quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Enem 2104- A Comissão da Verdade...é de verdade?



No ano de 2012, o Governo Federal nomeou um grupo de juristas e professores incumbidos de integrar a chamada Comissão da Verdade. Tal comissão tem por objetivo realizar investigações sobre os vários crimes cometidos pelo Estado brasileiro entre os anos de 1937 e 1985.  Nesse recorte temporal há interesse especial em buscar os crimes que aconteceram nos dois regimes ditatoriais desse período: o Estado Novo, criado no governo de Getúlio Vargas entre 1937 e 1945, e a Ditadura Militar, ocorrida entre 1964 e 1985.
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Depois de muita expectativa – e com grande exposição na mídia –, foi constituída comissão para “resgatar a verdade histórica” de um período de 42 anos da vida política nacional, objetivando, fundamentalmente, detectar os casos de tortura na luta pelo poder. A História é contada por historiadores, que têm postura imparcial ao examinar os fatos que a conformaram, visto serem cientistas dedicados à análise do passado. Os que ambicionam o poder fazem a História, mas, por dela participarem, não têm a imparcialidade necessária para reproduzi-la.
A Comissão da Verdade não conta, em sua composição, com nenhum historiador capaz de apurar, com rigor científico, a verdade histórica da tortura no Brasil, de 1946 a 1988. O primeiro reparo, portanto, que faço à sua constituição é o de que “não historiadores” foram encarregados de contar a História daquele período. Conheço seis dos sete membros da comissão e tenho por eles grande respeito, além de amizade com alguns. Não possuem, no entanto, a qualificação científica para o trabalho que lhes foi atribuído.
O segundo reparo é que estiveram envolvidos com os acontecimentos daquele período. Em debate com o ex-deputado Ayrton Soares, perguntou-me o amigo e colega – que defendia a constituição de comissão para essa finalidade, enquanto eu não via necessidade de sua criação – se eu participaria dela, se fosse convidado. Disse-lhe que não, pois, apesar de ser membro da Academia Paulista de História, estive envolvido nos acontecimentos.
O terceiro reparo é que alguns de seus membros pretendem que a verdade seja seletiva. Tortura praticada por guerrilheiro não será apurada, só a que tenha sido levada a efeito por militares e agentes públicos. O que vale dizer: lança-se a imparcialidade para o espaço, dando a impressão de que guerrilheiro, quando tortura, pratica um ato sagrado; já os militares,
um ato demoníaco.
O quarto reparo é que muitos guerrilheiros foram treinados em Cuba, pela mais sangrenta ditadura das Américas no século 20. Um bom número de guerrilheiros não queria, pois, a democracia, mas uma ditadura à moda cubana. Radicalizaram o processo de redemocratização a tal ponto que a imprensa passou a ser permanentemente censurada. Estou convencido de que esse radicalismo e os ideais da ditadura cubana que o inspiraram apenas atrasaram o processo de redemocratização e dificultaram uma solução acordada e não sangrenta.
O quinto aspecto que me parece importante destacar é que, a meu ver, a redemocratização se deveu ao trabalho da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que se tornou a voz e os pulmões da sociedade. Por fim, num país que deveria olhar para o futuro, em vez de remoer o passado – tese que levou guerrilheiros, advogados e o próprio governo militar a acordarem a Lei da Anistia, colocando uma pedra sobre aqueles tempos conturbados –, a comissão é inoportuna. Parafraseando Vicente Rao, esta volta ao pretérito parece ser contra o “sistema da natureza, pois para o tempo que já se foi, fará reviver as nossas dores, sem nos restituir nossas esperanças”.
(Ives Gandra Silva Martins. A Comissão da Verdade e a verdade histórica. www.estadao.com.br. Adaptado.)

 2- 21/08/2013 19h31 - Atualizado em 21/08/2013 19h41 (G1-Rio)
Exército proíbe entrada da Comissão da Verdade no antigo DOI-Codi, no Rio

Grupo pede tombamento do local, onde presos políticos foram torturados.
Comando Militar do Leste diz que não há 'respaldo legal' para diligências ali.
                                                              
Membros da Comissão Estadual da Verdade, que investigam ações de agentes oficiais contra civis durante a ditadura militar (entre os anos 60 e 80), foram impedidos de voltar ao local onde foram torturados. Em visita ao antigo DOI-Codi, atual Prédio do Exército, na Tijuca, Zona Norte do Rio, um grupo de dez pessoas teve a entrada proibida pelo Comando Militar do Leste, nesta quarta-feira (21). Segundo o órgão, não há respaldo legal para fazer diligência em área administrada pelo Poder Executivo Federal. Wadih Damous, presidente da Comissão, diz que a negativa é inconstitucional.
A Comissão pede o tombamento do local e quer criar ali um Centro de Memória semelhante aos que foram criados em São Paulo e em Buenos Aires, na Argentina. Depoimentos de quem passou pelas celas do extinto DOI-Codi relatam espancamentos, choques elétricos e afogamentos.
Naquele endereço, o ex-deputado federal Rubens Paiva ficou preso, segundo documentos do Arquivo Nacional. Até hoje ele é considerado desaparecido. Para membros da Comissão, não há duvidas de que ele foi assassinado nas instalações do exército.
Presidente Nacional do PSOL, Ivan Valente integra a comissão e também diz que foi torturado no local. Em entrevista ao RJTV, ele criticou a proibição da visita. "O exército ainda não tem democracia para permitir a revisão histórica da sua atuação, então eles estão protelando", disse.


Proposta
Uma primeira lista de crimes foi produzida pela Comissão da Anistia e pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, que contabilizou mais de 450 incidentes. Uma segunda foi organizada pela Secretaria de Direitos Humanos e cita 370 vítimas. Por fim, ainda há 119 vítimas que surgiram por denúncias diversas. Mesmo não tendo função punitiva, a Comissão será bastante importante para revelar uma série de ações que marcaram essa época. 
Os militares são forte obstáculo a isso. O comportamento dos militares na cerimônia de sanção da lei que criou a Comissão da Verdade… Via-se claramente  a contrariedade no semblante dos chefes militares, ficaram à parte, não participaram do clima festivo de saudação da comissão. Então a falta de mobilização, de sensibilização popular e os comandos militares são fortes obstáculos para que comissões da verdade se afirmem aqui no Brasil.
Redija um texto dissertativo-argumentativo sobre: Comissão da verdade: o resgate histórico é o primeiro passo para romper pacto de impunidade ?

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