra (tanto os Capítulos, quanto os Cadernos de Kindzu), destacamos duas. A primeira delas seria a interligação e, às vezes, indissociação entre o ser humano e os elementos da natureza. Vemos isso quando Junhito vira galinha, quando Kindzu fica com escamas entre as mãos para poder remar, ele “se peixava”, ou ainda quando o homem que captura Tuahir e Muidinga vira semente. E nada disso que, para nós pode parecer estranho, ganha conotação de algo irreal ou impossível no livro. Exemplos como esses se repetem muitas vezes durante a obra, tanto nos capítulos sobre a “estrada morta” quando nos Cadernos de Kindzu.

 
A segunda característica que perpassa toda a obra e que é uma característica do autor é o uso de neologismo. Mia Couto escreve muitos neologismos em seu texto. Ao longo de todo o livro lemos novas palavras que se encaixam perfeitamente para explicar o relato de Mia Couto. Por exemplo, na página 59 há duas frases onde aparecem três palavras novas: “A canoa se ondeava, adormentada em águas perdidas. Meu peitobumbumbava, acelerado” (COUTO, 2007: 59). São muitas as palavras que aparecem ao longo da obra para darem sentido ao texto e possibilitar que imaginemos o cenário com maior nitidez. Assim, também são exemplos de neologismos que aparecem ao longo do texto:, doidoendo, pensageiro, calcorrear, sozinhidão, saltinhadores, , calafriorento, choraminguante, cambalinhando, deslocalizara, infanciando, inaposento, desbotura, desencostadas, passarinhando, saltinhador, timiudamente, dormitoso, pernalteava, cantarinhar, lamentochão, desmeiada, escãozelada, nenhures, direitamento, facocherando, miraginações, administraidor, descaminhei, desexistir, descaminhou.
 
Nestes cadernos, o protagonista se acha também numa viagem em busca de transformação. Kindzu quer ser um naparama, um guerreiro mágico, nos cadernos apresenta seu pai, o velho Taímo, que tinha sonhos premonitórios e fantásticos. O velho Taímo morre após a independência de Moçambique. Kindzu, assim como o pai, também tem sonhos que se misturam à realidade. Sonhos que são premonitórios. Ter sonhos, aqui, significa como ter ainda esperança. O sonho está ligado à utopia, ao desejo de mudar. 
 
 Farida  pede a Kindzu que encontre seu filho Gaspar, e ele parte novamente para o continente em busca do filho de Farida. Começa então uma outra viagem, agora de resgate. Em ambas as viagens, tanto de Muidinga quanto de Kindzu, há uma vontade de construir uma identidade. Muidinga para isso quer encontrar seus pais, Kindzu quer se tornar um naparama, um guerreiro que poderia lutar por seu povo. Ambos personagens acabam voltando a lugares já percorridos, no entanto, nunca os vêem com o mesmo olhar. Sempre há uma mudança, não no lugar e sim no observador, no viajante.
 
Conclusão
O narrador é onisciente,3ª pessoa, narra e convida o leitor a não ser passivo diante das atrocidades reais como a guerra.
 
Muidinga : protagonista da 1ª história, personagem redonda que se transforma externa e internamente.
De inerte, torna-se um ser pensante e sujeito crítico ao entrar em contato com a leitura e a escrita.
 
Kindzu: protagonista da segunda história, em 1 pessoa, inicia sua transformação a partir da morte do irmão, Junhito. Seu objetivo é tornar-se um naparana.Em sua caminhada resgata as tradições do povo , através da contação de histórias.
 
 Não há personagens planos, todos são redondos... transformam-se no transcorrer da narrativa.
 
O título do Livro Terra Sonâmbula ganha um sentido importante ao longo da obra. É aquela terra que não está nem dormindo e nem acordada, ela sonha em um ambiente onde o marasmo, a esperança do fim da guerra e a miséria própria da guerra se fazem presentes, assim resta aos habitantes sobreviverem. É nesse cenário de guerra que aparecem pessoas que vagam famintas e onde a leitura de uma história pode ser um alento para sua sobrevivência. 
.
 São várias viagens realizadas no desenvolvimento da obra. Em seus cadernos, Kindzu empreende uma viagem iniciática, assim como Muidinga ao lê-los. E este, juntamente com Tuahir, viaja nos escritos dos cadernos, e nos ensinamentos de Tuahir, a fim de completar a sua viagem. 
No final,  a viagem de Tuahir para a morte, que é caracterizada de uma forma ritualística, pois Muidinga o coloca em uma canoa para que ele seja levado pelo mar. “A barca é o símbolo da viagem, de uma travessia realizada seja pelos vivos, seja pelos mortos.” .
 
