quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A CARTA ARGUMENTATIVA

Antes de iniciar uma carta, é preciso colocar local de origem e data, observando a margem esquerda do papel. Exemplo:

S. Paulo, 29 de setembro de 2010.


Início: identifica o interlocutor. A forma de tratá-lo vai depender do grau de intimidade existente. A língua portuguesa dispõe dos pronomes de tratamento para estabelecer esse tipo de relação entre interlocutores.

O essencial é mostrar respeito pelo interlocutor, seja ele quem for. Na falta de um pronome ou expressão específica para dirigir-se a ele, recorra ao tradicional "senhor" "senhora" ou Vossa Senhoria. O texto dissertativo é dirigido a um interlocutor genérico, universal. A proposta de carta argumentativa pressupõe um interlocutor específico para quem a argumentação deverá estar orientada. Essa diferença de interlocutores deve necessariamente levar a uma organização argumentativa diferente, nos dois casos. Até porque, na carta argumentativa, a intenção é freqüentemente a de persuadir um interlocutor específico (convencê-lo do ponto de vista defendido por quem escreve a carta ou demovê-lo do ponto de vista por ele defendido e que o autor da carta considera equivocado).

O primeiro parágrafo deve expor o assunto sobre o qual se vai discutir.Nos demais desenvolve-se a proposta.

Mas que fique bem claro: no cumprimento da proposta em que é exigida uma carta argumentativa, não basta dar ao texto a organização de uma carta, mesmo que a interlocução seja natural e coerentemente mantida; é necessário argumentar.

Deve-se ainda manter a interlocução no decorrer do texto, o uso do vocativo identifica a correspondência, seja ela formal ou informal.

As pessoas do discurso selecionadas devem ser mantidas em toda a carta, se utilizarmos você não poderemos usar tua, te, vossa, etc.


PRONOMES DE TRATAMENTO



1. AUTORIDADES DE ESTADO

Civis

Pronome de tratamento /Abreviatura   /Usado para

Vossa Excelência  /  V. Exª . / Presidente da República, Senadores da República, Ministro de Estado, Governadores, Deputados Federais e Estaduais, Prefeitos, Embaixadores, Vereadores, Cônsules, Chefes das Casas Civis e Casas Militares

Vossa Magnificência / V. M.  / Reitores de Universidade

Vossa Senhoria / V. S.ª  / Diretores de Autarquias Federais, Estaduais e Municipais


Judiciárias

Pronome de tratamento  / Abreviatura  /Usado para

Vossa Excelência  / V. Exª. /  Desembargador da Justiça, curador, promotor

Meritíssimo Juiz  /M. Juiz  / Juízes de Direito



Militares

Vossa Excelência  / V. Exª. /  Oficiais generais (até coronéis)

Vossa Senhoria  /V.Sª. / Outras patentes militares


2. AUTORIDADES ECLESIÁSTICAS

Pronome de tratamento /  Abreviatura  / Usado para

Vossa Santidade  / V. S.  /  Papa

Vossa Eminência Reverendíssima  /V. Emª Revmª / Cardeais, arcebispos e bispos

Vossa Reverendíssima  / V. Revmª  /superiores de conventos, outras autoridades eclesiásticas e sacerdotes em geral


3. AUTORIDADES MONÁRQUICAS

Pronome de tratamento  / Abreviatura  /Usado para

Vossa Majestade  / V. M. /  Reis e Imperadores

Vossa Alteza  / V. A. / Príncipes


4. OUTROS TÍTULOS

Pronome de tratamento  / Abreviatura  / Usado para

Vossa Senhoria  / V. S.ª  /Dom

Doutor  / Dr./  médicos e advogados.

Comendador  / Com. /  Comendador

Professor  / Prof. /  Professores.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A RESENHA.

A resenha é um texto que- em forma de síntese - expressa a opinião do autor sobre um determinado fato cultural, que pode ser um livro, um filme, peças teatrais, exposições, shows etc.

Como síntese, a resenha deve ir direto ao ponto, criando momentos de descrição com os de crítica direta. O resenhista que conseguir equilibrar perfeitamente esses dois pontos terá escrito a resenha ideal.

No entanto, é um gênero necessariamente breve, passível ao erro de ser superficial. O texto precisa mostrar ao leitor as principais características do fato cultural, sejam elas boas ou ruins, utilizando argumentos sólidos e nunca usar expressões como “Eu gostei” ou “Eu não gostei”.

Resenha acadêmica: apresenta moldes bastante rígidos, responsáveis pela padronização dos textos científicos.
Na resenha acadêmica crítica, os oito passos a seguir formam um guia ideal para uma produção completa:

1.Identifique a obra: coloque os dados bibliográficos essenciais do livro ou artigo que você vai resenhar;
2.Apresente a obra: situe o leitor descrevendo em poucas linhas todo o conteúdo do texto a ser resenhado;
3.Descreva a estrutura: fale sobre a divisão em capítulos, em seções, sobre o foco narrativo ou até, de forma sutil, o número de páginas do texto completo;
4.Descreva o conteúdo: Aqui sim, utilize 3 parágrafos para resumir claramente o texto resenhado;
5.Analise de forma crítica: Aqui entra sua opinião. Argumente, baseando-se em teorias de outros autores, fazendo comparações e sendo crítico.
6.Recomende a obra
: Fale sobre a utilidade da obra para um determinado público-alvo.. Utilize elementos sociais ou pedagógicos, baseie-se na idade, na escolaridade, na renda etc.
7.Identifique o autor: Fale brevemente da vida e de algumas outras obras do escritor ou pesquisador.
8.Assine e identifique-se: No último parágrafo você escreve seu nome e fala algo como “Acadêmico do Curso de Letras da Universidade de Caxias do Sul (UCS)”

( OBS IMPORTANTE : o nome- item 8 - deverá ser fictício, visto que você não poderá identificar seu texto sob pena de ter a prova anulada)

Resenha de obra é o tipo de resenha mais solicitado nas escolas e universidades. Sua estrutura é basicamente um resumo sobre o conteúdo a ser resenhado, seguido da opinião do autor da resenha.

