Alguns dias antes estava sossegado,
preparando látegos, consertando cercas. De repente, um risco no céu, outros
riscos, milhares de riscos juntos, nuvens, o medonho rumor de asas a anunciar
destruição. Ele já andava meio desconfiado vendo as fontes minguarem. E olhava
com desgosto a brancura das manhãs longas e a vermelhidão sinistra das tardes.
O crítico
Álvaro Lins, referindo-se a Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos, da qual se
extraiu o trecho acima,afirma que, além de ser o mais humano e comovente dos
livros do autor, é “o que contém maior sentimento da terra nordestina, daquela
parte que é áspera, dura e cruel, sem deixar de ser amada pelos que a ela estão
ligados teluricamente”. Por outro lado, merece destaque, dentre os elementos constitutivos
dessa obra, a paisagem, a linguagem e o problema social.
1-Assim, a
respeito da linguagem de Vidas Secas, é correto afirmar-se que
A)
apresenta um estilo seco, conciso e sem sentimentalismo, o que retira da obra a
força poética e impede a presença de características estéticas.
B)
caracteriza-se por vocabulário erudito e próprio dos meios urbanos, marcado por
estilo rebuscado e grandiloquente.
C) revela
um estilo seco, de frase contida, clara e correta, reduzida ao essencial e com
vocabulário meticuloso.
D)
apresenta grande poder descritivo e capacidade de visualização, mas apóia-se em
sintaxe marcada por períodos longos e de estrutura subordinativa, o que
prejudica sua compreensão.
E)
marca-se por estilo frouxo e sintaxe desconexa, à semelhança da própria estrutura
da novela que se constrói de capítulos soltos e ordenação circular.
Quando saltaram em terra começou a
Maria a sentir certos enojos; foram os dous morar juntos; e daí a um
mês manifestaram-se claramente os
efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho,formidável menino de quase três
palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou
duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamentede tudo o que temos dito o que mais
nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.
2--O
trecho acima integra o romance Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel
Antônio de Almeida Considerando o romance como um todo, indique a alternativa
que contém informações que não são pertinentes a essa obra.
A) É
classificado como romance folhetinesco, e foi publicado em capítulos no jornal
carioca Correio Mercantil entre 1852 e 1853.
B) Segundo
alguns críticos, pode ser considerado precursor do movimento realista, por
causa da forma com caracteriza o cotidiano dos personagens, moradores dos
bairros populares do Rio de Janeiro.
C) É
considerado como o romance da malandragem, narrado em terceira pessoa e
inteiramente aclimatado n tempo em que D. João VI governou o Brasil.
D) É
considerado um romance picaresco, por causa das ações de seu herói principal, e
plenamente identificado com o ideário romântico vigente na literatura da época.
E)
Prende-se ao Romantismo brasileiro, ainda que apresente um certo descompasso
com os padrões e o toda estética romântica.
Fiquei tão alegre com esta idéia,
que ainda agora me treme a pena na mão. Sim, Nero, Augusto, Massinissa,
e tu, grande César, que me incitas
a fazer os meus comentários, agradeço-vos o conselho, e vou deitar ao papel as
reminiscências que me vierem vindo. Deste modo, viverei o que vivi, e
assentarei a mão para alguma obra de maior tomo. Eia, comecemos a evocação por
uma célebre tarde de novembro, que nunca me esqueceu. Tive outras muitas,
melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou do espírito. É o que vais
entender, lendo.
3-O trecho
acima é do romance Dom Casmurro, escrito por Machado de Assis. Nele, o narrador
propõe-se a escrever suas reminiscências e, assim, viver o que viveu. A
evocação da célebre tarde a que o narrador se refere e que nunca se lhe apagou
do espírito liga-se
A) à
efetiva presença e participação de Bentinho na conversa da família que decide
seu destino futuro.
B) ao
alerta de José Dias a D. Glória quanto ao cumprimento da promessa de tornar
Bentinho padre.
C) ao
destino e à felicidade de Bentinho, preparando-o para o casamento com Capitu.
D) à
reunião da família para acertar a viagem de Bentinho e de José Dias à Europa,
como forma de desviá-lo
da sedução
de Capitu.
E) às
ações de D. Glória para preservar a memória da família, ao tentar ligar as duas
pontas da vida, propos-
ta esta
retomada pelo narrador no início do romance.
Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos
de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas
dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim. Capitu deixou-se
fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei
extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da
contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um
pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados
neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios,
com tal expressão que... Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética
para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de
dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos
de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam
não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como
a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. (Machado de Assis, Dom
Casmurro.)
4. No texto de Sabino, o
narrador questiona a traição de Capitu. Lendo o texto de Machado, pode-se
entender que esse questionamento decorre de
A) os fatos serem
narrados pela visão de uma personagem, no caso, o narrador em primeira pessoa,
que fornece ao leitor o perfil
psicológico de Capitu.
B) a personagem ser
vista por José Dias como oblíqua e dissimulada, o que gerou mal-estar no
apaixonado de
Capitu, deixando de
vê-la como uma mulher de encantos.
C) a apresentação da
personagem Capitu ser feita no romance de maneira muito objetiva, sem expressão
dos
sentimentos que a
vinculavam ao homem que a amava.
D) os aspectos
psicológicos de Capitu serem apresentados apenas pelos comentários de José
Dias, o que lhe torna a caracterização muito
subjetiva.
E) o amado de Capitu
não conseguir enxergar nela características mais precisas e menos misteriosas,
o que o faz descrevê-la de forma
bastante idealizada.
5-. Ao afirmar que Capitu
tinha olhos de cigana oblíqua, José Dias a vê como uma mulher
B) inconveniente.
C) compreensiva.
D) evasiva.
E) irônica
A) começava a nutrir
sentimento de repulsa em relação a ela, como está sugerido em [seus olhos] entrassem
a ficar crescidos, crescidos
e sombrios, com tal expressão que...
B) se sentia
fortemente atraído por ela, como comprova o trecho: Traziam não sei que
fluido misterioso e enérgico, uma força que
arrastava para dentro...
C) passou a
desconfiar da sinceridade dela, como está exposto em: mas dissimulada sabia,
e queria ver se se podiam chamar assim.
D) começava a vê-la
como uma mulher comum, sem atrativos especiais, como demonstra o trecho: eu
nada achei extraordinário...
E) deixava de vê-la
como uma mulher enigmática, como está sugerido em: Olhos de ressaca? Vá, de
ressaca. É o que me dá idéia
daquela feição nova.
Gabarito: 1- c / 2- d / 3- b / 4-a / 5- d / 6- b
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