 Poeticamente construída, essa passagem de Terra Sonâmbula  consegue transformar a morte em um momento mágico e sublime ao som do mar e das gaivotas. Liberado desse mundo real, Tuahir agora é embalado pela fantasia que se espalha pelas águas de um mar de sonhos. As ondas vão subindo a duna e rodeiam a canoa. A voz do miúdo quase não se escuta, abafada pelo requebrar das vagas. Tuahir está deitado, olhando a água chegar. Agora, já o barquinho balouça. Aos poucos se vai tornando leve como mulher ao sabor de carícia e se solta do colo da terra, já livre, navegável. Começa então a viagem de Tuahir para um mar cheio de infinitas fantasias. Nas ondas estão escritas mil estórias, dessas de embalar as crianças do inteiro mundo. ( p. 235) 
 
Atente-se que não é o mundo inteiro, mas o “inteiro mundo”. A colocação desse adjetivo, antecedendo ao substantivo, tem nessa narrativa uma sutil diferença, que traz um importante significado ao contexto. É um mundo que se faz inteiro ao aliar a fantasia, o sonho, as estórias contadas, a tradição, à realidade circundante do presente mundo globalizado. Ao fazer essa junção, tem-se um mundo completo e não fragmentado, um “inteiro mundo”. É nas crianças, que se mesclam a fantasia e a realidade, que reside a esperança desse mundo que se fará inteiro. Nelas é que estão os sonhos de esperança para essa terra escalavrada pela guerra. Então, a viagem empreendida pelos personagens de Terra Sonâmbula (1993) ultrapassa o romance e se configura como uma viagem coletiva.
 
Há ,enfim, o encontro do velho com o novo. A tradição que é semeada no futuro. Nasce junto com Muidinga a esperança de um novo tempo,repleto de sonhos, de fantasias, no qual a estrada esteja viva e dê passagem aos sonhadores, viajantes da terra. Muidinga nasce de novo ao descobrir a sua identidade; e Moçambique precisa reafirmar sua identidade descobrindo novamente sua cultura, suas tradições, não deixando morrer o velho em detrimento do novo: ao contrário, fazendo com que toda uma sabedoria do passado seja terreno fértil para receber as sementes do futuro. Nas páginas de Terra Sonâmbula , Mia Couto semeia a esperança de um futuro, no qual Moçambique, seja a terra dos sonhos de cada moçambicano: unidos e fortificados pela tradição, ligados à cultura global.
 
A construção da identidade como parte da viagem : isso é o que se percebe nas páginas de Terra Sonâmbula . Personagens que transitam do sonho para o pesadelo da realidade, que choca e paralisa. Percepções que vão se modificando, à medida que a narrativa avança. O olhar já não é mais o mesmo porque, no caminho, algo foi modificado, não fora, mas dentro do indivíduo que caminha. É o viajante que se modifica e não a paisagem ou o outro. Quem viaja, larga muita coisa na estrada. Além do que larga na partida, larga na travessia. À medida que caminha, despoja-se. Quanto mais descortina o novo, desconhecido, exótico ou surpreendente, mais liberta-se de si, do seu passado, do seu modo de ser, hábitos, vícios, convicções, certeza. Pode abrir-se cada vez mais para o desconhecido, à medida que mergulha no desconhecido. 
 
A oralidade ( contação de histórias) representa, na narrativa, o elo de ligação entre a tradição e o moderno, pois Muidinga é partícipe da cultura letrada mas também da cultura que se perpetua pela oralidade. Então, é em Muidinga, que reside a esperança de um futuro de paz e sonhos para essa terra. A criança que une o passado e o presente, através do que lhe contam seus antepassados e através da literatura escrita.
 