Sobre o conto A Causa Secreta, de Machado de Assis.
Modelo de resenha de obra

ASSIS, Machado de. A causa secreta. In: Machado de Assis - obra completa v.II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.

Este é um conto que aborda um tema oculto da alma de todo ser humano: a crueldade. Machado de Assis cria um cenário onde o recém formado médico Garcia conhece o espirituoso Fortunato, dono de uma misteriosa compaixão pelos doentes e feridos, apesar de ser muito frio, até mesmo com sua própria esposa.

Através de uma linguagem bastante acessível, que não encontramos em muitas obras de Assis, o texto mescla momentos de narração - que é feita em terceira pessoa – com momentos de diálogos diretos, que dão maior realidade à história.
Uma característica marcante é a tensão permanente que ambienta cada episódio.

Desde as primeiras vezes em que Garcia vê Fortunato - na Santa Casa, no teatro e quando o segue na volta para casa, no mesmo dia - percebemos o ar de mistério que o envolve.Da mesma forma, quando ambos se conhecem devido ao caso do ferido que Fortunato ajuda, a simpatia que Garcia adquire é exatamente por causa de seu estranho comportamento, velando por dias um pobre coitado que sequer conhece.
A história transcorre com Garcia e Fortunato tornando-se amigos, a apresentação de Maria Luiza, esposa de Fortunato e ainda com a abertura de uma casa de saúde em sociedade. O clímax então acontece quando Maria Luiza e Garcia flagram Fortunato torturando um pequeno rato, cortando-lhe pata por pata com uma tesoura e levando-lhe ao fogo, sem deixar que morresse.

É assim que percebe-se a causa secreta dos atos daquele homem: o
sofrimento alheio lhe é prazeiroso. Isso ocorre ainda quando sua esposa morre por uma doença aguda e quando vê Garcia beijando o cadáver daquela que amava secretamente.Fortunato aprecia até mesmo seu próprio sofrimento.

É possível afirmar que este conto é um expoente máximo da técnica de Machado de Assis, deixando o leitor impressionado com um desfecho inesperado, mas que demonstra – de forma exponencial, é verdade - a natureza cruel do ser humano. É uma obra excelente para os que gostam dos textos de Assis, mas acham cansativa a linguagem rebuscada usada em alguns deles.

Joaquim Maria Machado de Assis é considerado um dos maiores escritores brasileiros
Retirado do endereço

http://www.lendo.org/a-causa-secreta/Modelo de resenha de obra


Modelo de resenha de filme :

Avatar. Direção: James Cameron. EUA/Inglaterra. Fox Filmes do Brasil, 2009, 166 min. Elenco: Sam Worthington, Zoë Saldaña, Sigourney Weaver.

James Cameron, diretor do ‘blockbuster’ Titanic, tece nas telas uma história arrebatadora, vibrante e muito atual. Quando em todo o Planeta a maior preocupação do Homem é a destruição crescente do meio ambiente, somada à distância cada vez maior da humanidade em relação às forças da Natureza, Avatar conquista um espaço fundamental no imaginário humano e também uma invejável coleção de indicações ao Oscar 2010.
Nesta requintada produção, que em termos de bilheteria já ultrapassou o ex-campeão Titanic, o diretor retrata a tentativa desesperada de dominar Pandora, um dos satélites do Planeta Polifemo – curioso perceber a escolha dos nomes destas esferas cósmicas, não por acaso originários da ancestral mitologia grega -, com o objetivo de extrair de seu solo os recursos naturais esgotados na Terra.

Próspera companhia multinacional, a RDA financia a permanência de equipes militares e de cientistas nesta esfera alienígena, de olho justamente nestas riquezas minerais, as quais detêm o potencial de gerar lucros colossais. Sob o comando do Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang, vivendo um vilão perfeito), fuzileiros navais se convertem em mercenários, lutando contra os humanóides que aí habitam, as tribos Na’vi.
Enquanto os humanos ambicionam o tesouro escondido nas florestas, os nativos se esforçam para manter a integridade de seu território, principalmente dos recantos sagrados, e a própria existência. Neste jogo estratégico, o ex-fuzileiro naval Jake Sully, representado por Sam Worthington, é uma peça fundamental.

A tecnologia 3D, utilizada por James Cameron na elaboração deste filme, que também foi produzido em 2D, permite que não só o protagonista tenha a oportunidade de, gradualmente, descobrir os encantos e o verdadeiro significado do território na’vi, mas também o público, que é levado para dentro do cenário desta película, e tem assim a chance de aprender a ver o interior da floresta, e compreender, desta forma, o sentido real que os nativos atribuem a este local sagrado.
Cameron preocupou-se com os mínimos detalhes da produção, construindo uma outra dimensão, um outro olhar, com o auxílio de câmeras confeccionadas especialmente para a realização desta obra, o que garante o verdadeiro espetáculo visual que compõe Avatar. Mas ele não se empenha apenas nestes aspectos tecnológicos. O diretor vai mais longe, e cria uma linguagem e uma cultura próprias dos humanóides.

Não é difícil, portanto, se deixar envolver pela magia deste filme, por seus encantos visíveis e invisíveis. Não é por acaso que ele ganhou o Globo de Ouro como melhor filme dramático e melhor diretor, e que está concorrendo em nove categorias no Oscar 2010. E não é só pela novidade da versão em 3D, pois os méritos do roteiro são incontáveis, e sua mensagem é certamente inquestionável e, mais que nunca, imprescindível.
De Ana Lúcia Santana para InfoEscola.


