segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A cegueira ética da humanidade.

Cegos são os que têm olhos e não vêem (Saramago) 

Se puderes olhar, vê. Se podes ver, repara.(Citado no "Livro dos conselhos", de El-Rei Dom Duarte) 

  Cegueira :s.f. estado do que perdeu a vista;
 fig. extrema afeição, adoração;fanatismo, obcecação;ignorância. 

 Vladimir Jankélévitch : o homem vive a maior parte da vida de olhos fechados para a moral 28 de fevereiro de 2009 / O Estadao de S.Paulo

  Para o filósofo e musicólogo francês Vladimir Jankélévitch (1903- 1985), "o homem é um ser virtualmente ético, que existe como tal, isto é, como ser moral". Mas completa a frase com uma afirmação surpreendente: ele é um ser moral "de tempos em tempos e de longe em longe - de muito longe em muito longe". Sem dúvida, parece haver algum sarcasmo nessas palavras, mas trata-se apenas de simples e lúcida constatação: a de que embora os homens não possam prescindir dos seus valores, a verdade é que passam a maior parte do tempo de suas vidas numa espécie de cegueira moral ou ética, algo que Jankélévitch chama de "eclipses da consciência", "anestesiamento moral". 
Em outras palavras, o homem vive transigindo com os próprios valores, praticamente alheio aos princípios que diz acreditar: em suma, fala uma coisa e vive outra. Mas basta algo ameaçar o seu castelo de areia e, então, a moral ressurge forte como a guardiã desse homem e da sociedade. "A moral tem sempre a última palavra", diz Jankélévitch. De fato, nada parece descrever melhor a existência humana do que o eterno conflito, o embate contínuo entre os desejos e as necessidades mais profundas do indivíduo e a vida social, as obrigações e os deveres para com "o outro". 
Para Jankélévitch, a moral sempre será um problema filosófico, e o primeiro deles, independente de ser chamada de ética ou de qualquer outro nome. Afinal, o homem é um animal social e, nesse sentido, o "outro" (queiramos ou não) estará sempre em nosso horizonte, senão o tempo inteiro, ao menos nos momentos mais drásticos e decisivos. É isso que defende Jankélévitch em seu livro O Paradoxo da Moral. Nele, deparamo-nos não com a exposição de valores morais atemporais, mas com a descrição minuciosa e sensível dos mais profundos dilemas humanos, do desespero diante das difíceis escolhas da vida, do eterno medo de desviar-se das obrigações por causa das paixões e dos prazeres e até mesmo as incertezas de se viver um grande amor, não apenas quando ele se choca com as conveniências sociais, mas pela natureza paradoxal dessa entrega total e atordoante. (...)

 Mas será mesmo a moral algo inescapável? Será que o "eu" é sempre privado de seus direitos à felicidade ou à liberdade em prol dos "outros"? Sim e não. Claro, somos seres sociais, mas sem felicidade individual também não pode haver felicidade coletiva (e disso entendiam bem os gregos). É verdade que a vida em sociedade exige que o indivíduo ponha o grupo acima de seus desejos mesquinhos e egoístas, mas não de suas necessidades reais, vitais, essenciais; uma moral ou uma sociedade que exige isso age "contranatura", age contra o próprio homem. Eis o que Nietzsche já havia nos mostrado. 

 Em outros termos, numa moral de renúncia total, o homem torna-se um ser cheio de imposturas e falsidades: eis porque a palavra empenhada e as promessas feitas serão em geral traídas ou cinicamente vividas (porque, no fundo, o homem não consegue e não pode abrir mão completamente dos seus desejos e paixões; ele apenas os viverá de modo hipócrita e atormentado). Se há algo que Nietzsche ensinou de superior a todos os outros filósofos é que tendo sido o próprio homem o criador de seus valores é sempre possível transfigurá-los, recriá-los. 

No fundo, a diferença capital entre Nietzsche e Jankélévitch é que se, para Jankélévitch, o homem vive anestesiado quando fecha os olhos para a moral que o constituiu, para Nietzsche, a moral acaba se convertendo no próprio anestesiamento do homem quando esses valores estão fundamentados em quimeras e falsos pressupostos. Regina Schöpke é filósofa, historiadora e atualmente faz pós-doutorado na Unicamp O Ensaio sobre a cegueira é uma crítica aos valores sociais, expondo o caos a que se chega quando a maioria da população cega. Revela traços da sociedade portuguesa contemporânea, vislumbrando a maneira como as pessoas vivem através de suas descrições das casas, dos utensílios, das roupas. 
As personagens não têm nomes, sendo descritas por características próprias – o primeiro cego, o médico, a mulher do primeiro cego, a rapariga de óculos, entre tantos outros que aparecem no desenrolar da narrativa, onde uma epidemia se alastra a partir de um homem que cega esperando o semáforo abrir. Inexplicável é a imunidade da mulher do médico, parecendo que sua bondade, sua preocupação com o marido, mesmo convivendo entre os cegos sem medo de cegar, a impede de contrair a moléstia. Mas a solidariedade da mulher do médico estende-se, ainda, àqueles de convívio mais estrito, sendo verdadeiro anjo de guarda dos que dividem com ela a enfermaria do hospício abandonado em que são confinados os primeiros a contrair o mal. De característica onisciente, a narrativa leva-nos a refletir sobre a moral, os costumes, a ética e o preconceito, pois faz com que a mulher do médico se depare com situações inadmissíveis às pessoas em condições normais. Exposta à sujeira, a uma existência miserável em todos os sentidos, ela mata para preservar a si e aos demais, e se depara com a morte de maneira bizarra após a saída do hospício: os cadáveres se espalham pelas ruas, o fogo fátuo aparece debaixo das portas do armazém onde, dias antes, ela buscou víveres.