 Assim como o sonho faz viver a estrada é o contar histórias que cria os sonhos. Mia Couto conta um história em que o personagem sonha, e é sonhado pelo leitor, pelo ouvinte. Tuahir e Muidinga são ao mesmo tempo narrador e ouvinte. Muidinga é também leitor, assim como o leitor de Mia Couto será leitor, ouvinte e sonhador dessa narrativa.
 
Gizelda
* Terra Sonâmbula , Mia Couto
* www.africaeafricanidades.com
* Raquel Braun Figueiró - Professora Estadual de História, Mestre em História pela UFF e Especialista em História da África pela FAPA.
*Nau Literária, Carlos Batista
 
 

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

TERRA SONÂMBULA - Parte 2 - Fuvest 2022


Terra Sonâmbula  /  Parte 2

Por outro prisma, a relação fraternal entre os dois personagens também é uma constante no livro, sobretudo porque ambos acolhem-se como pai e filho – ou tio e sobrinho. Em meio a essa relação, Muidinga busca sempre  suas raízes, descobre que o velho o tirou de uma vala de um campo de desabrigados onde jogavam crianças mortas. Ao ver que o menino estava vivo, Tuahir o salva. Todavia, ele não se lembra de nada disso, pois o velho o levou em um feiticeiro para que ele esquecesse o seu passado, o que acaba por não funcionar no momento em que o pequeno termina de ler os cadernos de Kindzu e descobre a sua origem.

No que se refere aos cadernos lidos por Tuahir e Muidinga em seu cotidiano solitário e faminto, Kindzu é escritor e protagonistas dessa história, narrada em forma de diário. Dentre os principais temas tratados,  em primeiro lugar, o desenraizamento do lugar de origem. Kindzu, ao ver o seu mundo tradicional se desestruturar com a guerra civil, sente-se perdido e quer procurar novos lugares. A consequência disso é um desprendimento de sua terra natal.

Esse desprendimento não vai ser bem compreendido pelo seu pai, mesmo esse estando morto. Aí partimos para um segundo tema recorrente no romance: relação entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Uma ideia que pode parecer estranha à ocidentais cristãos, mas demonstra o modo de pensar a vida e a morte na tradição moçambicana, visto que o contato entre os dois mundos ocorre sem estranheza. Os exemplos disso são muitos ao longo do livro. Entre eles há um no Segundo Caderno de Kindzu, quando Kindzu conversa com seu pai falecido através de um sonho. 

Nesse exemplo também se percebe um terceiro tema recorrente na obra: a importância dos sonhos na tradição moçambicana. Nos Cadernos de Kindzu nota-se a importância dos sonhos constantemente para a organização dos caminhos a serem seguidos. Kindzu afirma que “O sonho é o olho da vida. Nós estávamos cegos”.

Um quarto tema está associado a podermos visualizar a importância da relação entre pai e filho, porquanto nos cadernos de Kindzu o pai aparece como uma figura importante e presente. Tanto assim, que Kindzu apenas começa a se sentir perdido em sua terra natal após a morte de seu pai, já considerava sobre si mesmo que: “Minha alma era um rio parado, nenhum vento me enluava a vela dos meus sonhos. Desde a morte de meu pai me derivo sozinho, órfão como uma onda, irmão das coisas sem nome” .

Outro importante tema tratado nos cadernos de Kindzu é o da sociedade racializada. Várias vezes é possível perceber as diferenciações raciais existentes na sociedade moçambicana. A partir dessa relação de Kindzu com o indiano Surendra Valá também percebemos a influência da cultura muçulmana e indiana na região, resultando nas tradições suailis. Um excerto que ilustra isso bem é quando Kindzu faz referência “aos perigos” dele se relacionar com um indiano. “Surendra sabia que minha gente não perdoava aquela convivência. Mas ele não podia compreender a razão. Problema não era ele nem a raça dele. Problema era eu. Minha família receava que eu me afastasse de meu mundo original. Tinham seus motivos. Primeiro, era a escola. Ou antes: minha amizade com meu mestre o professor. [...] Pior, pior era Surendra Valá. Com o indiano minha alma arriscava se mulatar, em mestiçagem de baixa qualidade (COUTO, 2007: 24-25).”

Um sexto tema importante dos cadernos é a presença das mulheres e as possibilidades de atuação feminina em um contexto machista. Essa atuação pode ser percebida, por exemplo, quando Carolinda faz uso de sua posição para tentar matar sua irmã, Farida.