Propostas :
1- Escreva uma resenha sobre a obra “ D. Casmurro”.
2- Escreva uma resenha sobre um filme ao qual você assistiu e sente-se apto a criticar.
3- Escreva uma resenha sobre um livro didático ( disciplina á sua escolha).

IMPORTANTE : lembre-se de que você não tem espaço ilimitado .Exercite seu poder de síntese sem perder o foco, a clareza,a objetividade,a coerência e a coesão.

domingo, 19 de setembro de 2010

De olho no ENEM...Fique ligado!

                       

 

REDAÇÃO : 

PROPOSTA  “Onde termina a palmada educativa e começa a agressão? 
 As famosas 'palmadas educativas' em crianças e adolescentes poderão ser proibidas no Brasil Um projeto de lei do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviado ao Congresso Nacional prevê que seja incluso no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) que os filhos tenham o direito de serem cuidados e educados pelos pais ou responsáveis sem o uso de castigo corporal ou de tratamento cruel ou degradante -- qualquer tipo de conduta que humilhe, ameace gravemente ou ridicularize.
O presidente diz que o diálogo é a melhor forma de educar. "O modo de corrigir por meio de agressão física não produz nada além de medo na criança, não educa", afirmou Gilson Aparecido dos Santos, diretor do Cedeca( Centro de Defesa da Criança e do Adolescente).Para ele, a palmada é pode chegar a agressões mais graves e, por isso, é necessário que esse tipo de vio


lência seja coibida pelo Estado. 
 "O grande risco é que passe do limite. Passou da palmadinha, caracteriza-se agressão", ressaltou e disse que o conselho ainda não analisou oficialmente o projeto de lei e que isso deverá ser feito em reunião pré-agendada.

  Textos de apoio 1- Mariana Mourão/Advogada Apesar de parecer um claro avanço no campo dos direitos da criança e do adolescente, o projeto de lei tem dividido opiniões. Segundo o ministro da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Paulo Vannuchi, “o projeto foi discutido com a participação da sociedade civil, e a ideia não é priorizar a punição dos pais, mas prevenir castigos corporais”. Além disso, segundo o ministro, a criança agredida passa a entender que bater é normal e reproduz o ato na escola e, posteriormente, na vida adulta. 
No entanto, uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha revela que mais da metade dos brasileiros (54%) é contra a proibição contida na proposta. A polêmica gira em torno da intervenção do Estado na educação das crianças. 
O projeto conceitua castigo corporal como ação disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente, portanto, ficam proibidas as palmadas e os beliscões. Mas muitos alegam que os filhos precisam ser repreendidos em alguns momentos, afinal, é esse o modo de induzir à criação de juízos de valor, da diferenciação de bem e mal. 
Sobre esse assunto, o ministro Vannuchi explica que “não vai levar para a cadeia qualquer pai que bate”. Mas aí vem a pergunta: se a lei diz que todo castigo corporal é proibido, onde termina a palmada educativa e começa a agressão? 
Há ainda quem entenda que a criação do artigo 17-A seja apenas mais um dispositivo inaplicável do nosso ordenamento jurídico. Agredir, torturar e penalizar já são crimes previstos em lei, assim como os maus-tratos de forma genérica, portanto, o projeto não teria propósito, sendo apenas “para inglês ver”. 
Além disso, atualmente não há programas sociais no Brasil que garantam as penalidades. Caso seja aprovado pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados, só mesmo o tempo para deliberar sobre a aplicabilidade do artigo 17-A. É uma boa inclusão no nosso ordenamento jurídico? Sim, mas precisa ser mensurado. Ninguém é a favor da violência, mas algumas palmadinhas podem ajudar a impor limites. Na melhor das hipóteses, o dispositivo atingirá seus objetivos, coibindo a prática dos castigos físicos extremos.
 Por outro lado, pode levar a punições deliberadas ou simplesmente ficar esquecido nos textos legais. 

 2- Palmada: educação ou trauma? A palmada em crianças como medida disciplinar volta a ser discutida na Câmara. Nesta quarta-feira, o presidente Lula encaminhou ao Congresso projeto de lei que acrescenta ao Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, a punição de pais, professores e cuidadores de menores em geral que se utilizarem de castigos corporais ou tratamentos cruéis como forma de correção. Atualmente, o texto do estatuto condena maus-tratos contra a criança e o adolescente, mas não especifica o tipo.
 O projeto de lei encaminhado pelo presidente define castigo corporal como qualquer ação punitiva que utilize força física e cause dor. Já o tratamento cruel é especificado como conduta que humilhe ou ridicularize a criança. 
 O deputado Paulo Lustosa, do PMDB cearense, apoia o projeto e afirma que a violência entre pai e filho equivale ao sequestro do direito da criança. De acordo com Lustosa, a legislação deve ter parâmetros que limitem atitudes violentas nas famílias. "O desafio da legislação, já que você não pode colocar na lei ´você pode dar tantas palmadas por dia´, é tentar estabelecer alguns parâmetros gerais para que a relação de pai e filho não seja marcada pela violência. 

