sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Vamos criar um artigo de opinião?



O artigo de opinião é um gênero jornalístico argumentativo escrito, publicado em jornais,revistas e internet, e sempre assinado. A assinatura identifica o autor, o responsável pela opinião.


A produção de um artigo de opinião pressupõe a existência de uma situação social de comunicação na qual estão envolvidos pelo menos um jornal ou uma revista, seu editor, um articulista por este convidado e leitores interessados em conhecer a opinião do referido articulista sobre determinados assuntos.

Os articulistas são em geral pessoas que não fazem parte do quadro de funcionários do jornal, mas especialistas no assunto que está sendo discutido, ou homens públicos que são convidados para escrever a sua opinião, não necessariamente a mesma do jornal. Eles representam áreas de atuação,como, por exemplo, a médica, a jurídica, a política, a sindical e outras, das quais são porta-vozes.

São homens reconhecidos por sua competência social ou profissional e, por isso mesmo, grandes formadores de opinião. São exemplos de articulistas Antônio Ermírio de Moraes, que representa parte do empresariado; José Sarney, uma certa posição política; e Ives Gandra da Silva Martins,advogado tributarista, porta-voz de parte do meio jurídico.

Esse reconhecimento é confirmado pelo jornal, que vê os articulistas como formadores de opinião e abre um espaço para que mostrem sua posição sobre um assunto, e pelo leitor, que os identifica como autoridades no tema tratado.

Como o artigo de opinião não é a divulgação de um fato, mas uma resposta ao que já se disse sobre ele, os articulistas tomam aquilo que já foi dito como objeto de crítica, de questionamento ou de concordância. Eles emitem seu ponto de vista e incorporam ao seu discurso a fala das outras pessoas que já se pronunciaram a respeito do tema, valorizando-a ou desqualificando-a. Dessa maneira, é como se eles se movimentassem em seus textos, ora se aproximando do que alguém já disse sobre o assunto e acolhendo-o, ora se afastando da opinião dos outros e contestando-a. No artigo, portanto, estão presentes diferentes vozes.

Todo esse movimento é feito tendo em vista o leitor, porque é para convencê-lo ou persuadi-lo que os articulistas escrevem. Para tanto, procuram engajá-lo na posição de aliado, antecipar suas possíveis objeções e levá-las em conta, incluindo-as em seu texto. Buscam também, na posição de articulistas que representam setores sociais, colocar seu ponto de vista como sendo “a verdade”.

O tom é o da persuasão.

O artigo de opinião é marcado por essa situação de produção, revelada, entre outras coisas, por marcas linguísticas que anunciam a posição dos articulistas (por exemplo, “penso que”, “do nosso ponto de vista”), introduzem os argumentos (“porque”, “pois”), trazem para o texto diferentes vozes (“alguns dizem que”, “as pesquisas apontam”, “os economistas argumentam que”), introduzem a conclusão (“portanto”, “logo”).

Resumindo:

Artigo de Opinião

Quem escreve: Um articulista que é autoridade em um assunto e é convidado por um jornal para dar sua opinião sobre algo polêmico que foi noticiado pelo jornal.

Para quem escreve: Para leitores interessados em saber sua opinião sobre a questão que causou polêmica.

Por que escreve: Para convencer seus leitores de que sua posição é a mais correta, argumentando sobre ela.

Onde circula o texto, habitualmente: Em jornais impressos ou virtuais e em revistas.

O que não pode faltar: A questão polêmica, as vozes que debatem a questão, a posição que o autor toma diante da polêmica, os argumentos que utiliza, a conclusão que fecha seu artigo.



Modelo de artigo de opinião.

FERNANDA TORRES

Eleições: o dom de iludir

O candidato é um ator em eterno teste; uma condição vexatória e desconfortável.

O que leva alguém a se candidatar à Presidência? A ser tão bisbilhotado, ofendido, pesquisado e aviltado? Que papel grandioso é esse cujo ensaio, estreia e temporada custam o fígado do próprio intérprete?

A política é um palco letal, o Coliseu romano da atualidade. Um lugar de ódios milenares, mágoas irreparáveis, conciliações imperdoáveis e, também, do temível ridículo. Eu seria incapaz de atuar sob tamanha pressão.

Não se trata apenas de dar conta de Rei Lear: tem que voar no jatinho, fazer a carreata, comer dobradinha, andar de mula e enfrentar a tempestade do Crato ao Pampa gritando “Uiva vento!” pelos palanques.

Tem que ter sangue de barata, paciência de Jó, cara de pau e vontade de elefante.