A rigor, os temas históricos que aparecem no romance seriam: a independência (expresso na figura de Junhito); a guerra civil; os campos de refugiados; os bandos armados; a corrupção (exemplificada na cidade de Matimati e na personagem Assane); o contexto ideológico influenciado pelo marxismo (administrador); e a figura do colonizador (Romão Pinto).

 Kindzu é Muidinga e vice-versa;através do relato contado, Kindzu reencontra o pai e com ele se reconcilia, e Muidinga encontra em Tuahir o pai que procurava. A cada momento as narrativas de Kindzu e Muidinga vão se tocando e se entrelaçando. Sente-se esse entrelaçamento a partir do momento em que surge no relato a personagem Farida. Ela aparece nos cadernos de Kindzu, conta a sua história e diz que está a procura de seu filho Gaspar. Kindzu se apaixona por Farida. Levada pelos acontecimentos, Farida se isola em um barco que se encontra encalhado, abandonado, como se fosse um barco fantasma. Nesse navio, os dois se encontram e relatam seus sonhos um para o outro. Esse navio pode simbolizar os sonhos impossíveis, uma vez que se encontra encalhado e abandonado como um navio fantasma: 

Ao fazer referência a corrupção que ocorria em seu país durante o contexto de guerra, Kindzu escreve em seu sexto caderno que Farida queria conhecer mais, saber o motivo da guerra, a razão daquele desfile de infinitos lutos. Relata que lembrou as palavras de Surendra, que diziam que tinha que haver guerra, tinha que haver morte.

E tudo era para quê? Para autorizar o roubo. Porque hoje nenhuma riqueza podia nascer do trabalho. Só o saque dava acesso às propriedades. Era preciso haver morte para que as leis fossem esquecidas. Agora que a desordem era total, tudo estava autorizado. Os culpados seriam sempre outros.

Com esse excerto fica compreensível o modo como a guerra facilita a ação de um governo desorganizado e corrupto em um país. Nesse sentido, outro personagem que ilustra a ação corrupta em um país em estado de guerra é Assane, já que exemplifica as possibilidades de corrupção que isso permite aos funcionários. O próprio machimbombo onde Kindzu estava se deslocando quando morre queimado era fruto de uma empresa de Assane que prosperou com esse contexto. Sabemos do advento desse tipo de negócio através das seguintes palavras do último caderno de Kindzu: “Fingi nem reparar. Nossa empresa? Então, o negócio já se expandira? Afinal, em guerra se pode prosperar mais rápido que em normais tempos de paz” 

A obra retrata a impressão de um contexto histórico em que chega ao fim um mundo uma sociedade e suas tradições específicas, sem dar grandes projeções de um novo mundo próspero. Apenas o que se tem são esperanças de alguns dos viventes desses tempos de guerra. Farida e Kindzu podem ser pensados como analogias de uma geração perdida entre a tradição moçambicana e a cultura imposta pela dominação colonial (Farida) ou entre a tradição moçambicana e o novo país que se estrutura com a independência (Kindzu). Ambos estariam perdidos entre esses mundos e tentando se encontrar após a dominação colonial.
 
No seu Quinto caderno, Kindzu escreve:
Entendia o que me unia àquela mulher: Pensava sobre as semelhanças entre mim e Farida. Nós dois estávamos divididos entre dois mundos. A nossa memória se povoava de fantasmas da nossa aldeia. Esses fantasmas nos falavam em nossas línguas indígenas. Mas nós já só sabíamos sonhar em português. E já não havia aldeias no desenho do nosso futuro. Culpa da Missão, culpa do Pastor Afonso, de Vírginia, de Surendra. E sobretudo, culpa nossa. Ambos queríamos partir. Ela queria sair para um novo mundo, ela queria desembarcar numa outra vida. Farida queria sair da África, eu queria encontrar um outro continente dentro da África. Mas uma diferenças nos marcava: eu não tinha a força que ela ainda guardava. Não seria nunca capaz de me retirar, virar costas. Eu tinha a doenças da baleia que morre na praia, com os olhos postos no mar.
 