Ou seja: a nossa crença é que a educação, o diálogo, a conversa franca provocam e produzem crianças educadas, crianças respeitosas e crianças não-violentas." Desde 2003, projeto (PL 2654/03) similar ao do presidente Lula tramita na Câmara. Apesar de ter sido aprovado na Comissão de Constituição e Justiça em caráter conclusivo, o projeto não foi enviado ao Senado porque foram apresentados recursos que exigiam a votação da matéria no Plenário. 
A deputada do PT gaúcho Maria do Rosário, autora da proposta de 2003, também apoia o novo projeto. De acordo com Maria do Rosário, o texto do presidente Lula vai corrigir uma falha da Câmara que inviabilizou a votação do texto dela no Plenário. Caso o projeto do Executivo seja aprovado pelo Congresso, os pais que desobedecerem as novas normas sofrerão advertência e poderão ser encaminhados a tratamento psicológico e a programas de orientação e de proteção à família. 
As crianças deverão ter tratamento especializado. 

 E para vocês, é lícito os pais usarem palmadas ou outros castigos corporais moderados na educação de crianças e adolescentes? Disponível em: http://www.camara.gov.br/internet/radiocamara/default.asp?selecao=MAT&Materia=108588 

  DICA : 
Não tenha preguiça de ler textos, livros, jornais e outros.A sua leitura de mundo associada ao seu conhecimento lhe dará o respaldo para um bom texto.Obviamente sem se esquecer da técnica e da linguagem.


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Almas malogradas ... esmagadas pela fatalidade do ‘meio’ : O Cortiço


JOÃO ROMÃO –– esperto, miserável, enganador e invejoso.

“... deixando de pagar todas as vezes que podia e nunca deixando de receber, enganando os fregueses, roubando nos pesos e nas medidas...” (p.15)

Dono da pedreira e do cortiço. Representa o capitalista explorador,o português ganancioso, cuja preocupação em fazer fortuna é tão grande que leva ao relaxamento com a própria aparência, a sujeição ao desconforto e a auto-imposição de um regime de trabalho que ultrapassa muitas vezes o limite físico.
A trajetória da personagem constitui a metonímia do embate da raça com o meio, pois o seu pragmatismo está permanentemente em confronto com a indolência e a sensualidade do temperamento dos habitantes do país que o acolhe.
A sua posterior "aristocratização", atingida após uma profunda mudança em seu comportamento e em sua aparência física, embora revele a ação do meio sobre o comportamento humano e se apresente como uma conseqüência do evolucionismo, não deixa de se apoiar no pragmatismo da personagem, que, após enriquecer, passa a alimentar o sonho de ganhar títulos de nobreza.

BERTOLEZA : quitandeira, escrava cafuza que mora com João Romão, para quem ela trabalha como uma máquina. Esta personagem, negra e mulher, na condição total de inferioridade, ao lado, ou melhor, aos pés de João Romão, no romance aparece sempre como submissa.Trabalhadora, sonhava com a liberdade por meio de uma carta de alforria.
“E, no entanto, adorava o amigo, tinha por ele o fanatismo irracional das caboclas do Amazonas pelo branco a que se escravizam, (...) são capazes de matar-se para poupar do seu ídolo a vergonha do seu amor.”
“... às quatro da madrugada estava já na faina de todos os dias...” (p.14)

PIEDADE – submissa, honesta e trabalhadora. A única personagem diferente em meio a tantas outras iguais. Essa diferença diz respeito sentido aos princípios morais sólidos e bom caráter que possuía. Corretíssima, fiel, sem qualquer vaidade, vive para o marido e em função dele. Ela era tranqüila, nostálgica, conservava os hábitos e a rotina de sua terra natal, não deixava se envolver pelo meio mantinha suas tradições e a esperança de crescer junto com o seu marido em uma terra nova. Ela mantinha essas particularidades enraizadas e, dificilmente, absorveria os costumes e a cultura brasileira.
Mas, ao contrário do que podia parecer, Piedade era uma mulher perspicaz e esperta, percebia dia-a-dia as mudanças do marido e tinha consciência de que iria perdê-lo.
Piedade uma mulher ambígua, ou seja: forte e fraca.

“Piedade merecia bem o seu homem, muito diligente, sadia, honesta, forte, bem acomodada com tudo e com todos, trabalhando de sol a sol e dando sempre tão boas contas da obrigação, que os seus fregueses de roupa, apesar daquela mudança para Botafogo, não a deixaram quase todos.” (p.42)

JERÔNIMO– forte, trabalhador, dedicado e honesto. Português “cavouqueiro”, trabalhador da pedreira de João Romão, representa a disciplina do trabalho.
Jerônimo, por sua vez, percorre o caminho inverso. É, a princípio, delineado
como homem honesto, fisicamente forte, de caráter sério e bons costumes, admirado
pela sua simplicidade e disposição para o trabalho. Assim que chega ao cortiço, mantém o comportamento saudosista do imigrante, a busca de fidelidade às origens, que se revela, por exemplo, por meio do hábito de sentar-se à porta, dedilhando os fados de sua terra natal:

“... a força de touro que o tornava respeitado e temido por todo pessoal...”
“... grande seriedade do seu caráter e a pureza austera dos seus costumes...” (p.42)
“... um pulso de Hércules...” (p.43)

Após conhecer Rita Baiana, uma mulata sensual, Jerônimo se torna um homem diferente. Abandona a esposa e a filha, trama o assassinato do amante de Rita,endivida-se, aproximando-se da imagem do malandro carioca.
Os primeiros sinais da transformação dão-se justamente na esfera onde naturalmente se opera a resistência, pois logo Jerônimo passa a rejeitar a culinária de sua terra, perguntando à mulher porque não experimenta fazer "uns pitéus à moda de cá", e deixa a guitarra de lado, exceto para tentar tocar as modinhas que Rita Baiana cantava. O abrasileiramento de Jerônimo traduz a perspectiva naturalista de sujeição aos imperativos do ambiente.


