sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Fuvest 2012 - Livros para você!



Alguns dias antes estava sossegado, preparando látegos, consertando cercas. De repente, um risco no céu, outros riscos, milhares de riscos juntos, nuvens, o medonho rumor de asas a anunciar destruição. Ele já andava meio desconfiado vendo as fontes minguarem. E olhava com desgosto a brancura das manhãs longas e a vermelhidão sinistra das tardes.

 O crítico Álvaro Lins, referindo-se a Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos, da qual se extraiu o trecho acima,afirma que, além de ser o mais humano e comovente dos livros do autor, é “o que contém maior sentimento da terra nordestina, daquela parte que é áspera, dura e cruel, sem deixar de ser amada pelos que a ela estão ligados teluricamente”. Por outro lado, merece destaque, dentre os elementos constitutivos dessa obra, a paisagem, a linguagem e o problema social.

1-Assim, a respeito da linguagem de Vidas Secas, é correto afirmar-se que

A) apresenta um estilo seco, conciso e sem sentimentalismo, o que retira da obra a força poética e impede a presença de características estéticas.
B) caracteriza-se por vocabulário erudito e próprio dos meios urbanos, marcado por estilo rebuscado e grandiloquente.
C) revela um estilo seco, de frase contida, clara e correta, reduzida ao essencial e com vocabulário meticuloso.
D) apresenta grande poder descritivo e capacidade de visualização, mas apóia-se em sintaxe marcada por períodos longos e de estrutura subordinativa, o que prejudica sua compreensão.
E) marca-se por estilo frouxo e sintaxe desconexa, à semelhança da própria estrutura da novela que se constrói de capítulos soltos e ordenação circular.

Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos; foram os dous morar juntos; e daí a um
mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho,formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamentede tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.

2--O trecho acima integra o romance Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida Considerando o romance como um todo, indique a alternativa que contém informações que não são pertinentes a essa obra.
A) É classificado como romance folhetinesco, e foi publicado em capítulos no jornal carioca Correio Mercantil entre 1852 e 1853.
B) Segundo alguns críticos, pode ser considerado precursor do movimento realista, por causa da forma com caracteriza o cotidiano dos personagens, moradores dos bairros populares do Rio de Janeiro.
C) É considerado como o romance da malandragem, narrado em terceira pessoa e inteiramente aclimatado n tempo em que D. João VI governou o Brasil.
D) É considerado um romance picaresco, por causa das ações de seu herói principal, e plenamente identificado com o ideário romântico vigente na literatura da época.
E) Prende-se ao Romantismo brasileiro, ainda que apresente um certo descompasso com os padrões e o toda estética romântica.

Fiquei tão alegre com esta idéia, que ainda agora me treme a pena na mão. Sim, Nero, Augusto, Massinissa,
e tu, grande César, que me incitas a fazer os meus comentários, agradeço-vos o conselho, e vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindo. Deste modo, viverei o que vivi, e assentarei a mão para alguma obra de maior tomo. Eia, comecemos a evocação por uma célebre tarde de novembro, que nunca me esqueceu. Tive outras muitas, melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou do espírito. É o que vais entender, lendo.

3-O trecho acima é do romance Dom Casmurro, escrito por Machado de Assis. Nele, o narrador propõe-se a escrever suas reminiscências e, assim, viver o que viveu. A evocação da célebre tarde a que o narrador se refere e que nunca se lhe apagou do espírito liga-se

A) à efetiva presença e participação de Bentinho na conversa da família que decide seu destino futuro.
B) ao alerta de José Dias a D. Glória quanto ao cumprimento da promessa de tornar Bentinho padre.
C) ao destino e à felicidade de Bentinho, preparando-o para o casamento com Capitu.
D) à reunião da família para acertar a viagem de Bentinho e de José Dias à Europa, como forma de desviá-lo
da sedução de Capitu.
E) às ações de D. Glória para preservar a memória da família, ao tentar ligar as duas pontas da vida, propos-
ta esta retomada pelo narrador no início do romance.

Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que... Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. (Machado de Assis, Dom Casmurro.)

4. No texto de Sabino, o narrador questiona a traição de Capitu. Lendo o texto de Machado, pode-se entender que esse questionamento decorre de
A) os fatos serem narrados pela visão de uma personagem, no caso, o narrador em primeira pessoa, que fornece ao leitor o perfil psicológico de Capitu.
B) a personagem ser vista por José Dias como oblíqua e dissimulada, o que gerou mal-estar no apaixonado de
Capitu, deixando de vê-la como uma mulher de encantos.
C) a apresentação da personagem Capitu ser feita no romance de maneira muito objetiva, sem expressão dos
sentimentos que a vinculavam ao homem que a amava.
D) os aspectos psicológicos de Capitu serem apresentados apenas pelos comentários de José Dias, o que lhe torna a caracterização muito subjetiva.
E) o amado de Capitu não conseguir enxergar nela características mais precisas e menos misteriosas, o que o faz descrevê-la de forma bastante idealizada.

5-. Ao afirmar que Capitu tinha olhos de cigana oblíqua, José Dias a vê como uma mulher
A) irresistível.
B) inconveniente.
C) compreensiva.
D) evasiva.
E) irônica
 6-. Para o narrador, os olhos de Capitu eram olhos de ressaca, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Entende-se, então, que ele
A) começava a nutrir sentimento de repulsa em relação a ela, como está sugerido em [seus olhos] entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...
B) se sentia fortemente atraído por ela, como comprova o trecho: Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro...
C) passou a desconfiar da sinceridade dela, como está exposto em: mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim.
D) começava a vê-la como uma mulher comum, sem atrativos especiais, como demonstra o trecho: eu nada achei extraordinário...
E) deixava de vê-la como uma mulher enigmática, como está sugerido em: Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova.

Gabarito:   1- c    /    2- d    /    3- b    /    4-a    /     5- d    /   6- b

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