 Continua na Parte 3

 

 

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

TERRA SONÂMBULA...Fuvest 22 ( um presente 💯)


OBS IMPORTANTE: 

Nenhum resumo e/ ou análise de livro isenta o aluno da leitura do texto integral.  Nada substitui a obra completa :o estilo, o vocabulário, as particularidades do enredo  , todos são essenciais para sua intelecção.O que está aqui deve ampliar  a sua análise particular da leitura, jamais substituí-la.

NÃO É UM RESUMO.É UMA ANÁLISE DA OBRA.

Parte1 

Terra Sonâmbula

"O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro."

Se dizia daquela terra que era sonâmbula. Porque enquanto os homens dormiam, a terra se movia espaços afora. Quando despertavam, os habitantes olhavam o novo rosto da paisagem e sabiam que, naquela noite, eles tinham sido visitados pela fantasia do sonho. Crença dos habitantes de Matimati .

Terra Sonâmbula de Mia Couto discorre sobre duas histórias que a princípio parecem distintas, mas que ao final do texto se ligam : rm Capítulos e em Cadernos de Kindzu, estruturados de forma que ,após cada Capítulo inicia-se um Caderno de Kindzu. Quanto a esses Cadernos , é extremamente importante para estabelecer o contexto histórico no qual a história se desenvolve. 

 CONTEXTO :O livro demonstra a miséria pelo qual passava Moçambique após a descolonização. Momento sócio-político da guerra civil – início dos anos 90 – 1992 Para ilustrar isso o autor utiliza uma metáfora através do pensamento de Kindzu, quando a personagem afirma que “Agora, eu via o meu país como uma dessas baleias que vêm agonizar na praia. A morte nem sucedera e já as facas lhe roubavam pedaços, cada um tentando o mais para si. Como se aquele fosse o último animal, a derradeira oportunidade de ganhar uma porção” .

Tuahir e Muidinga  perambulam por  uma “estrada morta”. Tuahir , um velho e Muidinga, um menino que deve ter em torno de 11 anos. O pequeno é chamado de miúdo pelo velho. Tuahir e Muidinga são dois desabrigados que vagam pela Moçambique da pós-independência tentando sobreviver. Há uma clara referência ao deslocamento causado pela guerra civil que se instalou no país após a independência. Durante esse deslocamento eles encontram um machimbombo (ônibus) queimado e instalam-se nele. Nele há pessoas mortas e uma delas carrega uma mala, na qual estavam guardadas comida e alguns escritos denominados "Cadernos de Kindzu."Os cadernos são recolhidos e lidos por Muidinga para os dois, visando preencher seus dias e noites solitários.

Na medida em que a leitura se desenrola, as personagens penetram cada vez mais na história e, sentindo a necessidade da leitura dela, de modo que o próprio Tuahir chega a afirmar, ao final do quinto capítulo, que “Esse fidamãe desse Kindzu já vive quase conosco” .                              Ao fim desse capítulo vê-se a importância da contação de histórias em Terra Sonâmbula, que  expressa a importância dessa prática na cultura moçambicana. ( Oralidade).

Um elemento importante levantado a partir do ato de contar a história nesse livro é o fato de ser o jovem Muidinga que conta a história e não o idoso Tuahir, como sempre imaginamos ao pensar na figura do griô. Isso acontece porque a contação da história de Kindzu ocorre através do domínio da leitura, que é um conhecimento das gerações mais novas.

 Essa integração do velho ao novo se observa também no capítulo em que é narrada a história de Siqueleto, um ancião que ficara só numa das aldeias abandonadas. Tuahir e Muidinga o encontram porque caem numa armadilha e são salvos por ele. Siqueleto fala a língua local e Muidinga não a entende, Tuahir serve de intérprete. No final, Siqueleto pede que Muidinga escreva seu nome numa árvore, mostrando agora a dependência do velho ao novo. Logo, esses acontecimentos corroboram para reafirmar o que foi dito: o novo anda de mãos dadas com o velho. 

O conhecimento ancestral é necessário para que se possa construir um novo paradigma , Couto mostra o respeito que o menino tem pelo mais velho, expresso, por exemplo, na confiança que o miúdo deposita em Tuahir quanto ao conhecimento do caminho de volta para o ônibus, quando parecem perdidos.