D. ESTELA – adultera e presunçosa.
“...senhora pretensiosa e com fumaças de nobreza...” (p.16)

Sua hipocrisia e sadismo,mostram uma mulher que infringiu as regras da sociedade sob a proteção do marido.Estela recebeu vida na obra de Aluísio como uma crítica ao casamento e, sobretudo ao casamento de conveniência existente na época.
Ela desperta curiosidade, pois, a princípio, parece-nos uma vítima de uma sociedade que obrigava uma moça a casar-se “comercialmente”. Se ela tinha coragem para trair o marido, por que não tinha coragem para romper barreiras e ir atrás de sua própria liberdade? Estela, dentre todos os outros personagens, era a mais manipuladora, sádica, sarcástica e de uma crueldade sem tamanho.

“... Ah! Ela contava como certo que o esposo, desde que não teve coragem de separar-se de casa, havia, mais cedo ou mais tarde, de procurá-la de novo. Conhecia-lhe o temperamento, forte para desejar e fraco para resistir ao desejo.” (p.20)

Era uma mulher leviana, dominadora e tinha plena consciência de que o marido era um homem fraco para quem as aparências valiam muito mais que o amor e o respeito próprio.Não possui princípios morais, é uma prostituta escondida sob o manto de “dama”. Ela conhece o ódio do marido por ela, mas sabe que mesmo a odiando e mantendo com ela um casamento de aparências, ele não resiste aos seus impulsos sexuais e a procura, causando–lhe uma estranha sensação de poder e dominação.

MIRANDA – Barão de Freixal. Esperto, oportunista, não era feliz no casamento.

“... o Miranda pilhou-a em flagrante delito de adultério; ficou furioso e o seu primeiro impulso foi de mandá-la para o diabo junto com o cúmplice; mas a sua casa comercial garantia-se com o dote que ela trouxera...” (p.16)

Comerciante português. Principal opositor de João Romão. Mora num sobrado, ao lado do cortiço. Ambicioso , no entanto, prefere enriquecer por meios mais brandos, como pelo casamento com uma brasileira cujo dote era o que garantia a sua loja de fazendas por atacado. A manutenção da situação econômica atingida era mais importante do que seu orgulho de homem, posto que, apesar de saber- se traído, não ousava separar-se dela:

“Prezava, acima de tudo, a sua posição social e tremia só com a idéia de ver- se novamente pobre, sem recursos e sem coragem para recomeçar a vida, depois de se haver habituado a umas tantas regalias e afeito à hombridade de português rico que já não tem pátria na Europa.”


RITA BAIANA :personagem estereotipada da mulata sensual, alegre e assanhada. Rita é a mulher independente e rebelde, que diferente de Bertoleza, oprime e seduz os homens, desmoronando a idéia de modelo patriarcal da sociedade em que a mulher era apenas objeto, Rita Baiana criticando até mesmo a instituição casamento vai contra toda uma ordem estabelecida.

“E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas. Irrequieta, saracoteando o atrevido e rijo quadril baiano, respondia para a direita e para a esquerda, pondo à mostra um fio de dentes claros e brilhantes que enriqueciam a sua fisionomia com um realce fascinador.” (p.45)

A sensualidade, como uma característica ligada à identidade, é uma propriedade e uma marca da mulata de O cortiço, pois a sexualização costuma ser uma figura de controle ou dominação, pois a caracterizando como mulata ela se distancia um pouco da condição de negra, escrava e inferior

“Também cantou. E cada verso que vinha da sua boca de mulata era um arrulhar choroso de pomba no cio. E o Firmo, bêbedo de volúpia, enroscava-se todo ao violão; e o violão e ele gemiam com o mesmo gosto, grunhindo, ganindo, miando, com todas as vozes de bichos sensuais, num desespero de luxúria que penetrava até ao tutano com línguas finíssimas de cobra."( Zoomorfismo)

FIRM0– gastador, galanteador, charlatão e presunçoso.
“... era um mulato pachola, delgado de corpo e ágil como um cabrito; capadócio de marca, pernóstico, só de maçadas, e todo ele se quebrando nos seus movimentos de capoeira.”
“...Era oficial de torneiro, oficial perito e vadio: ganhava uma semana para gastar num dia...” (p.49

POMBINHA ;” a flor do cortiço” .Fraca, nervosa, doente, loira, muito pálida, sua sensualidade está associada a doses de inocência, pureza, boa família, asseada. A relação homossexual entre Pombinha e sua madrinha Léonie se dão em conseqüência de um estupro.Pombinha rompe drasticamente com os padrões impostos por ima sociedade preconceituosa, desigual,desumana. A ruptura acontece quando Pombinha se separa do seu marido, após adultério. Atirou-se as coisas mundanas e foi morar com Léonie, mais sustentava a mãe com o dinheiro da prostituição, a qual se tornou perita e com sua sagacidade, conquistava todos os homens.

“A filha era a flor do cortiço (...) Bonita, posto que enfermiça e nervosa ao último ponto: loura muito pálida, com uns modos de menina de boa família.”
“...era muito querida por toda aquela gente.” (p.31)
“O que mais a desgostava, e o que ela não podia tolerar sem apertos de coração, era ver a pequena endemoninhar-se com champanha depois do jantar e pôr-se a dizer tolices e a estender-se ali mesmo no colo dos homens. Chorava sempre que a via entrar ébria, fora de horas, depois de uma orgia; e, de desgosto em desgosto, foi-se sentindo enfraquecer e enfermar , até cair de cama e mudar-se para uma casa de saúde, onde afinal morreu.” (p. 200, 201) “Era quem escrevia cartas (...) quem tirava as contas; quem lia os jornais...” (p.32)