Outro dia me mandaram um link na internet onde a Dilma Rousseff se embananava toda para responder a uma simples questão: “Que livro a senhora está lendo?”

Qualquer um que cultive o prazer de ler sabe que um ser humano que está em plena campanha presidencial não tem cabeça nem tempo para se dedicar à leitura.

Talvez a “Arte da Guerra”, de Sun Tzu, entre um programa do Ratinho e outro, seja o único exemplar que resista ao tranco, por seu conteúdo bélico de autoajuda milenar.

Mas admitir que não está lendo porcaria nenhuma é encarar as manchetes do dia seguinte afirmando que fulano, ou fulana de tal, é um energúmeno, um(a) ignorante não afeito às letras.

Por isso Dilma se contorce, tentando se lembrar do último livro que leu, o que só consegue com a ajuda dos assessores. A duras penas acerta o título e a mais duras ainda arrisca um resumo dele. A pergunta corriqueira, quem diria, a colocou em um mato sem cachorro.

Se a tivessem arguído a respeito da política de juros, da dívida pública ou até mesmo de um espinhoso tema como o aborto, ela estaria apta a responder. Bastou uma perguntinha pessoal para que Dilma se afastasse brechtianamente da ciranda da candidata e caísse em si mesma, perdendo o fio do personagem.

O candidato é um ator em eterno teste. Uma condição vexatória e terrivelmente desconfortável.

José Serra escolheu o perfil do conciliador boa-praça, se manteve bem no personagem até que perdeu a paciência na rádio CBN diante da prensa de Míriam Leitão. Míriam, aliás, tem sido dos ossos mais duros de roer para os que estão na corrida presidencial.

Serra soltou um desabafo irritado a respeito do que pensava da relação entre a Presidência e o Banco Central. Depois, teve que remar forte para recuperar a imagem que passou semanas construindo, justificando de forma sincera que o horário matutino lhe havia puxado o tapete.

Qualquer razão idiota, como pular da cama cedo, pode colocar tudo a perder; da mesma forma que um celular que toca no meio de um espetáculo pode fazer Macbeth desencarnar de vez da alma de um ator.

A verdade e a franqueza são armas de destruição em massa na política, é necessário saber ocultá-las com desenvoltura e, muitíssimas vezes, mentir com convicção.

Marina Silva não titubeia, ela é a terceira via, pode dizer o que pensa. Apesar de ter sido ministra, ela não passa pelo comprometimento político dos dois outros adversários, pertencentes a partidos que já ocuparam o Planalto e fizeram alianças muitas vezes incompreensíveis para poder governar.

Marina está dentro e fora do jogo, uma posição importante e confortável.

Glorinha Beautmüller, fonoaudióloga e preparadora vocal de inúmeros atores e políticos, é uma figura lendária, dona de intuição aguçada, métodos nada ortodoxos e técnica que visa ancorar a palavra ao corpo e aos sentidos do palestrante.

Profissional ímpar, ela já botou de quatro modelos com ambições a atriz, para que perdessem a pose enquanto recitavam um texto, e aconselhou com veemência que Cláudia Jimenez falasse pela vagina na sua estreia no teatro profissional como uma das prostitutas de “A Ópera do Malandro”. Ao que Claudia, com seu talento e humor de sempre, respondeu, aplicada: “Eu estou tentando, Glorinha, estou tentando!”

Uma vez, a maga foi chamada às pressas a Brasília para atender um político repentinamente afônico e necessitado de discursar. Segura, não pestanejou no diagnóstico: “Meu filho, você está rouco desse jeito porque você mente demais!”

Hoje, o político ideal deve reunir o carisma de Sílvio Santos, a classe de Paulo Autran, a astúcia de Alexandre, o Grande, a retórica de Ruy Barbosa, o empreendedorismo de Antônio Ermírio, a responsabilidade do doutor Paulo Niemeyer, o desapego de Buda, a razão de Confúcio, a bondade de Cristo e ainda sair vivo da arena quando soltarem os leões famintos atrás da sua carne. Essa pessoa não existe. O político, portanto, tem que ter o dom de iludir.

Folha de S.Paulo / 29/05/2010
Proposta :

Selecione em um jornal – atualizado- um assunto/ fato em pauta nos editoriais e escreva um artigo de opinião sobre o tema escolhido.


OBS IMPORTANTE : Lembre-se de que o corretor não adivinha o que você quer dizer, assim como você não terá espaço ilimitado : seja claro e sucinto.

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