Outro  elemento da contação de histórias é  ainda percebido quando, no início do quinto capítulo, o narrador chama o machimbombo de moradia e, ao fim, Tuahir revela a importância que as histórias de Kindzu têm para eles. Isso nos permite pensar que a contação de histórias inclusive estabelece um laço de moradia com o lugar onde ela é contada, estabelecendo uma ligação entre o Machimbombo queimado e os dois personagens.

Esse contar é feito ritualisticamente à beira da fogueira, como nas comunidades arcaicas. Do ponto de vista da produção cultural, a arte de contar é uma prática ritualística, um ato de iniciação ao universo da africanidade, e tal prática e ato são, sobretudo, um gesto de prazer pelo qual o mundo real dá lugar ao momento meramente possível que, feito voz, desengrena a realidade e desata a fantasia.

Enfim, o que prende Muidinga e Tuahir no machimbombo? Na primeira vez que Tuahir sai do local, Muidinga diz que são os Cadernos de Kindzu que despertam a vontade de voltar ao abrigo. Já quando Muidinga quis sair dali, Tuahir usa a desculpa de que ali ninguém apareceria e ali estariam protegidos, pois o país estando em guerra era melhor que ninguém os encontrasse.

 A partir do quarto capítulo (o da morte de Siqueleto), quando os personagens parecem estar estabelecidos no machimbombo, eles começam andar em círculos ao redor de onde ele se encontrava. Nesse momento é que Tuahir e Muidinga começam a conhecer o entorno e passam a acontecer coisas ao seu redor. No quinto capítulo o ônibus já é designado como moradia pelo narrador. Somente no final da história eles se despedem de vez do lugar, para encontrar o mar.

( continua nas partes 2 e 3)

 

 

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Amor à primeira vista? ❤ Existe mesmo???



 Simmmmm...existe!Até em redação!😊

Surge, quando o corretor de um texto começa a lê-lo e se encanta com o que encontrou. Quem é que não se apaixona por um jovem antenado capaz de se expressar bonito e bem?Ele percebe que não é um texto comum, óbvio, mas de alguém que tem repertório.

"Repertório"???? Sim...o que você apreendeu do mundo que o circunda, do entorno em que você vive. E não é só leitura de livros e jornais.É observação de como anda o mundo na política, na sociedade, na educação , na saúde, no entretenimento, enfim leitura de tudo. É atraves dela que você se torna informado e crítico.

É com essa bagagem cultural que você inicia seu texto, contextualizando-o para, depois, desenvolver  Isso se chama INTRODUCÃO. É aqui que você vai fazer o corretor de texto se apaixonar pelo que você começou a dizer. E aqui que ele vai dizer pra si mesmo: oba! que interessante! E vai ler/ corrigir seu texto sentindo-se confortável e sem expectativas negativas.

Entre outros motivos, há um bem claro: o que começa bem tem grande chance de acabar bem.O prognóstico observado pela introdução é altamente positivo para o desenvolvimento textual.Seu repertório se incumbirá disso.

Então começar bem um texto é vantajoso? ABSOLUTAMENTE SIM!

Mas não é só.Não é preciso nem dizer que a pessoa que lê - tudo, qualquer coisa- leva vantagem sobre quem não lê, claro!

Ah! Mas eu odeio ler! Dá sono! Cansa!...Tudo é questão de hábito e de preferências. Há leitores vorazes e há os que são " obrigados" a ler como os vestibulandos.Por quê? 

Então...porque 70% dos textos das provas são ininteligíveis, pobres de vocabuĺario e de conteudo e isso é inadmissivel! Ah!...mas vou ser médico! Engenheiro! Analista de sistemas...por que preciso escrever bem? E ler?

Bem...deixando o vestibular de lado, porque você é um ser humano racional e sensível. Se você alimenta o corpo com uma boa refeição, é preciso alimentar a essencia, a alma, com conhecimento critico.Afinal, o corpo não é só o físico.

Resumindo...só você pode decidir o que quer para o seu amanhã, porém o hoje é o momento onde tudo acontece. Determinar o que realmente pretende e ir à luta.

Vale a pena investir em você.É preciso gostar de si próprio para encantar o outro, incluindo   ...um corretor de redação...🤗🤭🤔

Pense nisso com carinho.Mas não demore. O fim do ano para vestibular já começa em novembro.

Sabe quantas semanas faltam ????? 10.