LÉONIE: independente, pervertida, impura.Mulher de procedência francesa que possuía um sobrado na cidade, o que demonstrava status. Buscava relação sexual para satisfazer-se. Subjuga e seduz a afilhada (Pombinha) “... “...com as suas roupas exageradas e barulhentas de cocote à francesa, levantava rumor quando lá ia e punha expressões de assombro em todas as caras.” (p.74)
Léonie saltava para junto dela e pôs-se a beijar-lhe, á força, os ouvidos e o pescoço, fazendo-se muito humilde, adulando-a, comprometendo-se a ser sua escrava e obedecer-lhe como um cachorrinho. (p.137).”
“(...) Leonie fingia prestar-lhe atenção e nada mais fazia do que afagar-lhe a cintura, as coxas e o colo. Depois, como que distraidamente, começou a desabotoar-lhe o corpinho do vestido.” (p. 119)”

ZULMIRA – fruto de um casamento malogrado, é rejeitada pelos pais.Representa um “ investimento” vantajoso quando torna-se pretendente de João Romão.
“...pálida, magrinha, com pequeninas manchas roxas nas mucosas do nariz, das pálpebras e dos lábios (...) olhos grandes, negros, vivos e maliciosos.” (p.23)
Henrique – estimado de Dona Estela.
“Dona Estela, no cabo de pouco tempo, mostrou por ele estima quase maternal...” (p.24)

Botelho – antipático e parasita.
“... muito macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre...” (p.24)
“...via-se totalmente sem recursos e vegetava à sombra do Miranda...” (p.25)

ARRAIA-MIÚDA – representada por lavadeiras, caixeiros, trabalhadores da pedreira e pelo policial Alexandre.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Cortiço - 1890 - Um painel da sociedade.



Aluísio de Azevedo

ESTRUTURA :

O livro compreende 23 capítulos ,sem títulos, são apenas numerados.

NARRADOR
Terceira pessoa, onisciente (que tem conhecimento de tudo).
O narrador tem poder total na estrutura do romance: entra no pensamento dos personagens, faz julgamentos e tenta comprovar, como se fosse um cientista, as influências do meio, da raça e do momento histórico. Há predomínio do discurso indireto livre

Há uma aparente imparcialidade, como se o narrador apenas assistisse a um espetáculo que se desenrola diante de seus olhos, mas ao representar a realidade de forma objetiva mostra uma posição ideologicamente tendenciosa. O narrador, como cientista, pode saber o que influencia o personagem, mas esse, como cobaia, não possui tal prerrogativa.

Segundo Rui Mourão: “<...> podendo, em consequência, deslocar o foco narrativo da maneira que bem entender, sem consideração das circunstâncias de espaço e tempo<...>”.


TEMPO

Brasil do século XIX, últimos anos,sem precisão de datas Observa-se linearidade, com princípio, meio e desfecho da narrativa. Há, no entanto, que ressaltar a relação do tempo com o desenvolvimento do cortiço e com o enriquecimento de João Romão.

ESPAÇO
São dois os espaços configurados na obra.

O cortiço, amontoado de casebres mal-arranjados, onde os pobres vivem. Esse espaço representa a mistura de raças e a promiscuidade das classes baixas. Funciona como um organismo vivo. Junto ao cortiço estão a pedreira e a taverna do português João Romão.

O sobrado aristocrático , território do comerciante Miranda e de sua família. O sobrado representa a burguesia ascendente do século XIX. Esses espaços fictícios são enquadrados no cenário do bairro de Botafogo, explorando a exuberante natureza local como meio determinante. Dessa maneira, o sol abrasador do litoral americano funciona como elemento corruptor do homem local.


PERSONAGENS :


O personagem principal do romance é o cortiço, pois é o núcleo gerador de toda a história. Apesar de seu crescimento, desenvolvimento e transformação acompanharem os mesmos estágios na vida de João Romão, é, na verdade, o estabelecimento que muda o dono, não o contrário. A evolução do cortiço um processo que não se pode evitar ou reverter, determinado desde o início da história, tendo João Romão agido com seu instinto de homem desprovido de livre-arbítrio .

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.

Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo.(…).

O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.


Os personagens da obra são psicologicamente superficiais, ou seja, há a primazia de tipos sociais. Dividem-se em:

Pobres – pretos, mulatos e brancos, que são os moradores do cortiço; vivem e trabalham para suprir suas necessidades básicas, entretanto são felizes e alguns deles não estão preocupados com o amanhã.

Ricos – portugueses enriquecidos, que moram no sobrado ao lado do cortiço,vivem hipocritamente abraçados a seus títulos e riquezas. Eles são o retrato dos nossos “burgueses”.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A cegueira ética da humanidade.

Cegos são os que têm olhos e não vêem (Saramago) 

Se puderes olhar, vê. Se podes ver, repara.(Citado no "Livro dos conselhos", de El-Rei Dom Duarte) 

  Cegueira :s.f. estado do que perdeu a vista;
 fig. extrema afeição, adoração;fanatismo, obcecação;ignorância. 

