quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Cortiço - 1890 - Um painel da sociedade.



Aluísio de Azevedo

ESTRUTURA :

O livro compreende 23 capítulos ,sem títulos, são apenas numerados.

NARRADOR
Terceira pessoa, onisciente (que tem conhecimento de tudo).
O narrador tem poder total na estrutura do romance: entra no pensamento dos personagens, faz julgamentos e tenta comprovar, como se fosse um cientista, as influências do meio, da raça e do momento histórico. Há predomínio do discurso indireto livre

Há uma aparente imparcialidade, como se o narrador apenas assistisse a um espetáculo que se desenrola diante de seus olhos, mas ao representar a realidade de forma objetiva mostra uma posição ideologicamente tendenciosa. O narrador, como cientista, pode saber o que influencia o personagem, mas esse, como cobaia, não possui tal prerrogativa.

Segundo Rui Mourão: “<...> podendo, em consequência, deslocar o foco narrativo da maneira que bem entender, sem consideração das circunstâncias de espaço e tempo<...>”.


TEMPO

Brasil do século XIX, últimos anos,sem precisão de datas Observa-se linearidade, com princípio, meio e desfecho da narrativa. Há, no entanto, que ressaltar a relação do tempo com o desenvolvimento do cortiço e com o enriquecimento de João Romão.

ESPAÇO
São dois os espaços configurados na obra.

O cortiço, amontoado de casebres mal-arranjados, onde os pobres vivem. Esse espaço representa a mistura de raças e a promiscuidade das classes baixas. Funciona como um organismo vivo. Junto ao cortiço estão a pedreira e a taverna do português João Romão.

O sobrado aristocrático , território do comerciante Miranda e de sua família. O sobrado representa a burguesia ascendente do século XIX. Esses espaços fictícios são enquadrados no cenário do bairro de Botafogo, explorando a exuberante natureza local como meio determinante. Dessa maneira, o sol abrasador do litoral americano funciona como elemento corruptor do homem local.


PERSONAGENS :


O personagem principal do romance é o cortiço, pois é o núcleo gerador de toda a história. Apesar de seu crescimento, desenvolvimento e transformação acompanharem os mesmos estágios na vida de João Romão, é, na verdade, o estabelecimento que muda o dono, não o contrário. A evolução do cortiço um processo que não se pode evitar ou reverter, determinado desde o início da história, tendo João Romão agido com seu instinto de homem desprovido de livre-arbítrio .

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.

Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo.(…).

O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.


Os personagens da obra são psicologicamente superficiais, ou seja, há a primazia de tipos sociais. Dividem-se em:

Pobres – pretos, mulatos e brancos, que são os moradores do cortiço; vivem e trabalham para suprir suas necessidades básicas, entretanto são felizes e alguns deles não estão preocupados com o amanhã.

Ricos – portugueses enriquecidos, que moram no sobrado ao lado do cortiço,vivem hipocritamente abraçados a seus títulos e riquezas. Eles são o retrato dos nossos “burgueses”.

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