 A igreja com os santos de olhos vendados pode ser caracterizada como um dos momentos poéticos da obra: se os céus não vêem, que ninguém veja, numa alusão velada às idéias do filósofo Friderich Nietzshe, "se deus está morto, então tudo posso". Saramago ainda brinca com a imaginação do leitor nas últimas linhas, deixando implícita a cegueira daquela que foi a única que viu em meio à treva branca, justamente no momento em que todos recuperam, aos poucos, a visão. 
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/6945/1/Analise-Da-Obra-Ensaio-Sobre-A-Cegueira-De-Jose-Saramago/pagina1.html#ixzz0wuLY98zV

  CEGUEIRA :Uma das coisas extremamente constrangedoras que tantos prejuízos traz ao homem é a cegueira. Muito já se falou sobre a grande utilidade dos olhos. Alguns poetas, para embelezar seus poemas, afirmam que “os olhos são as janelas da alma”. Não deixa de ser uma realidade. Ser cego é estar privado da contemplação de toda a beleza que permeia o universo, tais como: a beleza das flores; o esplendor do sol, tanto quando nasce como quando se põe no horizonte; a beleza do ser humano; o azul incomparável das águas dos oceanos e tantas outras belezas que contemplamos ao nosso redor. Quando assim falamos, estamos nos referindo à cegueira física, que nos impede de ver todo o universo que Deus criou. Nesta palavra, queremos chamar a atenção de todos para a maior e mais perigosa de todas as cegueiras, que é a cegueira moral. Nesse aspecto, temos muitos tipos de cegos. Temos aqueles que não querem ver; os que vêem as coisas e os fatos à luz de seus próprios conceitos e movidos por interesses muitas vezes mesquinhos; os que delimitam a sua visão dentro de um círculo previamente concebido e se firmam dentro dessa delimitação para se tornarem egocêntricos; os que vêem com a mente; os que enxergam com a emoção, com os sentimentos, com a razão, com preconceitos e com parcialidade. 

 A cegueira moral leva o homem ao indiferentismo, à ignorância dos fatos que o cercam, das necessidades que se avolumam e o levam ao desespero, à dor, à tortura mental, à angústia, à tristeza e, fatalmente, à morte. Como é bom se ter uma visão imparcial e amplificada de tudo o que nos cerca, relacionado com o ser humano; como é salutar enxergarmos as necessidades alheias e estendermos as mãos para o auxílio, para a ajuda, para levantarmos tantos que são destruídos pelo desconhecido. Como é maravilhoso vermos que os que nos cercam fazem parte de nossa vida e nos completam naquilo que nos falta. Ignorarmos os problemas alheios quando eles nos são visíveis e até palpáveis é atestarmos a nossa insanidade visual da realidade. Muitas vezes deixamos de atentar para os reclamos do nosso próximo e nos fechamos dentro de nosso comodismo. Deixamos de minimizar o sofrimento daqueles que fazem parte de nosso círculo familiar, profissional, religioso, tudo porque nos mantemos distantes, alheios, indiferentes, egoístas, avarentos, presunçosos .

Proposta: Moral? Dignidade? Só existem se pudermos vê-las com olhos cegos. Mentes claras não percebem nem moral, nem dignidade escusa e falsa. Tudo padece ao instinto de sobrevivência e tudo perece em frente à fome, ao sexo leviano, à hipocrisia, às virtudes e à violência física. Quem enxerga os outros? Numa sociedade que só tem feito aperfeiçoar os meios favoráveis ao culto do egocentrismo e do distanciamento, despida de solidariedade, de afeto, calcada na hostilidade e na agressividade territorial primitiva (mas que vem banhada por cintilâncias tecnológicas), o Outro só pode ser conhecido através da calamidade. A cegueira moral em que todos vivemos é o tema em discussão. 

  Para reflexão "... se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as conseqüências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que tanto se fala" Saramago- E.C. pg 84

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