terça-feira, 2 de agosto de 2011

De olho no ENEM... Trote, uma prática medieval.

A porta dos fundos do ensino “superior”


Primeiro contato de muitos jovens com a faculdade começa com trotes violentos e humilhantes. O que esperar depois? 

Todos os anos, nesta época, a triste cena se repete em dezenas de universidades. Calouros chamados de bichos são agredidos e obrigados a cumprir ordens de veteranos alterados e histéricos. Por vezes alguns desses novos universitários enfrentam situações ainda mais graves sofrendo traumas psicológicos, ferimentos e nos casos extremos, até mesmo a morte.
O mais comum é vermos jovens cobertos de tinta pedindo dinheiro nos cruzamentos para a compra de bebidas alcoólicas. As pessoas, com algumas poucas exceções, observam esse espetáculo, mais parecido com um circo de horrores, com complacência e mesmo simpatia. Claro, diriam muitos deles, são jovens comemorando um momento especial de suas vidas. Será mesmo?


Então, vejam abaixo algumas das manchetes de imprensa selecionadas aleatoriamente nas duas últimas semanas:
- Trotes com álcool levam calouros a posto médico;
- Faculdade é criticada por trote violento;
- Trote teve direito a desfile de “bixetes” sobre passarela de calouros;
- Universidade investiga trote com fezes de animal e urina;
- Três calouros são internados em coma alcoólico após trote.
(Tomei o cuidado de não citar os estabelecimentos e as cidades, pois fiz apenas um apanhado sem qualquer pretensão estatística, só ilustrativa).
Bem, diante desses fatos fartamente divulgados pelos veículos de comunicação, proponho uma reflexão:
O que esperar do futuro desses jovens? Qual a responsabilidade desses estabelecimentos ditos de ensino superior?


Os administradores dessas faculdades e universidades costumam fazer vistas grossas aos trotes. A alegação mais comum é de que não é possível controlar a ação dos estudantes que ocorrem em pontos diversos, muitas vezes fora do estabelecimento de ensino.
Lavar as mãos não parece ser a atitude correta de dirigentes universitários responsáveis pela formação das futuras lideranças do país. É preciso romper esse círculo vicioso e gratuito, e criar junto com seus estudantes, familiares e funcionários, alternativas mais amigáveis e construtivas.
Esses mesmos gestores, que nada fazem diante de casos de trotes violentos, deveriam refletir se estão realmente contribuindo para a formação de homens e mulheres aptos a construir um mundo melhor para se viver. Algo tão marcante para um jovem, que é o ingresso numa faculdade, não deveria ocorrer de uma maneira mais positiva e gratificante a ser lembrado pelo resto de suas vidas?
Ao permitir atos de barbárie logo na porta de entrada, dirigentes omissos, nada estarão contribuindo para a disseminação de valores como ética, respeito, solidariedade e compromisso com o futuro. Pelo contrário, estarão prestando seu apoio, mesmo que involuntário, a um mundo em que prevalece a prepotência, a selvageria e a truculência. Esse calouro maltratado, fatalmente tenderá, a reproduzir os mesmos atos nos anos seguintes.
A faculdade tem a obrigação de criar um ambiente propício ao desenvolvimento de seus estudantes.  É um tempo e espaço preciosos na vida dos jovens que deve ser bem aproveitado para a troca de experiências e enriquecimento pessoal.


Enxergar a importância da universidade
Mas se as faculdades possuem responsabilidades inerentes à formação e educação de seus alunos, estes por sua vez também devem assumir um compromisso junto à sociedade que representam.
Segundo dados do MEC, o Brasil possui 5 milhões de estudantes universitários, sendo que a esmagadora maioria, ou 90% cursam faculdades particulares.  No universo  populacional de quase 200 milhões de habitantes essa classe  com representação menor que 3% pode ser considerada a elite da elite ou como diriam os franceses .
Um jovem que tem a oportunidade de cursar uma universidade precisa ter em mente a responsabilidade de integrar um seleto grupo de privilegiados. Uma elite que deveria pensar e trabalhar pela construção de um Brasil melhor para o seu povo.
O desafio vai além de enxergar a faculdade como um mero caminho para se alcançar o mercado de trabalho. É preciso ser um profissional preparado a desempenhar habilidades técnicas, mas também repleto de valores fundamentais para o exercício de uma vida saudável em sociedade. Princípios éticos, solidários, livres de preconceito e com um olhar apurado para o respeito aos direitos das pessoas. Enfim, jovens com sólida formação humana e intelectual capazes de reverter em benefício de toda a sociedade, a confiança neles depositada.