 Vladimir Jankélévitch : o homem vive a maior parte da vida de olhos fechados para a moral 28 de fevereiro de 2009 / O Estadao de S.Paulo

  Para o filósofo e musicólogo francês Vladimir Jankélévitch (1903- 1985), "o homem é um ser virtualmente ético, que existe como tal, isto é, como ser moral". Mas completa a frase com uma afirmação surpreendente: ele é um ser moral "de tempos em tempos e de longe em longe - de muito longe em muito longe". Sem dúvida, parece haver algum sarcasmo nessas palavras, mas trata-se apenas de simples e lúcida constatação: a de que embora os homens não possam prescindir dos seus valores, a verdade é que passam a maior parte do tempo de suas vidas numa espécie de cegueira moral ou ética, algo que Jankélévitch chama de "eclipses da consciência", "anestesiamento moral". 
Em outras palavras, o homem vive transigindo com os próprios valores, praticamente alheio aos princípios que diz acreditar: em suma, fala uma coisa e vive outra. Mas basta algo ameaçar o seu castelo de areia e, então, a moral ressurge forte como a guardiã desse homem e da sociedade. "A moral tem sempre a última palavra", diz Jankélévitch. De fato, nada parece descrever melhor a existência humana do que o eterno conflito, o embate contínuo entre os desejos e as necessidades mais profundas do indivíduo e a vida social, as obrigações e os deveres para com "o outro". 
Para Jankélévitch, a moral sempre será um problema filosófico, e o primeiro deles, independente de ser chamada de ética ou de qualquer outro nome. Afinal, o homem é um animal social e, nesse sentido, o "outro" (queiramos ou não) estará sempre em nosso horizonte, senão o tempo inteiro, ao menos nos momentos mais drásticos e decisivos. É isso que defende Jankélévitch em seu livro O Paradoxo da Moral. Nele, deparamo-nos não com a exposição de valores morais atemporais, mas com a descrição minuciosa e sensível dos mais profundos dilemas humanos, do desespero diante das difíceis escolhas da vida, do eterno medo de desviar-se das obrigações por causa das paixões e dos prazeres e até mesmo as incertezas de se viver um grande amor, não apenas quando ele se choca com as conveniências sociais, mas pela natureza paradoxal dessa entrega total e atordoante. (...)

 Mas será mesmo a moral algo inescapável? Será que o "eu" é sempre privado de seus direitos à felicidade ou à liberdade em prol dos "outros"? Sim e não. Claro, somos seres sociais, mas sem felicidade individual também não pode haver felicidade coletiva (e disso entendiam bem os gregos). É verdade que a vida em sociedade exige que o indivíduo ponha o grupo acima de seus desejos mesquinhos e egoístas, mas não de suas necessidades reais, vitais, essenciais; uma moral ou uma sociedade que exige isso age "contranatura", age contra o próprio homem. Eis o que Nietzsche já havia nos mostrado. 

 Em outros termos, numa moral de renúncia total, o homem torna-se um ser cheio de imposturas e falsidades: eis porque a palavra empenhada e as promessas feitas serão em geral traídas ou cinicamente vividas (porque, no fundo, o homem não consegue e não pode abrir mão completamente dos seus desejos e paixões; ele apenas os viverá de modo hipócrita e atormentado). Se há algo que Nietzsche ensinou de superior a todos os outros filósofos é que tendo sido o próprio homem o criador de seus valores é sempre possível transfigurá-los, recriá-los. 

No fundo, a diferença capital entre Nietzsche e Jankélévitch é que se, para Jankélévitch, o homem vive anestesiado quando fecha os olhos para a moral que o constituiu, para Nietzsche, a moral acaba se convertendo no próprio anestesiamento do homem quando esses valores estão fundamentados em quimeras e falsos pressupostos. Regina Schöpke é filósofa, historiadora e atualmente faz pós-doutorado na Unicamp O Ensaio sobre a cegueira é uma crítica aos valores sociais, expondo o caos a que se chega quando a maioria da população cega. Revela traços da sociedade portuguesa contemporânea, vislumbrando a maneira como as pessoas vivem através de suas descrições das casas, dos utensílios, das roupas. 
As personagens não têm nomes, sendo descritas por características próprias – o primeiro cego, o médico, a mulher do primeiro cego, a rapariga de óculos, entre tantos outros que aparecem no desenrolar da narrativa, onde uma epidemia se alastra a partir de um homem que cega esperando o semáforo abrir. Inexplicável é a imunidade da mulher do médico, parecendo que sua bondade, sua preocupação com o marido, mesmo convivendo entre os cegos sem medo de cegar, a impede de contrair a moléstia. Mas a solidariedade da mulher do médico estende-se, ainda, àqueles de convívio mais estrito, sendo verdadeiro anjo de guarda dos que dividem com ela a enfermaria do hospício abandonado em que são confinados os primeiros a contrair o mal. De característica onisciente, a narrativa leva-nos a refletir sobre a moral, os costumes, a ética e o preconceito, pois faz com que a mulher do médico se depare com situações inadmissíveis às pessoas em condições normais. Exposta à sujeira, a uma existência miserável em todos os sentidos, ela mata para preservar a si e aos demais, e se depara com a morte de maneira bizarra após a saída do hospício: os cadáveres se espalham pelas ruas, o fogo fátuo aparece debaixo das portas do armazém onde, dias antes, ela buscou víveres.

 A igreja com os santos de olhos vendados pode ser caracterizada como um dos momentos poéticos da obra: se os céus não vêem, que ninguém veja, numa alusão velada às idéias do filósofo Friderich Nietzshe, "se deus está morto, então tudo posso". Saramago ainda brinca com a imaginação do leitor nas últimas linhas, deixando implícita a cegueira daquela que foi a única que viu em meio à treva branca, justamente no momento em que todos recuperam, aos poucos, a visão. 
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/6945/1/Analise-Da-Obra-Ensaio-Sobre-A-Cegueira-De-Jose-Saramago/pagina1.html#ixzz0wuLY98zV

  CEGUEIRA :Uma das coisas extremamente constrangedoras que tantos prejuízos traz ao homem é a cegueira. Muito já se falou sobre a grande utilidade dos olhos. Alguns poetas, para embelezar seus poemas, afirmam que “os olhos são as janelas da alma”. Não deixa de ser uma realidade. Ser cego é estar privado da contemplação de toda a beleza que permeia o universo, tais como: a beleza das flores; o esplendor do sol, tanto quando nasce como quando se põe no horizonte; a beleza do ser humano; o azul incomparável das águas dos oceanos e tantas outras belezas que contemplamos ao nosso redor. Quando assim falamos, estamos nos referindo à cegueira física, que nos impede de ver todo o universo que Deus criou. Nesta palavra, queremos chamar a atenção de todos para a maior e mais perigosa de todas as cegueiras, que é a cegueira moral. Nesse aspecto, temos muitos tipos de cegos. Temos aqueles que não querem ver; os que vêem as coisas e os fatos à luz de seus próprios conceitos e movidos por interesses muitas vezes mesquinhos; os que delimitam a sua visão dentro de um círculo previamente concebido e se firmam dentro dessa delimitação para se tornarem egocêntricos; os que vêem com a mente; os que enxergam com a emoção, com os sentimentos, com a razão, com preconceitos e com parcialidade. 

