quarta-feira, 27 de maio de 2015

Escravos do celular- ENEM 2015



REDAÇÃO


PROPOSTA :
Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema, 
ESCRAVOS DO CELULAR
apresentando proposta de conscientização social que respeite os direitos humanos.
Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.


Eles roubam nosso tempo, atrapalham os relacionamentos e podem até causar acidentes de trânsito. Quando é a hora de desligar? 


1-
Do mesmo jeito que ganhamos tempo, o celular começa a exigi-lo para coisas que antes não fazíamos./Por Braulio Tavares, escritor e compositor)

Vi uma matéria curiosa, há pouco tempo, sobre os hábitos dos frequentadores de restaurantes. O dono de um restaurante encontrou vídeos de cerca de dez anos atrás, filmados por câmera de segurança. Os vídeos registravam todo o movimento das mesas, desde a abertura da casa até a saída do último freguês. Para fazer um estudo da dinâmica do trabalho, tempo de atendimento etc., o dono do restaurante fez uma comparação entre o vídeo de dez anos atrás e um de hoje.

A primeira coisa que lhe chamou a atenção foi que, embora a quantidade de pratos consumidos e a quantia de dinheiro gasto (proporcionalmente) continuassem as mesmas, as pessoas passavam o dobro do tempo no restaurante. Daí a queda de faturamento, que ele não sabia a que atribuir. Mas percebeu que, se dez anos atrás um grupo de seis pessoas passava uma hora e meia para almoçar, esse tempo chegava hoje a duas e meia, quase três horas, com aproximadamente o mesmo consumo de comida.

Ele constatou que, antes, as pessoas sentavam, pediam o cardápio, conversavam um pouco, faziam os pedidos etc. Hoje em dia é diferente. A primeira meia hora de atendimento mostrava as pessoas com os cardápios abertos à sua frente, mas concentradas nos seus celulares, lendo e digitando mensagens.  Quando, finalmente, os pedidos eram atendidos e a comida chegava, a maioria das pessoas fotografava os pratos e começava a compor mensagens. Com isso se distraíam e muitas vezes os pratos eram devolvidos aos garçons para ser novamente aquecidos. No fim da refeição, havia mais um longo período de tempo em que os garçons eram solicitados a fazer fotos sucessivas do grupo, com o celular de cada um.
                                                                                                                                        O celular/correio/câmera fotográfica veio para ampliar nossa vida, e ampliar não quer dizer necessariamente facilitar. Do mesmo jeito que ganhamos tempo de um lado, o celular começa também a exigi -lo para coisas que antes não fazíamos. E numa sociedade que já foi chamada “a civilização dos Narcisos”, o celular é um veículo excelente para o exibicionismo, para a comunicação instantânea de “o que estou comendo”, para os selfies com gente famosa encontrada nos aeroportos ou nos clubes.

Somos a geração mais bem documentada da História. Somando a presença de celulares, tablets etc. e a disponibilidade das redes sociais, estamos participando do maior experimento sociológico de todos os tempos. Nunca se reuniu tanta informação voluntariamente fornecida sobre os hábitos sociais de uma população. Talvez, no futuro, digam que a História, para valer, começou no tempo de hoje.

2-
Somos 21 milhões – número de brasileiros com mais de 15 anos que têm smartphones, os celulares que fazem muito mais que falar. Com eles, trocamos e-mails, usamos programas de GPS e navegamos em redes sociais. O tempo todo. Observe a seu redor. Em qualquer situação, as pessoas param, olham a tela do celular, dedilham uma mensagem. Enquanto conversam. Enquanto namoram. Enquanto participam de uma reunião. E – pior de tudo – até mesmo enquanto dirigem.
“É uma dependência difícil de eliminar”, diz o psiquiatra americano David Greenfield, diretor do Centro para Tratamento de Vício em Internet e Tecnologia, na cidade de West Hartford. “Nosso cérebro se acostuma a receber essas novidades constantemente e passa a procurar por elas a todo instante.” O pai de todos os vícios, claro, é o Facebook, maior rede social do mundo, onde publicamos notícias sobre nós mesmos como se alimentássemos um grande jornal coletivo sobre a vida cotidiana. Depois dele, novas redes foram criadas e apertaram o nó da dependência. 
(...)
Ninguém defenderá a volta a um mundo antigo, sem os confortos do mundo digital – até porque, de um ponto de vista puramente pragmático, isso é impossível. Mas é inegável que as novas tecnologias despertam novos padrões de comportamento e exigem profundas mudanças de hábito, para que cada indivíduo aprenda a conviver com elas de modo saudável. Os smartphones se tornaram ferramentas essenciais para a agilidade e a presteza, hoje tão necessárias para garantir os níveis de produtividade exigidos na economia moderna. Mas não podemos nos tornar escravos deles. É preciso saber a hora de desligar. E fazê-lo sem medo, sem sentimento de culpa e com a certeza de que somos nós – seres humanos – que devemos comandar as máquinas. E não o contrário.
Revista Época



Nenhum comentário:

Postar um comentário