Gêneros Literários são muitos, mas quais deles são os mais prováveis para a prova?
E quem sabe?
Depois que a Unicamp escolheu "verbete", tudo é possível. Assim, vamos procurar sanar algumas dúvidas pertinentes às modalidades de textos.
O
RELATO PESSOAL
O gênero relato, ou relato pessoal, faz parte do domínio social da
comunicação. Podendo ser oral ou escrito, ele parte do princípio de que há um emissor e um interlocutor. Nesse gênero,
relatamos, basicamente, experiências vividas no passado – que pode ser ontem, no
mês passado, ou há alguns anos – contanto que seja no passado. Para isso, os verbos devem ser empregados
no pretérito.
Mas, se no relato, “contamos” algo que ocorreu no
passado, qual é a diferença dele para o gênero narrativo? A resposta é: além
de, no gênero narrativo,
ser possível escrever no presente, o relato sempre prioriza as ações.
1-Estrutura:
Relato Oral: há nele liberdade de criação, pode-se
interrompê-lo e improvisar, gerando interação com o interlocutor.
Relato Escrito: utiliza-se de recursos discursivos de
articulação/ coesão ( conjunções, pronomes, pontuação ,etc. ). No relato
escrito usa-se formalismo.
2-Contextualização:
“Causos”: relatos orais,típicos de cidades
interioranas, são histórias enriquecidas pela habilidade de quem as conta.
Boletim de ocorrência: dados específicos coletados por
investigadores, em geral, em acidentes de trânsito.
Importante : Alguns tipos
de B.O., atualmente, são registrados
pela internet –Delegacia Eletrônica - em formulários específicos criados com a
finalidade de agilizar o sistema de
investigação.
“Contos e romances” abrigam relatos quando personagens
narram situações específicas.
3- Interlocutores do relato:
Dependendo de
quem são, admite-se informalidade relativa, por exemplo, quando relatamos algo a nossos amigos. Ou ainda,
quando os relatos visam um público jovem como o das revistas para adolescentes:
Todateen, Capricho e outras.
O B.O. deve
ter linguagem formal, porque destina-se a um interlocutor específico, o
policial.
EXEMPLO DE RELATO PESSOAL :
MINHA PRIMEIRA PROFESSORA
A primeira presença em meu aprendizado
escolar que me causou impacto, e causa até hoje, foi uma jovem professorinha. É
claro que eu uso esse termo, professorinha, com muito afeto. Chamava-se Eunice
Vasconcelos (1909-1977), e foi com ela que eu aprendi a fazer o que ela chamava
de "sentenças".
Eu já sabia ler e escrever quando
cheguei à escolinha particular de Eunice, aos 6 anos. Era, portanto, a década
de 20. Eu havia sido alfabetizado em casa, por minha mãe e meu pai, durante uma
infância marcada por dificuldades financeiras, mas também por muita harmonia
familiar. Minha alfabetização não me foi nada enfadonha, porque partiu de
palavras e frases ligadas à minha experiência, escritas com gravetos no chão de
terra do quintal.
Não houve ruptura alguma entre o novo
mundo que era a escolinha de Eunice e o mundo das minhas primeiras experiências
- o de minha velha casa do Recife, onde nasci, com suas salas, seu terraço, seu
quintal cheio de árvores frondosas. A minha alegria de viver, que me marca até
hoje, se transferia de casa para a escola, ainda que cada uma tivesse suas
características especiais. Isso porque a escola de Eunice não me amedrontava,
não tolhia minha curiosidade.
Quando Eunice me ensinou era uma
meninota, uma jovenzinha de seus 16, 17 anos. Sem que eu ainda percebesse, ela
me fez o primeiro chamamento com relação a uma indiscutível amorosidade que eu
tenho hoje, e desde há muito tempo, pelos problemas da linguagem e
particularmente os da linguagem brasileira, a chamada língua portuguesa no
Brasil. Ela com certeza não me disse, mas é como se tivesse dito a mim, ainda
criança pequena: "Paulo, repara bem como é bonita a maneira que a gente
tem de falar!..." É como se ela me tivesse chamado.
Eu me entregava com prazer à tarefa de
"formar sentenças". Era assim que ela costumava dizer. Eunice me
pedia que colocasse numa folha de papel tantas palavras quantas eu conhecesse.
Eu ia dando forma às sentenças com essas palavras que eu escolhia e escrevia.
Então, Eunice debatia comigo o sentido, a significação de cada uma.
Fui criando naturalmente uma intimidade
e um gosto com as ocorrências da língua - os verbos, seus modos, seus tempos...
A professorinha só intervinha quando eu me via em dificuldade, mas nunca teve a
preocupação de me fazer decorar regras gramaticais.
Mais tarde ficamos amigos. Mantive um
contato próximo com ela, sua família, sua irmã Débora, até o golpe de 1964. Eu
fui para o exílio e, de lá, me correspondia com Eunice. Tenho impressão de que
durante dois anos ou três mandei cartas para ela. Eunice ficava muito contente.
Não se casou. Talvez isso tenha alguma
relação com a abnegação, a amorosidade que a gente tem pela docência. E talvez
ela tenha agido um pouco como eu: ao fazer a docência o meio da minha vida, eu
termino transformando a docência no fim da minha vida.
Eunice foi professora do Estado, se
aposentou, levou uma vida bem normal. Depois morreu, em 1977, eu ainda no
exílio. Hoje, a presença dela são saudades, são lembranças vivas. Me faz até
lembrar daquela música antiga, do Ataulfo Alves: "Ai, que saudade da
professorinha, que me ensinou o bê-á-bá'
(Paulo
Freire, publicado pela Revista Nova Escola em dezembro de
1994).
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