 A cegueira moral leva o homem ao indiferentismo, à ignorância dos fatos que o cercam, das necessidades que se avolumam e o levam ao desespero, à dor, à tortura mental, à angústia, à tristeza e, fatalmente, à morte. Como é bom se ter uma visão imparcial e amplificada de tudo o que nos cerca, relacionado com o ser humano; como é salutar enxergarmos as necessidades alheias e estendermos as mãos para o auxílio, para a ajuda, para levantarmos tantos que são destruídos pelo desconhecido. Como é maravilhoso vermos que os que nos cercam fazem parte de nossa vida e nos completam naquilo que nos falta. Ignorarmos os problemas alheios quando eles nos são visíveis e até palpáveis é atestarmos a nossa insanidade visual da realidade. Muitas vezes deixamos de atentar para os reclamos do nosso próximo e nos fechamos dentro de nosso comodismo. Deixamos de minimizar o sofrimento daqueles que fazem parte de nosso círculo familiar, profissional, religioso, tudo porque nos mantemos distantes, alheios, indiferentes, egoístas, avarentos, presunçosos .

Proposta: Moral? Dignidade? Só existem se pudermos vê-las com olhos cegos. Mentes claras não percebem nem moral, nem dignidade escusa e falsa. Tudo padece ao instinto de sobrevivência e tudo perece em frente à fome, ao sexo leviano, à hipocrisia, às virtudes e à violência física. Quem enxerga os outros? Numa sociedade que só tem feito aperfeiçoar os meios favoráveis ao culto do egocentrismo e do distanciamento, despida de solidariedade, de afeto, calcada na hostilidade e na agressividade territorial primitiva (mas que vem banhada por cintilâncias tecnológicas), o Outro só pode ser conhecido através da calamidade. A cegueira moral em que todos vivemos é o tema em discussão. 

  Para reflexão "... se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as conseqüências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que tanto se fala" Saramago- E.C. pg 84

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Personagens densos,sofridos reais :Capitães da Areia




Pedro Bala
Era um jovem loiro de 15 anos, que tinha um corte no rosto. Era o chefe dos Capitães da Areia, ágil, esperto, respeitador e sabia respeitar a todos. Saiu do grupo para comandar e organizar os Índios Maloqueiros em Aracaju, desejando com líder do grupo Barandão. Depois disso ficou muito conhecido por organizar várias greves, como perigoso inimigo da ordem estabelecida.

Professor
Era um garoto magro, inteligente, calmo e o único que sabia ler no grupo. O professor era quem planejava os roubos dos Capitães da Areia.

Gato
Era o mais bonito e mais elegante da turma. Tinha em caso com Dalva mulher das noites que todo o dia ia vê-la. Participava dos planos mais arriscados e era muito malandro e esperto. Tempos depois foi embora para Ilheús tentar a sorte.

Sem Pernas

Era um garoto pequeno para sua idade, coxo de uma perna, agressivo, individualista. Era quem penetrava nas casas de família fingindo ser um pobre órgão com o objetivo de descobrir os lugares da casa, onde ficavam os objetos de valor depois fugia e os Capitães da Areia assaltavam a casa. Seu destino foi suicidar-se atirando-se do parapeito do elevador Lacerda, pelo ódio que nutria pela polícia baiana.

João Grande
Era um negro alto, forte e burro. Era também o defensor dos menino pequenos do grupo. Era figura importante no grupo, e realizava os mais audaciosos furtos ao lado de Bala, seu destino foi se mandar como ajudante num navio.

Pirulito

Era magro e muito alto, um cara seca, meio amarelado, olhos fundos, boca rasgada e pouco risonha. Era o único do grupo que tinha vocação religiosa apesar de pertencer ao Capitães da Areia. Quando parou de roubar, para sobreviver vendia jornais, seu destino foi ajudar o padre José Pedro numa paróquia distante.

Boa Vida
Era mulato troncudo e feio, o mais malandro do grupo, e sabia tocar violão, também participava dos principais roubos do grupo. Seu destino foi virar um verdadeiro malandro, que vivia a correr pelos morros compondo sambas.

Volta Seca
Era um mulato sertanejo, afilhado de Lampião que odiava a polícia. Seu destino foi ir para o Nordeste na rabada de um trem, até entrar no grupo de Lampião e virar um cangaceiro destinado.

Dora
Tinha treze para quatorze anos, era a única mulher do grupo e se adaptou bem a ele. Era uma menina muito simples, dócil, bonita, simpática e meiga. Conquistou facilmente o grupo com seus cabelos lisos. Seus pais haviam morrido de alastrine e ela ficou sozinha no mundo com seu irmão pequeno. Tentou arrumar emprego, mais ninguém queria empregar filha de bexiguento. Aí ela encontrou João Grande e professor que a chamaram para morar no Trapiche, e logo ela já era considerada por todos como uma mãe, irmã e para Bala uma noiva. Ela participava dos roubos com os outros meninos.