Trotes solidários para o início de um processo de mudança
Uma maneira de romper com esse ciclo de inércia é exatamente colocar nossos jovens na linha de frente do voluntariado. Nesse sentido, as universidades deveriam criar condições e incentivar estudantes, por meio de palestras, eventos e programas específicos que envolvam atividades de cunho social e ambiental. Conhecer e colaborar com as diversas realidades que compõem o nosso país.  Valores como cidadania, solidariedade e tolerância poderiam ser cultivados, inclusive, logo na entrada desses estudantes na universidade. Essas ações poderiam muito bem substituir os trotes medíocres e sem sentido.
É preciso mudar essa rota e desde já trilhar o caminho da construção de uma nova visão.  Uma visão de sustentabilidade onde todos atuam e todos ganham, sejam eles estudantes, trabalhadores ou empresários.  A Sociedade brasileira, com certeza, irá agradecer e recompensar essa nova elite mais comprometida com o futuro do país.

CARTA CAPITAL
Reinaldo Canto 24 de fevereiro de 2011

As primeiras universidades surgiram na Europa em plena Idade Média. Foram um sopro de liberdade. Permitiram progressivamente ao homem atuar segundo a razão, em vez de apenas obedecer a dogmas. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que nasciam os centros de estudo, surgia uma instituição muito mais tributária da ideia que hoje fazemos da "Idade das Trevas": o trote. Os primeiros registros da prática datam do início do século XIV. Calouros da região correspondente à moderna Alemanha eram obrigados a andar nus e ingerir fezes de animais mediante a promessa de que poderiam se vingar nos novatos do ano seguinte. "Os alunos veteranos descontavam nos mais novos a repressão promovida em sala de aula por professores rigorosos", afirma Antônio Zuin, professor do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e autor do livro O Trote na Universidade: Passagens de um Rito de Iniciação.
Neste ano, por exemplo, uma tropa de veteranos da Universidade de Brasília (UnB) exibiu sua porção medieval ao obrigar calouras a simular sexo oral com uma linguiça envolta numa camisinha e embebida em leite condensado. Americanos e franceses, entre outros, também tem motivos para lamentar. Lá, como aqui, o trote persiste, preocupa e escapa do controle.

Thiago Queirós/
www.unb.br/noticias/unbagencia/cpmod.php?id=84781


Proposta

Instituições tentam implementar programas de "boas-vindas aos calouros", mas ainda falham em coibir agressões e humilhações. Antonio Ribeiro de Almeida Júnior, professor de sociologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) e autor do livro Universidade, Preconceito e Trote diz:A proibição por si só não funciona. É preciso punir aqueles que desrespeitam a norma. O problema é que normalmente as universidades se restringem a abrir inquéritos, mas ninguém é punido".                                                 

Trote, uma prática medieval que desafia as universidades.

Redija um texto dissertativo sobre o tema proposto, utilizando a norma culta. Dê título a seu texto.


Atualização :


22/03/2013 - 12h52 / Atualizada 25/03/2013 - 13h31

 

UFRGS irá investigar trote com cabeça de porco e vísceras de peixe

Do UOL, em Porto Alegre

Na última sexta-feira (15), calouros da faculdade de engenharia civil da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) participaram de trote envolvendo uma cabeça de porco, vísceras de peixe e ovos podres. Imagens do trote foram parar na internet e geraram repercussão negativa.
(...)

Sem violência física

A nota emitida pela universidade afirma que a recepção aos calouros, apesar de constrangedora, não utilizou violência física. "Os comportamentos inapropriados até o momento detectado no caso em questão, que envolvem o desnecessário uso de carcaças e vísceras de animais, apesar de sanitariamente inadequados e ambientalmente incorretos, não se comparam ao ocorrido em outras universidades, sendo muito mais um fruto da imaturidade do que de ações de posturas politicamente incorretas."


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“Trote racista na UFMG incita discriminação e preconceito”

 20 de março de 2013 às 1:02
                          
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apura se houve excessos por parte de estudantes em um trote promovido dentro Faculdade de Direito na última semana. Imagens do evento foram divulgadas nesta segunda-feira e já causaram polêmica nas redes sociais. Internautas ficaram revoltados com algumas fotos que mostram atos racistas durante a ação. Uma reunião extraordinária foi convocada para esta terça-feira pelo Centro Acadêmico Afonso Pena. 

Em uma das fotos, uma jovem aparece acorrentada e pintada com tinta preta. Em seu pescoço foi pendurada uma placa com o nome de "Chica da Silva", fazendo alusão a escrava que viveu em Diamantina, na Região Central de Minas Gerais, e que ganhou a alforria depois de se envolver amorosamente com um contador famoso no século 18. Uma segunda fotografia, mostra um calouro amarrado a uma pilastra e outros estudantes fazendo saudações nazistas. Entre os veteranos, um jovem ainda utiliza bigode semelhante ao do ditador Adolf Hitler (1889 -1945). 


Em nota, reitoria repudia ato contra calouros.


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